terça-feira, 30 de novembro de 2010

Dia 65 – O diagnóstico

Capítulo 9 – A volta ao lar: O retorno ao próprio Self

Conto: Pele de Foca, Pele da Alma
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A perda da pele

Quando li o conto ‘Pele de foca, pele de alma’, me lembrei perfeitamente das minhas aulas de biologia do colégio. Segundo meu professor, a pele foi uma das coisas mais importantes que possibilitou que os animais conquistassem o meio terrestre. É a pele que permite que a gente se separe do mundo externo, mantendo a nossa constituição química e biológica interna. É ela que nos protege das agressões do clima. A pele é o filtro entre a gente e o mundo: nossas bilhões de terminações nervosas permitem que a gente sinta a temperatura, o toque e as texturas das coisas. Sem ela nós morreríamos desidratados em questão de minutos.

Fazendo um paralelo com o que representa a pele no conto, não poderiam ter escolhido uma simbologia melhor. A pele ‘da alma’ é aquilo que faz com que a gente permaneça com nossos valores e princípios internos, que separa a nossa individualidade das outras, que nos protege das agressões do mundo externo. E ela que filtra os acontecimentos de acordo com as nossas convicções, é ela que através do instinto nos avisa do perigo. E o mais importante: é a pele da alma que mantém o nosso self intacto, para não perdemos o que temos de mais importante, e definharmos nos caminhos da vida.

A história nos conta o que acontece com uma mulher quando ela perde a sua alma. Ela fica vulnerável e frágil, perde sua capacidade de sentir e de ver, é obrigada a viver de acordo com os valores e a cultura dos outros. Ela fica acuada e exposta, perde a sensibilidade com as coisas, perde a capacidade de sentir dor ou prazer, ela não consegue mais proteger a sua própria individualidade, seu self, sua alma.

Clarissa comenta algumas situações que podem nos fazer perder a nossa ‘pele’: nos tornarmos demasiadamente envolvidas com o trabalho, nos cobrarmos de mais, nos exigirmos demais, querer tudo perfeito, o tempo inteiro, se esforçar mais do que o necessário para a realização material, entrar em relacionamentos prejudiciais, etc. Um dia você acorda, se olha no espelho, e percebe que está insatisfeita. O diagnóstico para quem perdeu a pele é simples: você não consegue mais encontrar as coisas que têm valor para você, o lugar ao qual pertence e o que estava procurando quando iniciou sua jornada na vida. Você não consegue pensar em como sair dessa situação, não sabe como voltar a ser você mesma, não consegue mais perceber o quanto as situações e relacionamentos estão te custando, e anda tomando decisões bem erradas. A única coisa que sente com clareza é que não pertence àquela vida, àquele mundo. Está na hora de voltar para casa!

“Sabemos que as más decisões ocorrem de inúmeras formas. Uma mulher casa-se cedo demais. Outra engravida muito jovem. Ainda outra fica com um parceiro errado. Outra renuncia à sua arte para "ter coisas". Outra se vê seduzida por uma série de ilusões; outra, por promessas; outra, por "ser boazinha" demais e não ter alma suficiente; ainda outra, por ser visionária ao extremo e lhe faltar os "pés no chão". E nos casos em que a mulher vive só com metade da pele da alma, não é necessariamente porque suas decisões estão erradas mas porque ela se mantém afastada do seu lar espiritual por muito tempo, começa a se ressecar e é de ínfima utilidade para qualquer um, menos ainda para si mesma. Existem centenas de meios para se perder a pele da alma.”

Psicologicamente, uma mulher que perdeu a pele da alma, não se comporta e reage como ela é, mas como ela acha que deve. Fica vulnerável à influência de pessoas mais fortes, ou situações paralisantes. E deixa tudo para depois. Ah, quem nunca agiu assim? Mas o perigo mora quando a mulher se recusa a dar o próximo passo, a fazer a jornada necessária para reconstruir a sua pele protetora, a ficar onde está até conseguir entender como vai sair.

Você anda se sentindo assim? Então está na hora de reconstruir a sua pele, de voltar para sua casa!

“A pele na história não é tanto um objeto mas a representação de um estado de sentimento e de um estado de ser — um estado que é coeso, profundo e que pertence à natureza feminina selvagem. Quando a mulher se encontra nesse estado, ela se sente inteiramente dona de si mesma, em vez de se sentir fora de si mesma, a se perguntar se está agindo corretamente, se está pensando certo. Embora esse estado de comunhão "consigo mesma" seja um estado com o qual ela ocasionalmente perca contato, o tempo que ela anteriormente passou ali a sustenta enquanto ela se dedica ao seu trabalho no mundo. A volta periódica ao estado selvagem é o que reabastece suas reservas psíquicas para seus projetos, sua família, seus relacionamentos e sua vida criativa no mundo objetivo.”


Lição do Dia: checando a minha capacidade de proteger minha essência contra as agressões externas.

Pendências: Bom, o final de semana deprê trouxe um milhão e meio de pendências: deixei de tomar o anticoncepcional e tive uma menstruação de nível hemorrágico. Deixei de me alimentar bem e quase desmaiei no metrô. Briguei com o namorado sem nenhum motivo para isso. Deixei as contas da semana atrasarem. Agora é correr para apagar o fogo!

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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Dia 64 – Quando perdemos uma oportunidade

Capítulo 9 – A volta ao lar: O retorno ao próprio Self

Conto: Pele de Foca, Pele da Alma
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A perda do sentido da alma como iniciação

Nesse final de semana eu esperava a resposta de uma grande oportunidade profissional. E recebi a resposta negativa. Eu me preparei tanto, mas tanto para essa oportunidade, me envolvi, me dediquei, dei o meu máximo, e... resposta negativa! Eu tenho certeza que se não tivesse colocado todas as minhas expectativas nessa única resposta eu não teria ficado do jeito que eu fiquei. Mas sabe aquela sensação de que, quando nada na sua vida está funcionando, aquilo pode ser a única chance de sair do poço? Pois é... Não deveria ter pensado assim, mas eu pensei. E criei sonhos, e me vi os realizando, e de algum lugar de dentro de mim veio uma esperança imensa de que agora tudo entraria nos trilhos novamente.

Quando eu recebi a notícia a primeira coisa que fiz foi me permitir ficar triste. Bem tristezinha. Me dei um final de semana inteiro para ficar triste e pensar a respeito do que aconteceu. A segunda coisa que fiz foi tentar entender o ocorrido. Não tentar entender o ‘não’, porque ‘não’ é não, e se não podemos fazer nada para mudar, só nos resta aceitar. Mas o que eu fiz foi tentar entender o que esse ‘não’ vai representar para mim.

Como já dizia Carlos Drummond de Andrade: “A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.” E eu, como uma mulher que se comprometeu a ficar de olho no próprio self, não posso optar por sofrer. Então, vou dividir com vocês algumas coisas que pensei nesse final de semana.

Quando recebi a notícia senti diversas emoções misturadas: me senti derrotada, me senti uma fracassada, tive vergonha do meu desempenho, fiquei brava comigo mesma. Foi difícil, mas eu consegui entender que esses sentimentos vinham todos de dentro da minha própria cabecinha. Me isolei do mundo porque estava me sentindo pior que o fungo do cocô do cavalo do bandido.

