quinta-feira, 31 de março de 2011

Dia 107 – Funcionária / Namorada

Podem me chamar de insensível! Mas para mim relacionamentos e vida profissional fazem parte do mesmo pacote. Não acredito em ‘imagem profissional’ da mesma forma como não acredito em ‘passar determinada imagem’ num primeiro encontro. Somo a mesma pessoa em todas a situações, e reagimos à elas quase sempre da mesma forma. Seja no escritório, seja no quarto.

Sei que muitas mulheres só conseguiram atingir certo sucesso profissional ao montar um personagem e vivê-lo dia-a-dia no trabalho. Assim como também sei que muitas mulheres montaram uma imagem ‘de mulher para casar’ para seduzirem os seus parceiros. Não julgo. Juro! Só que desse jeito não funciona para mim. Já perdi a conta de quantos empregos e namorados perdi por ser ‘extremamente autêntica’ desde o início. E respeito muito meus ex-chefes e meus ex-namorados por me falarem ‘Vero, sinto muito, mas você não preenche o perfil que estou procurando’. Estão no seu direito. Sorte deles que perceberam a tempo e saíram procurando alguém mais adequada ao perfil, e sorte minha que fiquei livre no mercado para encontrar algo que tivesse mais em comum comigo.

Quando penso nos casos e rolos amorosos que temos, sempre lembro que eles muito se assemelham há um emprego. O primeiro encontro/entrevista é o momento de vocês se conhecerem, baterem os perfis, tirarem dúvidas, conversarem sobre seus históricos e sobre seus princípios. E a famosa pergunta: “Como você se vê daqui há 5 anos?” ou “Você está procurando um relacionamento sério?”. Há sempre um maravilhamento inicial, você acha que o emprego/namorado pode ser aquilo que você procura há tempos. Comenta com todo mundo, liga pros amigos desaparecidos para dar as novidades, pede dicas e indicações para os mais próximos. Todos ficam muito felizes e desejam boa sorte! Sua mãe então, nem se fala!

Depois vêm os conflitos: você quer algumas coisas feitas de uma forma e empresa/namorado quer de outra. Muito diálogo e algumas discussões depois, temos que no fim entrar em acordo de qualquer maneira. Você tenta esconder seus piores defeitos, assim como tenta expor suas qualidades também. Tenta se adaptar com leveza, ser mais tolerante, mais flexível. Mas, no fim do tempo de experiência não tem jeito: ou a contratação acontece ou não. E isso é imprevisível, ou foi você que não foi aprovada ou você que percebeu que o barco ia afundar e pulou fora antes do naufrágio!

Suas funções como namorada/funcionária são muito parecidas: realizar determinado número de tarefas, criar algumas coisas, manter outras já existentes funcionando. Você reclama de uma ou outra coisa que está fora do lugar e tenta aparar as pontas nas reuniões/DRs. A idéia é manter a coisa funcionando e de forma prazerosa para ambos os lados. Não adianta ser extremamente qualificada, mas um péssimo ser humano, nem adianta ser uma fofa de pessoa, e não acertar uma dentro.

Uma boa funcionária não deve trazer prejuízo para a empresa, deve focar sempre em aumentar os lucros. O mesmo num relacionamento: se você só entrega emoções ruins, situações pesadas, conflitos e problemas, e nenhuma solução, tem grandes chances de levar um pé na bunda. E o que é o lucro numa relação? É o seu nível de entrega, de envolvimento, companheirismo, de boas emoções, de ajuda, de cuidado, de amor, de paixão.

Durante o tempo em que você permanece na empresa/relacionamento muitas coisas acontecem. Você erra, mas aprende muito também. Acontecem coisas engraçadíssimas e vitórias que vão te marcar para o resto da vida. Claro que coisas ruins também fazem parte, e tem dias que você só quer chegar em casa, colocar a cabeça no travesseiro e chorar até dormir. Tem muita gente que consegue viver num emprego/relacionamento horrível, e sofrer por muitos e muitos anos, sem ter nunca coragem de sair dele. Medo de ficar sozinha/desempregada, ou de ganhar menos/arrumar alguém pior, seja qual for o motivo seus amigos e familiares não agüentam mais você reclamando e se lamentando o tempo inteiro. Mas, se você gosta do seu emprego/namorado, é claro que no final das contas tudo sempre vale à pena, os dias bons sempre superam as dificuldades!