Mas será que os outros estavam me vendo assim também? Uma vez uma amiga me disse que eu me destacava pela minha capacidade de começar a vida do zero, uma vez após a outra. Eu vivia levando tombos na vida, mas me levantava e continuava andando. Será que ela tem razão? Quando olho para o meu passado vejo que os meus erros foram muito mais numerosos que os meus acertos. Vi que recebi mais ‘não’ da vida do que ‘sim’. Vi que tive mais planos frustrados do que realizados. E aí penso: não é que aqui estou eu tentando novamente?

De fato, ter tido a coragem depois de tudo o que já me aconteceu de dar a minha cara à tapa novamente conta a meu favor, e não contra mim. Se eu conseguir entender que ter tentado já me torna forte e capaz, esses sentimentos de derrota não vão ter terreno fértil para crescer.

No post do ‘Dia 5 – Decapitando nossos sonhos’ eu escrevi sobre o maldito predador que existe dentro de nossas psiques, que decapita nossos projetos e sonhos. Esse predador interno é aquele que nos estimula a nos auto-boicotar, é aquele que nos faz desistir de tudo o que acreditamos, é o sistema de ‘proteção’ mal comportado da nossa psique, que tenta nos impedir de nos ariscar.

Nesse exato momento o meu predador interno está gritando a plenos pulmões frases do tipo: você não é capaz! Não vai conseguir arrumar a sua vida! O que vão pensar de você? Não deveria nem ter tentado! Porque achou que conseguiria? Porque você não desiste? Você não é tão boa como acredita! Desista!!

Agora, porque raios eu estou permitindo que ele grite comigo, e ficando triste com as coisas que ele me joga na cara é a grande questão. Se esse predador interno faz parte da minha própria psique, como é que eu não consigo controlá-lo? Descobri que ele se alimenta dos meus próprios sentimentos. Enquanto eu achar que sou uma fracassada, eu vou acreditar fielmente nisso! Enquanto eu concordar que não sou capaz, vou continuar vivendo como se eu não fosse. Então, rápida lição do final de semana: eu não posso concordar com nenhuma dessas afirmações e não posso permitir que a minha própria psique tente me convencer delas.

E a frase que eu mais repeti foi a lamentação ‘Porque estou passando por isso novamente?’. Pára tudo, como assim passar por isso? Às vezes fico tão frustrada comigo mesma! Vero, você realmente acha que receber um ‘não’ é uma catástrofe? Então querida, reveja o seu conceito de catástrofe! Você tem um emprego, que pode não ser o melhor do mundo, mas é o que sustenta a sua vida, paga suas dívidas e te dá prazer. Você tem amigos e um namorado que te amam e te apóiam incondicionalmente, torcendo por você em cada desafio. Você pode estar super apertada de grana, mas não passa nenhuma dificuldade. Tá reclamando do quê?

Se passar por isso eu me refiro ao sofrimento vindo da frustração, então está na hora de decidir simplesmente não sofrer. Eu decidi: não vou sofrer por causa disso! E ponto. Antes de me tornar uma heroína preciso ser uma guerreira, e uma guerreia é aquela que enfrenta as lutas e batalhas da vida. Portanto preciso parar de achar que estou lutando contra o mundo mau e que as coisas são mais difíceis para mim do que para os outros. Como já dizia Clarissa, um lobo não reclama quando é atacado ‘Ah não, de novo não!’, ele simplesmente reage e continua com a sua vida.

“Ao trabalhar com histórias de "cativeiro" e de "roubos de tesouros" bem como com a minha experiência de análise de muitos homens e mulheres, cheguei à conclusão de que ocorre no processo de individuação de praticamente todo mundo pelo menos um caso de roubo significativo. Algumas pessoas o caracterizam como o roubo da sua "grande oportunidade" na vida. Os apaixonados o definem como o roubo da alma, uma apropriação do espírito da pessoa, um enfraquecimento do sentido de identidade. Outros descrevem o fato como uma distração, uma ruptura, uma interferência ou interrupção de algo que lhes era vital: sua arte, seu amor, seu sonho, sua esperança, sua crença na bondade, seu desenvolvimento, sua honra, seus esforços.”

“A maior parte do tempo, esse roubo crucial se abate sobre a pessoa vindo de onde ela não espera. Ele cai sobre as mulheres pelos mesmos motivos que ocorrem nessa história do povo inuit: em virtude da ingenuidade, da percepção falha quanto às motivações dos outros, da inexperiência em projetar o que poderia acontecer no futuro, da falta de atenção a todas as pistas do ambiente e em virtude de o destino estar sempre entretecendo lições em sua trama.”

“Seria um erro atribuir esses estados apenas à juventude. Eles podem ocorrer em qualquer um, independente da idade, da filiação étnica, do grau de instrução ou mesmo das boas intenções. Está claro que o fato de ser roubado evolui definitivamente para uma misteriosa oportunidade de iniciação arquetípica para aqueles que se vêem enredados na situação... o que se aplica a quase todo mundo.”


Lição do Dia: persistência.

Pendências: parando de lamentar e começando a pensar num Plano B.

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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Dia 63 – A volta ao lar

Capítulo 9 – A volta ao lar: O retorno ao próprio Self

Conto: Pele de Foca, Pele da Alma
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Depois do post de ontem, recebi e-mails de leitoras que diziam que as suas condições econômicas ou familiares não permitiam que elas fizessem um Período Sabático. Fiquei triste de verdade, porque se elas pensam isso é porque não entenderam uma palavra do que eu escrevi.

O mundo civilizado faz com que as nossas vidas sejam regidas por horários comerciais, e não pelo nosso relógio biológico; e por ciclos artificiais, que são muito diferentes dos nossos ciclos naturais. Viver nesse mundo repleto de artificialidades faz com que a gente se afaste da nossa natureza, e quanto mais civilizadas ficamos, maior o risco de nos desconectarmos do nosso lado selvagem.

Assim como a natureza é feita de ciclos, as mulheres também o são. Temos épocas que queremos nos isolar completamente do mundo, e outras que queremos nos jogar no mundo. Temos épocas que queremos nos envolver com todas as atividades e pessoas, e outras que queremos manter distância. Temos ciclos de criatividade, e ciclos de trabalho. Temos ciclos que somos absurdamente ativas e participativas, e outros em que ficamos um pouco dormentes. Voltar a se conectar aos seus ciclos naturais, é de maior importância para a saúde da sua psique. Imagine que você é uma antena que capta sinais. Para conseguir escutar bem os sinais que vêm do seu corpo e da sua alma, você vai ter que se isolar da poluição eletromagnética do mundo exterior.

O que eu estava propondo ontem era deixar um pouco de lado as coisas do mundo material e civilizado, e se voltar para o estudo da sua alma. Eu nunca disse ‘pare com todas as suas atividades e se tranque em casa!’, eu disse: ‘faça as atividades obrigatórias e arrume tempo e espaço para você!’. Portanto, o afastamento que eu propus não é de origem física nem econômica. É de origem emocional e psicológica.

Se temos um único objetivo na vida é o de acharmos o nosso próprio caminho. E nesse caminho existem diversas pedras que dificultam o nosso progresso. Um desses bloqueios são as sensações de solidão, de que não temos amparo e nem ajuda. Eu, por exemplo, devido às feridas de infância, tenho que lidar o tempo inteiro com a sensação de abandono, de que sou órfã de pai e mãe. Para me tornar a heroína que quero ser, preciso vencer esses sentimentos de desamparo, controlar os desejos destrutivos do meu ego, e me lançar nessa batalha.

Eu sei que esse processo de me tornar um adulto pleno não é uma fase ou uma idade, mas sim um trabalho para toda a vida. A cada dia dou mais um passo em direção ao domínio da minha história, e isso se faz através da integração com o meu próprio self.

Se você anda se sentindo perdida, ou percebeu que anda presa num cativeiro emocional, sua alma te chama para essa aventura. Você pode aceitar ou não, mas pense em como sua vida pode ser maravilhosa se aceitar esse desafio. As dificuldades fazem parte, porque é através delas que você vai conseguir vencer as suas próprias limitações. Portanto, ao invés de se esconder atrás dos problemas, lide com eles!

Nesse novo capítulo do livro Mulheres Que Correm Com Os Lobos, Clarissa nos dá um outro nome para esse período: a hora de voltar pra casa. E casa aqui se refere ao lugar da onde viemos, o material de que nos somos feitas, a forma que melhor funcionamos. A volta para casa simboliza o retorno ao próprio self, a nossa essência. É sobre esse assunto que iremos conversar pelos próximos dias.

Um dos meus mantras pessoais é a frase do poeta espanhol Antonio Machado: “Caminhante, não há caminho; faz-se caminho ao caminhar”.


Lição do Dia: lembrando de continuar adiante, um pé após o outro.

Pendências: eu acho que está na hora de buscar trabalhos free lancers para conseguir uma renda extra.

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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Dia 62 – Pequeno manual para um Período Sabático

Capítulo 8 – A preservação do Self: A identificação de armadilhas, arapucas e iscas envenenadas

Conto: Os Sapatinhos Vermelhos
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O retorno à vida feita à mão, a cura dos instintos feridos

Aposto que muitas de vocês já ouviram o termo Período Sabático. Esse termo vem lá do Antigo Testamento e se referia a um período a cada sete anos em que a terra ficava em repouso e sem cultivo, para depois iniciar mais um ciclo de fertilidade. Além disso era como chamavam os sábados para os judeus, o dia da semana em que eles paravam de trabalhar para cuidar da vida religiosa.

Nos dias de hoje o Período Sabático significa uma pausa em todas as suas tarefas pessoais, familiares e profissionais, para reavaliar suas necessidades, quais são as coisas importantes para você, e recuperar a sua qualidade de vida. O principal objetivo de quem realiza um Período Sabático é a reavaliação de sua vida pessoal. Não importa a duração que ele tenha, é o tempo que tiramos para colocar a vida nos trilhos novamente.

Esse período que ela fala é exatamente o tempo que vamos tirar parar de correr para completar nossas tarefas, para parar de trabalhar para pagar as contas, parar de se matar por metas financeiras e profissionais. É o período que vamos parar de fazer tudo que tenha relação com o mundo ou com os outros e nos voltar apenas para nós mesmas. Quem eu sou? O que eu quero? Do que sou feita? Que vida eu quero ter? São todas as perguntas que vamos tentar buscar respostas nesse período de afastamento

Está na hora de você começar o projeto psicológico de voltar para o seu self.

É claro que não somos todas que temos disponibilidade e dinheiro para sair viajando pelo mundo ou fazer um retiro espiritual. O que eu quero propor para vocês é outra forma de conseguir esse afastamento. É o que eu estou fazendo desde meados do ano passado e que tomou forma com o lançamento desse blog. O que eu fiz foi: deixei tudo em stand by. E quando digo tudo, quero dizer literalmente: TUDO.

Pause

Quando você permite deixar a sua vida concreta e material em stand by, automaticamente você vai parar de correr. Você vai perder a sensação de obrigação relacionada aos seus objetivos, porque você não estará mais trabalhando no desenvolvimento delas. Você vai apertar a tecla do PAUSE da sua vida e deixá-la assim pelo tempo que precisar. Vamos combinar: ou você continua com sua rotina louca ou estressante, ou você pausa para repensar na sua essência. As duas coisas juntas não dá. Tenha dois mantras nesse período: ‘Eu não preciso fazer nada’ e ‘eu não devo fazer coisa nenhuma’. Os outros são cheios de nos falar que precisamos decidir tal coisa, que devemos fazer tal outra. Não! A única coisa que precisamos e devemos fazer é cuidar de nós mesmas. Só, mais nada.

O primeiro passo é fazer uma lista de coisas que são estritamente necessárias para que você continue vivendo. No meu caso havia apenas uma coisa que eu não poderia parar de fazer: trabalhar. Reuni todas as minhas contas e decidi deixar apenas as essenciais. Voltei para a casa da minha mãe e larguei o apartamento que vivia. Embora pareça mais estressante voltar para a casa dos pais, eu precisava largar o papel de ‘dona de casa’ e brecar o aumento das minhas dívidas. Eu não me relaciono bem com a minha mãe, por isso deixei bem claro que precisaria que ela me recebesse em sua casa para conseguir ‘reorganizar a minha vida’. Por mais difícil que ela seja como mãe, tem coisas que mãe não pode negar.

Como a única coisa que eu não poderia parar de fazer era trabalhar, me certifiquei de que o trabalho em que eu estava era estável e me dava um mínimo de renda para pagar as contas básicas: alimentação, convênio médico e transporte. Todo o restante eu considerei supérfluo. Me propus também a ficar no meu atual emprego pelo tempo que durasse esse meu retiro, por pior que ele fosse, por mais tédio que eu sentisse, eu ficaria. Tranquei a faculdade, mas já sabendo que eu não iria voltar. Pensaria nisso depois.

Primeiras atitudes

Depois disso veio a idéia de procurar ajuda psicológica. É claro que nem todo mundo precisa ir para a terapia, mas nada como um profissional da área para te ajudar nessa jornada. Lembro até hoje da minha primeira consulta. Eu virei para a terapeuta, que me via pela primeira vez na vida, e disse: ‘Estou aqui porque a minha vida está um caos e nem sei por onde começar a arrumar. Não tenho o perfil de precisar de terapia a vida inteira. Preciso da sua ajuda para me reorganizar, deixar minha psique saudável, e já partir para a próxima etapa!’. ‘Quanto tempo você imagina que dure esse processo?’, ela me perguntou. Eu respondi na lata: ‘Um ano no mínimo, dois anos no máximo!’. No mês passado eu completei um ano de terapia, e vamos embora para o segundo ano.

Tente bloquear o maior número de influências externas: conceitos culturais, aspectos sociais, dogmas religiosos. Não permita que nada, além de você, influencie na sua vida. Se isole psicologicamente o máximo possível do mundo externo: as respostas não estão lá fora, estão dentro de você.

Limpe tudo. Limpe sua casa inteira, se livre de todas as tranqueiras que não usa mais. Doe e jogue fora absolutamente tudo que você não usa há mais de um mês. Abra seu armário de produtos de beleza: como mulher junta um monte de plásticos cheios de creme, não é? Jogue fora o que passou da validade, dê para as amigas ao que você testou e não gostou, se livre daquele creme incrível que você nunca lembra de passar. O mesmo para seus papéis, para seus livros, para o seu guarda-roupa, para a sua cozinha, armários de mantimentos, tudo. Não tenha pena de jogar fora o que já foi importante para você no passado. A única coisa importante do seu passado é a sua experiência de vida. Limpe e organize todos os espaços físicos que você freqüenta.