Depois de algum tempo estável no mesmo emprego/relacionamento, é claro que surgem algumas dúvidas:
- estou no melhor emprego/relacionamento que poderia?
- minhas queixas/pedidos são atendidas?
- ganho o suficiente de remuneração/atenção?
- tenho para onde crescer ou ser promovida?
- deveria pensar em procurar outro emprego/namorado?
- os prós compensam os contras?
- meu relacionamento/emprego ocupa demais meu tempo e minha cabeça?
- ele é benéfico ou prejudicial a minha auto-estima/carreira?

Algumas vezes depois desse questionamento decidimos que é hora de dar um fim. Você fica triste e sente a perda, mas lembra que logo estará em uma nova empreitada! Percebe que aprendeu muito nesse tempo todo que passou, e que na pior das hipóteses, está mais experiente do que antes. De algumas coisas vai sentir muita falta, de outras não vai sentir nenhuma. Mas aquela experiência sempre vai te marcar de alguma forma.

Outras vezes, depois de muito sucesso e de você ter sido constantemente elogiada e promovida, o casal percebe que já está maduro o suficiente e resolve montar sua própria empresa. O nome dessa sociedade? Casamento!

O primeiro casamento/empreendimento das nossas vidas a gente nunca esquece. Seja do tamanho do namoradinho de infância/barraca de limonada ou de um marido pai de família/empresa de grande porte. De qualquer forma o início é sempre o mesmo: vender a idéia para seu futuro sócio! Depois disso começam as etapas de juntar capital inicial, planejar, procurar fornecedores, imóvel, móveis. Marcar a festa e data da inauguração é quase a realização de um sonho!

Mas depois você percebe que o maior trabalho é o que vem depois da inauguração. É capaz que tenha que trabalhar muito mais do que na época que era apenas uma funcionária/namorada. Investir todos os dias, trabalhar o dia inteiro, fazer muitos sacrifícios, muitas reuniões/DRs. Muitas vitórias também! As crises vão vir, você querendo ou não, e talvez seja necessário contratar um consultor especialista/terapeuta de casais. Se vocês vencerem os desafios e tiverem muito lucro talvez pensem em ter filiais/filhos. Já uma empresa/relacionamento está no vermelho há tempo provavelmente logo menos estará à beira da falência. E a melhor coisa a fazer é realmente fechar as portas e dividir as dívidas.

Homenagem às pessoas que são excelentes executivos mais são incapazes de investir no próprio relacionamento. Homenagem às pessoas que são excelentes parceiros, mas incapazes de serem responsáveis na vida profissional. Um brinde aos casais de espírito empreendedor! Abrir a própria empresa não é para qualquer um. E de certo, não é para mim.


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segunda-feira, 28 de março de 2011

Dia 106 – Centímetros

“Ao se caminhar para um objetivo, sobretudo um grande e distante objetivo, as menores coisas se tornam fundamentais. Uma hora perdida é uma hora perdida, e quando não se tem um rumo definido é muito fácil perder horas, dias ou anos, sem se dar conta disso. O mínimo progresso que se consegue fazer é importante, ainda que for de centímetros apenas." Amyr Klink

Embora eu tenha uma certa predileção por citar trechos do livro da Clarissa, não pude deixar de me encantar por essa frase de Amyr Klink. Ela ilustra perfeitamente o momento que eu estou vivendo agora. Quando estamos batalhando por um objetivo nosso, mas percebemos que ele ainda está muito distante do nosso presente, é muito fácil cair no poço sem fundo da procrastinação, a famosa arte de ‘deixar para amanhã tudo o que se pode fazer hoje’.

Bom, se faltam anos para terminar a faculdade faz diferença se eu não estudar essa semana? Se a minha viagem dos sonhos só vai acontecer daqui há meses, porque não gastar agora um pouco das minhas economias? Uma hora de ócio não vai atrapalhar o meu trabalho...

O hábito de colocar o prazer momentâneo na frente dos nossos objetivos maiores é um sinal claro de imaturidade. É sermos adolescentes na vida adulta. Uma semana, um dia ou uma hora, faz sim diferença no resultado final. E não podemos nos dar um luxo de lá na frente pensarmos “Ah! Se eu tivesse investido mais uma hora por dia nesse projeto, hoje eu já estaria colhendo seus frutos”. Infelizmente “se eu tivesse” não constrói nosso futuro. O “fazer agora” é que constrói.

Ter disciplina é conseguir se auto-motivar todos os dias para realizar um pouquinho que seja, para cada dia colocar um tijolinho a mais no projeto dos nossos sonhos. O futuro é um conjunto de muitos hojes, e não de muitos amanhãs.