A mudança para a casa da minha mãe foi perfeita para isso. Hoje meus pertences pessoais se resumem a uma caixa 30x30cm, onde estão os produtos de higiene que eu realmente uso, e que são necessários para uma rotina de beleza prática, simples e eficiente. Meu guarda-roupa se resume as mudas de roupa necessárias para apenas uma semana. Eu cheguei num ponto onde nem as roupas que eu usava me definiam. Deixei apenas as peças básicas, para uso diário, lisas, de cores neutras. No final de uma semana eu lavo as roupas, e recomeço.

Por último, se você ainda não tem, está na hora de organizar um ambiente para seu trabalho pessoal. Um lugar que seja apenas seu, que você se sinta confortável e isolada. Onde pode deixar seus pensamentos fluírem e sua criatividade funcionar. Pode ser um pequeno jardim no seu apartamento, um escritório, um cantinho da sala. Nele é que vão acontecer os seus mais importantes trabalhos psíquicos.

Os Outros

Logo depois eu terminei o meu então atual relacionamento amoroso. Estava saindo há três meses com um cara muito bacana, mas que eu não sentia grandes emoções, e sabia que estava meio que esperando alguma coisa acontecer. Um relacionamento meia-boca era a última coisa que eu precisava. Então simplesmente terminei, liguei para o meu ex-namorado que ainda amava e pedi para voltarmos. Voltamos. Viver aquele amor era uma das pendências emocionais que eu tinha, e eu também sabia que ele seria o parceiro ideal para me apoiar nessa jornada. Mas, se você estiver sozinha quando iniciar seu período sabático, o melhor a fazer é realmente permanecer sozinha.

Fique de olho nos seus amigos mais próximos: se eles não vibram na mesma sintonia que a sua, se só reclamam e se fazem de vítimas, se são extremamente civilizados, se eles se iludem, ou estão perdidos, não são a companhia ideal para você. Procure ficar perto apenas das pessoas interessantes, prósperas e que te apóiem incondicionalmente. São elas que vão te ajudar a usar o máximo do seu potencial nesse período.

Não perca tempo com eventos sociais desnecessários, com encontros que você não está tão a fim de ir, com pessoas enfadonhas e eventos que envolvem conversas superficiais. Use seu cérebro e seu tempo para coisas mais úteis.

É preciso que as pessoas ao seu redor saibam que você está tirando um período sabático e deixando as coisas em stand by. Elas vão se assustar, se chocar, e até tentar convencê-la de que é uma perda de tempo. Ignore e diga que a decisão está tomada e é irrefutável. Não importa o quanto seja forte a pressão externa, não tome nenhuma decisão de grande porte nesse momento. A idéia dessa pausa é exatamente descobrir quem você é, então não é a hora de decidir os próximos passos.

Organize

Logo em seguida eu fui tentar parar as bolas de neves: negociar dívidas e diminuir consumo. Organize suas finanças e reveja os seus gastos. Pare absolutamente de consumir o que não for necessário. Não, um lindo casaco vermelho não é o que você mais precisa nesse momento. Se for gastar seu dinheiro, gaste com experiências que te agreguem valor e prazer.

É hora também de terminar relações que não valiam mais a pena, discutir as relações que ainda valiam, resolver os problemas pessoais, os impasses, os perdões, as brigas. Falar tudo o que estava guardado no peito, fazer declarações de amor, ou escrever cartas de término.

Fique longe de críticas, julgamentos e opiniões alheias. Não se interesse demais pela vida dos outros, lembre-se que os problemas deles são deles, e você tem os seus próprios para cuidar. Não permita que as pessoas questionem, critiquem ou julguem sua vida. Deixe claro que a sua vida é problema seu, e de mais ninguém.

O que fazer

Se expresse. Pinte, cante, dance, interprete, escreva. A expressão artística é a melhor forma de lidar com os sentimentos mais profundos da alma. Leia e estude. Sobre filosofia, sociologia, psicologia, artes. Leia ‘Mulheres Que Correm Com Os Lobos’ e coloque em prática as suas lições. Analise sua vida, reflita, pense, entenda, mude.

Resolva as pendências do passado. Conflitos emocionais, traumas, feridas. Deixe tudo cicatrizar. Decida nunca mais reclamar, se queixar ou se fazer de vítima. Entenda as coisas ruins que aconteceram e as aceite. Acabe com os fantasmas da sua vida. Agradeça pelas boas coisas que já viveu.

Você tem todo o direito de parar sem saber o que vai fazer nesse tempo. Ele vai servir para você se reconectar aos seus instintos, saber quem você é, o que quer e para onde vai. Não faça metas, apenas sinta novos desejos. Tire da gaveta antigos planos e sonhos. Se permita ter vontade de fazer coisas novas. Decida ser a heroína da sua própria vida!

Se transforme: pare de ter comportamentos que não são mais úteis na sua vida. Reveja o seu modo de falar, de pensar, de agir, de reagir. Fiquei de olho nos seus sentimentos e, principalmente nos seus pensamentos. Pare com o auto-boicote! Organize a sua rotina, os seus horários e as suas tarefas.

Dê uma atenção especial para seu corpo: como anda seu sono, sua alimentação, sua saúde seus dentes? Faça um check up. Os últimos tempos de privação podem ter trazido danos também para o seu corpo.

E agora?

Agora espere

Nenhuma solução mágica vai aparecer. Você não vai dormir como uma escrava e acordar como uma loba. Espere. Toda essa transformação vai acontecer aos poucos, dia após dia. Só lembre de continuar firme e forte durante todo esse período. Vá resolvendo as pendências uma a uma, devagar, sem pressa nem ansiedade.

E o mais importante: não tenha hora para acabar. Pode durar um mês, seis meses, um ano, cinco anos. Não importa! Espero, dê tempo ao tempo e os insights virão! Você estará dando espaço para que sua alma se cure.

Fareje, procure, estude, seja curiosa, se deixe levar para todos os lados que seu instinto quiser. Você vai achar as respostas que está procurando. Você vai se tornar a mulher que quer ser. As grandes idéias vão vir naturalmente. Quando perceber, as grandes decisões já estarão tomadas.

“Em termos psíquicos, é bom criar um local intermediário, uma estação secundária, um lugar bem-escolhido, quando se escapa da fome. Não é demais tirar um ano ou dois, para avaliar os nossos ferimentos, procurar orientação, ministrar os medicamentos, meditar sobre o futuro. Um ano ou dois é um tempo limitado. A mulher braba é aquela que está tentando voltar. Ela está aprendendo a acordar, a prestar atenção, a parar de ser ingênua, desinformada. Ela apanha a vida nas próprias mãos. Para reaprender os instintos femininos profundos, é essencial, para começar, que se veja como eles foram destituídos.”


Lição do Dia: permanecendo firme e forte no meu período sabático.

Pendências: mais um desequilíbrio financeiro.

Leia o conto Os Sapatinhos Vermelhos completo: http://querocorrercomoslobos.blogspot.com/p/os-sapatinhos-vermelhos.html  

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Dia 61 – Cuidado: recaídas!

Capítulo 8 – A preservação do Self: A identificação de armadilhas, arapucas e iscas envenenadas

Conto: Os Sapatinhos Vermelhos
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Na casa do carrasco: A tentativa de tirar os sapatos, tarde demais

“Quando a natureza selvagem quase foi exterminada, nos casos mais extremos, é possível que uma deterioração esquizóide e/ou uma psicose possam dominar a mulher. De repente ela pode simplesmente ficar na cama, recusar-se a se levantar, vaguear de um lado para outro de roupão, esquecer distraída cigarros acesos, três em cada cinzeiro, chorar sem conseguir parar, passear descabelada pelas ruas, abandonar a família de repente para vaguear por aí. Ela pode ter tendências suicidas; ela pode se matar acidentalmente ou de propósito. No entanto e muito mais comum é o fato de a mulher simplesmente ficar entorpecida. Ela não se sente nem bem nem mal; apenas não sente nada.”

E aí vemos de novo o famoso limbo psicológico.

Eu não sei se vocês sabem, mas eu estou lendo o livro conforme vou postando aqui no blog. O mais impressionante dessa minha leitura é que eu não sei qual será a próxima parte da história, é tanto uma surpresa para vocês como para mim. No primeiro post do blog eu descrevi porque comecei a escrever: fazia parte da minha terapia acompanhar dia-a-dia a minha saída do limbo.

Em todos os contos de fadas citados no livro aprendi valiosas lições de como me levantar novamente, e me identifiquei com diversas protagonistas das histórias, aprendendo as lições juntamente com elas enquanto lia sobre as suas jornadas. Olhem só que interessante: eu estava no limbo psicológico, mas não sabia porque. Agora, já entrando na fase final do conto Sapatinhos Vermelhos, vejo a autora explicando que esse limbo, esse não sentir nada, é exatamente o ponto crítico após a mulher se desconectar completamente do seu lado selvagem, conseqüência do cativeiro emocional.

Eu recebo muitos e-mails me parabenizando pela minha melhora, mesmo eu nem sempre percebendo que os meus textos relatam esse processo. Não sei se consigo demonstrar para vocês o quanto essa ‘melhora’ é trabalhosa. Dia a dia, semana a semana, eu percebo que estou voltando a me sentir bem. É um trabalho árduo e sei que vai continuar acontecendo por muitos e muitos anos. A construção de uma boa auto-estima e de uma vida condizente com a minha alma é um trabalho para a vida toda.

Tenho muitíssimas recaídas, o que prova que ainda não posso largar a terapia. Como é difícil abandonarmos certos padrões nossos de comportamento! Eles estão praticamente ligados no piloto automático e tendem a dominar a minha rotina se eu não mantê-los sob constante supervisão. Como é difícil percebemos que certos comportamentos que eram válidos na infância não são mais na vida adulta, e precisamos nos separar deles. Hoje eu quero compartilhar com vocês algumas das maiores dificuldades que tenho lidado nos últimos meses.

A minha maior dificuldade, ganhando de longe de todas as outras, foi tomar a minha vida de volta para as minhas mãos. Quando estamos num processo de limbo não conseguimos mais sentir nem tristeza e nem prazer. Começamos a viver um dia após o outro, sobrevivendo ao invés de viver, sendo levadas pelos acontecimentos, como se fossemos espectadoras da nossa própria vida. Própria vida? Esse conceito também acaba perdendo sentido. A vida se torna um amontoado de tarefas e responsabilidade que continuamos fazendo sem tomar nenhuma decisão. As palavras ‘sonhos’, ‘desejos’ e ‘planos’ também perderam sentido. Não temos vontade, nem desejo de mudar nada, de fazer nada. Apenas me deixem aqui quietinha, vou fazer o que esperam que eu faça e voltar para meu cantinho do conforto. Essa foi a parte mais difícil de todas: voltar a sentir tesão pelas coisas, pegar a responsabilidade de me fazer feliz, voltar a produzir, a fazer planos, a desejar.

Quando comecei a sentir novamente essa emoção de que a vida pode ser uma aventura, tive que lidar com outro sentimento: a frustração. Porque quando decidimos deixar de ser vítimas, aceitamos que somos totalmente responsáveis pelo que fazemos, e se fracassamos a culpa é nossa também. É nesse momento que paramos de reclamar e colocar a culpa no universo e olhamos para os nossos próprios erros. Lidar com a frustração das coisas darem errado é o segundo desafio mais difícil que ando enfrentando. Quando não tive um dia bom a primeira coisa que vem à minha cabeça é: ‘Não!! Se as coisas continuarem dando errado o que eu vou fazer? Por quanto tempo vou conseguir manter a minha motivação para seguir adiante? Não vou ter forças para enfrentar tudo de novo!’, e rezo para que alguma coisa, por menor que seja, dê certo.

E aí chego no meu terceiro maior desafio: aprender a me sentir realizada com as pequenas coisas. Hoje eu já consigo ficar radiante com várias pequenas realizações: conseguir escrever meus gastos no papel, conseguir negociar uma das minhas dívidas, conseguir ir nas consultas médicas. Quem olha de fora não entende nada, mas eu viro uma criança em manhã de natal quando cumpro algum compromisso!

A quarta maior dificuldade é a parte de voltar a cuidar de mim. Esquecemos o quanto precisamos de carinho e o quanto receber cuidados é prazeroso. Mas nessa fase já não somos mais um bebê chorando por atenção e cuidados, nem mais podemos ficar sentadas culpando mãe, pai e namorado por não terem dado atenção suficiente. Estou aprendendo aos poucos que quem tem que cuidar de mim sou eu mesma. Eu sou meu próprio bebê, minha própria criança, e eu sou o adulto que vai cuidar de mim mesma. E esse cuidar é muito amplo: eu vou cuidar do meu sono, eu vou cuidar da minha comida, eu vou cuidar da minha pele, eu vou cuidar da minha vida.

E aí eu chego na quinta é última maior dificuldade:a  transformação! Meu deus, se eu soubesse que perder maus hábitos era assim tão difícil, juro que não teria os desenvolvido! Tantos os hábitos rotineiros como comer bem, dormir bem, chegar no horário, quanto os mais enraizados: cuidar dos seus pensamentos, cuidar dos seus ambientes físicos e psíquicos, parar de reclamar, parar de se fazer de vítima, entender os meus sentimentos, parar de me auto-boicotar, terminar as coisas que começo. Largar os vícios, os relacionamentos destruidores, os prazeres efêmeros, os tais sapatinhos vermelhos.

E quando sinto que estou numa curva ascendente da cura, ainda sou obrigada a escutar dos mais próximos: ‘Uau, você está ótima, agora quais são as suas metas para o futuro?’. Amigo, você tem idéia que antigamente eu mal conseguia dormir? A única meta que tenho hoje é voltar a me reconstruir por dentro. Perto dessa minha jornada de auto-conhecimento, não me venha falar de cargos e salários, isso é perfumaria. Entendem como isso parece superficial para mim agora? Só vou conseguir focar na minha vida profissional, quando eu me sentir inteira novamente. Um passo de cada vez...

“É, a dor chega quando a pessoa se vê separada dos sapatinhos vermelhos. Essa separação é, porém, a nossa única esperança. Ela vem repleta de bênçãos incondicionais. Os pés vão crescer de novo; vamos descobrir nosso próprio caminho; vamos nos recuperar; um dia vamos voltar a correr, saltar e pular. Quando isso acontecer, a nossa vida feita à mão estará pronta. Nós a assumiremos e nos encheremos de espanto por termos tido a sorte de ter mais uma oportunidade.”


Lição do Dia: orgulhando-me do caminho que percorri até chegar aqui!

Pendências: preciso continuar me esforçando para focar nos problemas mais importantes, e não na perfumaria.

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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Dia 60 – Pergunte-se

Capítulo 8 – A preservação do Self: A identificação de armadilhas, arapucas e iscas envenenadas

Conto: Os Sapatinhos Vermelhos
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A dependência

“A dependência e a ferocidade estão relacionadas. A maioria das mulheres esteve em cativeiro pelo menos por um curto período, e algumas por um tempo interminável. Algumas só foram livres in utero. Todas perdem parte do instinto durante esse período. Em algumas, fica prejudicado o instinto a respeito de quem é uma boa pessoa, e com freqüência essa mulher é induzida ao erro. Em outras, a capacidade de reagir à injustiça se vê radicalmente reduzida, e elas muitas vezes se transformam em mártires relutantes, prontas para a retaliação. Em outras ainda, o instinto de fugir ou enfrentar é enfraquecido, e elas se transformam em vítimas. A lista ainda continua. Por outro lado, a mulher em pleno uso de sua mente selvagem rejeita as convenções que não sejam propícias nem sensatas.”

Então, depois de ler esse trecho, eu me perguntei: até que ponto eu perdi a minha capacidade de auto-preservação? Vamos ver:

- Meu instinto ainda me avisa dos perigos do dia-a-dia?
- Eu percebo quando me aproximo de alguém de má índole ou mau caráter?
- Eu erro mais do que acerto nas minhas escolhas?
- Eu reajo diante de qualquer injustiça que eu presencie ou sofra?
- Eu me sinto constantemente atacada, agredida ou violentada pelos outros?
- Eu tenho sede de vingança ou retaliação?
- Eu tenho a capacidade de fugir de situações que me fazem mal?
- Eu sou sempre a vítima?
- Eu consigo rejeitar as convenções sociais que não sejam propícias para meu crescimento?
- Eu consigo rejeitar as convenções culturais que não sejam sensatas ao meu ponto de vista?
- Eu me sinto na obrigação de sorrir e ser educada o tempo inteiro?
- Eu estou sempre buscando uma compensação pelas coisas que não tenho?
- Eu sou emocionalmente dependente dos outros?
- Eu vou contra outras mulheres que se recusam a ser iguais a mim?
- Eu vivo atrás de substitutos do meu prazer?
- Eu constantemente penso que tal coisa ou pessoa representa uma salvação?

Se você, como eu, deu a resposta errada para algumas dessas perguntas: alerta! Existem grandes chances de você ter perdido parte dos seus instintos e está completamente vulnerável diante das armadilhas do mundo. Não compre os sapatinhos vermelhos!

“Não é a alegria da vida que mata o espírito da menina na história dos sapatinhos vermelhos; é a sua falta. Quando a mulher não tem consciência da própria privação, das conseqüências do uso de veículos e substâncias mortíferas, ela está dançando, dançando sem parar. Sejam eles o negativismo, os relacionamentos infelizes, as situações de exploração, sejam eles as drogas ou o álcool — eles são como os sapatos vermelhos; é dificílimo livrar a pessoa deles depois que eles se instalaram.”


Lição do Dia: analisando a minha capacidade de zelar pela minha integridade psíquica e emocional.

Pendências: ainda na procura por um hobbie construtivo.

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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Dia 59 – Nossos sapatinhos vermelhos

Capítulo 8 – A preservação do Self: A identificação de armadilhas, arapucas e iscas envenenadas

Conto: Os Sapatinhos Vermelhos
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Armadilha n° 8: A dança descontrolada, a obsessão e dependência

E chegamos enfim na última armadilha descrita por Clarissa. Quando perdemos completamente os nossos instintos que protegem a nossa integridade psíquica, quando tentamos ser boazinhas para sermos valorizadas pelos outros, quando tentamos ter uma vida dupla: viramos vítimas de nosso próprio desespero.

Os Sapatinhos Vermelhos que ficam presos aos pés da menina e que a obrigam a dançar compulsivamente sem parar nada mais são do que o simbolismo para as nossas próprias obsessões das quais viramos vítimas, e não senhoras. E isso acontece com qualquer mulher que tendo perdido sua alegria de viver, projeta sua satisfação pessoal em qualquer coisa de fácil alcance que causa mais dor do que prazer. É quando compramos gato por lebre, casamos com um sapo em vez de um príncipe, nos jogamos no poço em vez de seguir o caminho.

Eu sou uma pessoa noturna. Já fui diagnosticada por diversos médicos com uma pessoa vespertina. Isso significa que acordar cedo para mim sempre foi a mais dolorosa de todas as obrigações. De manhã eu não consigo render, não sou produtiva, tenho um mau humor crônico, e tudo o que consigo pensar é: ‘porque eu simplesmente não posso estar na minha cama dormindo?’.

Durante anos eu me obriguei a estar de pé muito cedo para cumprir as obrigações que são base de uma vida adulta. Foi um período difícil e de muito sacrifício pessoal. Isso me deixava deprimida, porque tudo o que eu queria era poder aproveitar a parte mais gostosa da vida: a noite. Tentei então levar uma vida dupla: ficava acordada até muito tarde e mesmo assim estava de pé de manhã. Isso quase acabou comigo. Quando me rebelei contra os horários comerciais eu decidi que nunca mais minha vida eu iria me obrigar a acordar cedo. Coloquei como única e exclusiva meta na minha vida ser dona dos meus próprios horários.

Quando fiquei deprimida e entrei num limbo psicológico me lembro que tinha a sensação de que a única coisa na vida que eu tinha poder para controlar eram os meus horários. Como esse era aparentemente o único raio de liberdade que eu via, fiquei obcecada pela noite. Parei de dormir. Passava noites e noites em claro. Ia trabalhar sem ter dormido nem uma horinha sequer. Abandonei empregos ótimos porque não conseguia chegar no horário. Comecei a não conseguir cumprir nenhum compromisso. Minha insônia virou uma doença. Eu chegava em casa completamente esgotada e sem energia mas não permitia que meu corpo descansasse: eu me mantinha acordada para fazer qualquer coisa estúpida que aparecesse. Quando eu me permitia dormir, só conseguia ter algumas horas de sono. No dia seguinte eu acordava como se tivesse sido atropelada por uma manada de elefantes. E o ciclo continuava no dia seguinte, e no outro. Isso durou anos!

Assim como a minha insônia virou uma obsessão porque eu sentia que a minha última gota de liberdade estava no controle dos meus horários, diversas mulheres em cativeiro projetam suas liberdades em ‘sapatinhos vermelhos’. Esses ‘sapatinhos vermelhos’ podem ser qualquer coisa ilusória que nos dá a sensação de que podemos ser plenas novamente: um relacionamento, um homem, um emprego, compras, bebidas, exercícios físicos, dietas, drogas, sexo, e por aí a fora.

Uma amiga minha está completamente obcecada com a idéia de se casar que não consegue pensar em mais nada que a faça feliz. Sua vida está uma bagunça total e ela projetou a saída do seu cativeiro com a consumação de um casamento. Nem preciso dizer que essa obsessão vai destruí-la a longo prazo não é? Que condições ela tem nesse momento de criar um vínculo saudável e escolher um parceiro adequado? Nenhuma!

Se você percebeu que está num cativeiro emocional repare se não transformou alguma coisa em sua vida em ‘sapatinhos vermelhos’, numa obsessão vazia de sentido. Se ver que transformou, está na hora de virar o jogo e não se tornar vítima de uma coisa que você mesma criou. Se ainda não chegou nesse estágio, parabéns! Agora agüente mais um pouco e procure a verdadeira saída desse poço sem cair em nenhuma outra armadilha!

"Ela precisava somente de uma sábia imagem interna à qual pudesse se agarrar, um resquício de instinto que durasse até que ela pudesse dar início ao longo trabalho de reformulação do instinto e da percepção íntima. Ela só precisava dar ouvidos à voz selvagem que vive dentro de todas nós, a que sussurra, ‘fique aqui o bastante... fique o tempo necessário para reanimar sua esperança, para abandonar seu sangue-frio terminal, para renunciar a meias-verdades defensivas, para se insinuar, para abrir caminho com precisão ou com violência; fique aqui o suficiente para ver o que é bom para você, para se fortalecer, para fazer aquela tentativa que terá sucesso; fique aqui o suficiente para completar a corrida, não importa quanto tempo demore ou de que forma isso ocorra’.”

Lição do Dia: pensando nos meus próprios ‘sapatinhos vermelhos’.

Pendências: percebendo que ando empurrando com a barriga algumas tarefas do trabalho.

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domingo, 21 de novembro de 2010

Dia 58 – Quando o desconforto fica confortável

Capítulo 8 – A preservação do Self: A identificação de armadilhas, arapucas e iscas envenenadas

Conto: Os Sapatinhos Vermelhos
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Armadilha n° 7: A simulação, a tentativa de ser boa, a trivialização do anormal

“Tentar ser boa, disciplinada e submissa diante do perigo interno ou externo, ou a fim de esconder uma situação crítica psíquica ou no mundo objetivo, elimina a alma da mulher. É uma atitude que a isola do que sabe; que a isola da sua capacidade de agir. Como a criança na história, que não expressa em voz alta suas objeções, que tenta esconder sua privação, que tenta dar a impressão de que nada está dentro dela, as mulheres modernas passam pela mesma perturbação, a trivialização do que é anormal. Esse distúrbio está disseminado em todas as culturas. A trivialização do anormal faz com que o espírito, que em circunstâncias normais saltaria para corrigir a situação, afunde no tédio, na complacência e acabe, como a velha senhora, na cegueira.”

Durante muitos anos eu estudei para ser uma cientista. Naquela época eu transformei o darwinismo na minha religião pessoal e explicava qualquer comportamento humano com base na teoria da evolução. Até nas minhas DRs com os namorados entrava algum argumento cientifico para provar que eu estava certa. Confesso para vocês: eu era meio chatinha. Mesmo tendo desistido da carreira, até hoje concordo com uma fé quase religiosa com grandes princípios do darwinismo social (que para quem não sabe é o uso dos preceitos da teoria da evolução para entender os comportamentos sociais dos seres humanos).

Segundo os cientistas só existe um motivo para que a espécie humana tenha se espalhado por todo o globo e dominado todas as outras espécies: a nossa capacidade de adaptação. O ser humano consegue se adaptar a qualquer situação imaginável. Não é à toa que temos cidades no ártico, na Sibéria, na Antártida e no deserto do Saara. Construímos civilizações no oriente médio, no meio das florestas tropicais da América central, numa ilha cheia de vulcões como o Japão. Nós temos o talento de nos adaptarmos a qualquer ambiente, por mais hostil que ele seja. Os seres humanos não dominaram o planeta Terra porque são mais hábeis, mais inteligentes, ou porque aprenderam a se comunicar. Nós dominamos o planeta porque temos a capacidade de nos adaptar às circunstâncias ambientais mais extremas.

Agora você deve estar pensando: ‘nos dias de hoje não há mais necessidade de tamanha adaptação! A vida urbana tornou nosso dia-a-dia tão confortável, que podemos inclusive decidir que temperatura queremos dentro da nossa própria casa!’.

Se você pensou isso me perdoe por discordar 100% de você. Nós usamos esse talento para a mesmíssima coisa que usávamos há milhares de anos atrás: adaptação ao ambiente. Só que o ambiente hoje não é mais a temperatura, as chuvas, o solo, o frio. O ambiente hoje são as situações que nos deixam psiquicamente desequilibradas. Já ouviram falar das mulheres lactantes que vivem nas zonas de guerra? Elas conseguem dormir a noite inteira nos esconderijos subterrâneos sem acordar com o barulho dos bombardeios constantes. Mas, assim que os seus bebês choram, elas imediatamente acordam. Elas se adaptaram tão perfeitamente às bombas, que seus instintos não consideram mais como se elas fossem uma ameaça.

Quando vemos hoje em dia pessoas vivendo situações super estressantes, como lidar com uma doença muito séria, um trabalho quase escravo, ou viver sempre correndo atrás de dinheiro para colocar comida na mesa, e vemos que essas pessoas conseguem ser felizes e seguir com sua rotina dia após dia, estamos vendo agir aí a nossa grande capacidade de adaptação às situações mais desfavoráveis. O mesmo para populações que vivem numa fome ou seca extremas, para pessoas que vivem há décadas numa ditadura, para seres humanos que sofrem diariamente com o preconceito por causa de sua etnia ou religião, para nós brasileiros que aprendemos a viver num clima de violência social constante.

Só que, como no caso das mulheres em países que vivem em guerra, existe um problema muito sério que pode ser causado por essa adaptação: quando você se adapta tão bem a uma situação limite, seu instinto vai parar de te avisar do perigo, já que aquele ‘perigo’ agora faz parte da sua vida.

E porque isso é tão danoso?

Imagine mulheres que apanham do marido todos os dias. Imagine mulheres que são submetidas às ordens de seus parentes mais próximos. Imagine mulheres que foram escravizadas pela maternidade e obrigadas a abandonar uma vida só sua. Imagine mulheres sendo vítimas de torturas psicológicas e violência emocional por anos. Imagine mulheres que abriram mão de realizar qualquer sonho pessoal seu. Elas estão tão adaptadas, que a situação que no início parecia claustrofóbica e destrutiva, agora não passa de uma situação absolutamente padrão para elas. Seus instintos pararam de avisá-las do perigo, pois esse perigo já faz parte das suas vidas.

Quando pensamos numa mulher que tomou uma decisão, aparentemente pequena, de pegar o caminho mais fácil e ser boazinha para ser valorizada pelos outros, estamos falando de uma mulher que no decorrer dos anos vai estar totalmente adaptada e confortável vivendo nessa situação.

Ela vai achar comum as mulheres serem tratadas com inferioridade, ganharem menos que os homens, virarem reféns de seus maridos. Tão comum, mas tão comum, que elas mesmas vão se levantar contra as mulheres que não aceitam as regras da sociedade e perpetuar essa escravidão: não vão permitir que as filhas tenham uma vida sexual saudável, não vão ensinar que se deve realizar seus sonhos, vão exigir que elas abandonem seus desejos em busca de uma vida socialmente estável, etc. São essas mulheres que vão desdenhar das outras mulheres, aquelas que são solteiras, que não se importam com a ditadura da beleza, que não precisam de um homem ao seu lado para se sentirem plenas.

As mulheres, muito mais do que os homens, aprenderam há milênios a se adaptar às piores situações possíveis. Porque eram elas que deviam se manter fortes e de cabeça erguida, para continuar amamentando, alimentando e cuidando de sua prole, não importa se uma guerra ou um vulcão estivessem à ponto de destruir sua cidade.

Mas chegou a hora de pensarmos se não estamos usando esse nosso maravilhoso talento de adaptação contra nós mesmas. Será que estamos nos acostumando com as coisas erradas? Será que já chegamos num ponto onde a violência, a ditadura, a fome e o machismo que submetem as mulheres, ficaram triviais?

“Em termos psíquicos, nós nos acostumamos aos golpes dirigidos às nossas naturezas selvagens. Nós nos adaptamos à violência perpetrada contra a natureza selvagem e sábia da Psique. Tentamos ser boazinhas enquanto trivializamos o anormal. Perdemos, conseqüentemente, nosso poder de fuga. Perdemos nosso poder de lutar pelos elementos da alma e da vida que mais valorizamos. Quando estamos obcecadas pelos sapatinhos vermelhos, todo tipo de fato importante do ponto de vista cultural, pessoal ou ambiental é deixado de lado.”


Lição do Dia: pensando nas situações destrutivas que eu posso estar considerando banais.

Pendências: ajudando o namorado com os seus pepinos de trabalho.

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sábado, 20 de novembro de 2010

Dia 57 – Vale?

Capítulo 8 – A preservação do Self: A identificação de armadilhas, arapucas e iscas envenenadas

Conto: Os Sapatinhos Vermelhos
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Armadilha n° 6: O recuo diante do coletivo, a rebelião na sombra

“Ocasionalmente, o coletivo pressiona a mulher para ser uma santa, ser uma pessoa esclarecida, ser politicamente correta, ser controlada, para que cada uma das suas iniciativas resulte numa obra-prima. Se recuarmos diante do coletivo, cedendo às pressões no sentido de um conformismo irracional, estaremos protegidas do isolamento, mas, ao mesmo tempo, estaremos também traindo nossas vidas selvagens e as colocando em risco.”

Visualizem dois tipos de mulheres:

Uma Boa Mulher: graça, trabalhadora, prendada, esforçada, introvertida, recatada, submissa, dependente, delicada, respeitosa, amorosa, estudiosa, asseada, bem-educada, lógica e raciocínio, socialmente aceita, boa esposa, coerente, cuidadora, controlada e mãe.

Uma Mulher Selvagem: instinto, guerreira, artista, talentosa, extrovertida, comunicativa, insubordinada, independente, forte, leal, apaixonada, curiosa, vaidosa, sincera, intuição e emoção, socialmente rejeitada, boa parceira, intensa, provedora, impulsiva e líder.

No primeiro tipo eu coloquei algumas características que a sociedade usa para classificar uma mulher como ‘uma boa mulher’. Se vocês perceberem a Boa Mulher é aquela que é boa para alguém: para a sociedade, para a cultura, para os pais, para os homens, para o marido. No segundo tipo eu citei algumas características que identificam uma Mulher Selvagem. A Mulher Selvagem não pode ser classificada como ‘boa’ para ninguém, simplesmente pelo fato de que ela não vive para se adequar ao que os outros esperam dela, mas apenas para realizar e satisfazer o que sua alma deseja.

Eu concordo que nem tudo e preto ou branco, e que muitas mulheres possuem características dos dois tipos. Se for o seu caso quero te propor uma coisa: pense se as características que te definem como uma ‘boa mulher’ são realmente suas, ou se foram características que você desenvolveu para se sentir valorizada.

Infelizmente as mulheres aprendem desde muito pequenas que têm que controlar os seus impulsos selvagens e conquistar certos atributos para ter valor para os outros. Na necessidade de ser valorizada elas acabam ocultando certas qualidades, e se obrigando a desenvolver novas. ‘Do que adianta ser como eu sou se não serei valorizada, não serei aceita e  não conquistarei resultados?’, pensam as mulheres que optaram por ser ‘uma boa mulher’. ‘Se tudo o que quero conquistar na vida depende da minha capacidade de me adaptar ao que querem de mim, assim serei!’, concluem.

“Quando a mulher se recusa a dar apoio à coletividade árida, ela está se recusando a reprimir seu raciocínio selvagem, e seus atos seguem o mesmo caminho. A história dos sapatinhos vermelhos na sua essência nos ensina que a psique selvagem precisa ser devidamente protegida — através de uma inequívoca valorização de nós mesmas, com uma defesa veemente dos seus interesses, com uma recusa a se submeter a situações psíquicas pouco saudáveis. Aprendemos, também, que o lado selvagem, por sua energia e beleza, está sempre na mira de alguém, de alguma instituição, de algum grupo, seja com o objetivo de transformá-lo em troféu, seja com o objetivo de submetê-lo a limitação, alteração, domínio, eliminação, reformulação ou controle. O lado selvagem precisa sempre de um guarda junto ao portão, ou poderá ser utilizado para fins impróprios.”

É difícil pensar que uma mulher artificialmente adequada aos desejos dos outros queira por livre e espontânea vontade abrir mão de tudo o que conquistou. Mas ela deve, antes de mais nada, pensar nas conquistas que teria ao resolver construir sua vida por si só, baseada apenas nas suas crenças pessoais: liberdade, satisfação e sensação de plenitude.

Vale a pena ir contra o mundo inteiro para conquistar isso? Vale!

“Quando o coletivo é hostil à vida natural da mulher, em vez de aceitar os rótulos desrespeitados ou pejorativos que lhe são aplicados, ela pode e deve, como o patinho feio, resistir, agüentar e procurar aquilo a que ela pertence — e preferivelmente sobreviver a quem a rejeitou, vicejando e criando mais do que eles.”

Lembram do post que eu escrevi sobre a importância da persistência para atingir seu potencial? A persistência só tem sentido se você estiver lutando contra algo, ultrapassando obstáculos, e seguindo adiante. Ser a heroína da sua própria vida inclui obrigatoriamente ter que encarar todas as lutas. É o único modo de vencê-las.

“A natureza selvagem nos ensina que devemos enfrentar os desafios à medida que eles se apresentem. Quando os lobos são atormentados, eles não saem dizendo, "Ah, não! De novo!!!" Eles saltam, investem, correm, desaparecem, fingem-se de mortos, pulam na garganta do agressor, fazem o que tiver de ser feito. Portanto, não podemos ficar escandalizadas com a existência de entropia, deterioração, tempos difíceis. É preciso compreender que as armadilhas preparadas para capturar a alegria da mulher irão sempre se alterar e mudar de aparência, mas na nossa própria natureza selvagem nós iremos encontrar a energia absoluta, a libido exigida por todos os atos de coragem que forem necessários.”


Lição do Dia: me sentindo bem educadinha demais.

Pendências: lembrando de algumas relações que tenho onde eu preciso deixar de lado a menina boazinha e dizer umas belas verdades.

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