Lição do Dia: um tijolinho por dia


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sábado, 26 de março de 2011

Dia 105 – Cabelos

A relação que as mulheres têm entre seu cabelo e sua auto-estima é muito engraçada. Eu nunca entendi direito o que é que rola na nossa cabeça para colocarmos tanta pressão em cima dos nossos pobres coitados cabeleireiros. Juro que se eu fosse uma profissional da área ia cortar exclusivamente o cabelo de rapazes. Na pior das hipóteses, se ficasse ruim eles simplesmente mandariam passar a máquina zero.

Como sempre fui bem desencanada desse negócio todo, achava engraçado minhas amigas dando ataque e chorando no salão, misturando um milhão de tintas para encontrar a cor perfeita, comprando uma dezena de máscaras que prometem resultados de top model. Passei toda a minha adolescência com o corte comprido e reto, que eu aparava sozinha em casa de tempos em tempos. Quando comecei a trabalhar me veio a vontade de dar uma repaginada no visual e cortei o clássico Chanel pela primeira vez. Corte que usaria por anos, e que virou minha marca registrada.

Foi interessante ver a reação das pessoas quando cortei pela primeira vez. As mulheres me admiravam pela coragem, os homens pela ousadia. Como se o fato de não estar mais no padrão feminino do cabelo longo e sexy, fosse um sinal de forte personalidade. Se pensarmos nas estatísticas, as usuárias dos curtíssimos normalmente estão na meia idade ou são aquelas garotas super descoladas e inteiras tatuadas. Quantas capas da Playboy mostram mulheres de cabelos curtíssimos? No imaginário surreal das fantasias masculinas é raro ter espaço para as do time dos curtinhos.

A opinião dos meus namorados variava bastante. Alguns achavam incrível, outros sentiam falta de ‘algo para pegar’ na hora H (esse comentário vale um chute no saco, ok?) e outros não simplesmente não entendiam meu horror aos cabelos compridos.

Sou daquelas mulheres bem práticas, para quem a vaidade só tem espaço até o ponto que não me atrasa a vida. Só que depois de anos eu comecei a ficar entediada ao me olhar no espelho e vi que a única alternativa para mudar o visual era deixar o cabelo crescer de novo. No último ano comemorei cada centímetro que crescia, quem aqui já passou por isso sabe bem como é essa neurose! Quando finalmente ele atingiu o comprimento que tinha no passado remoto, eu volto a estudar. E percebo que todas as minhas colegas de sala, no auge da adolescência, estavam com o mesmo corte que eu.

E aí eu vou correndo para o salão ter uma DR com o meu cabeleireiro: “Querido, você sabe que essa cara de menininha que eu tenho sempre me incomodou. Não adianta, vou sempre parecer 10 anos mais nova do que eu sou. Como eu não posso fazer nada a respeito, por favor, me deixe pelo menos com uma cara mais séria!”

E assim voltei ao Chanel.

Agora o dilema: todos os meus amigos brincam que eu tenho mais testosterona no corpo que qualquer macho-ogro por aí. Minha neura com o meu cabelo prova que de fato sou uma mulher como todas as outras, ou prova que sendo criada como uma mulher não sou imune à ataques bestas de futilidade de tempos em tempos?

Lição do Dia: eu também tenho meus ataques de futilidade.


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sexta-feira, 25 de março de 2011

Dia 104 – Vícios

Hoje eu quero escrever sobre os meus vícios. Vamos combinar que, primeiramente, não existe bons vício. Essa expressão é belíssima, mas não é verdadeira. Bons vícios são bons hábitos, no exagero, até TOCs. Mas vício, por definição: “é um hábito repetitivo que degenera ou causa algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem, e o oposto de virtude.” (Wikipédia).

Um dos maiores desafios para o nosso auto-conhecimento é identificar e falar a respeito dos nossos vícios. Largá-los então, muitas vezes só conseguimos após anos de disciplina e ajuda psicológica. Fiz um trabalho mental essa semana de tentar identificar meus vícios, alguns conhecidos, outros tão íntimos e pessoais, que alguém poderia passar décadas ao meu lado sem jamais enxergá-los. Muitos deles só descobri depois de ler e reler as análises feitas por Clarissa dos contos compartilhados aqui:

Vícios Psicológicos:

Sou viciada em relaxar num mundo de fantasia onde consigo resolver todos os problemas e onde sou a mulher que tanto almejo ser. Porque é um vício: porque apenas me faz perder tempo útil, quando poderia estaria investindo toda essa energia em resolver muitos desses problemas na vida prática. Descobri esse vício ao ler o conto A Menina dos Fósforos: http://contosclarissapinkolaestes.blogspot.com/2011/03/menininha-dos-fosforos.html

Sou viciada em fazer listas de tarefas. Mil listas. A grande maioria nunca sai do papel, ou seus itens são os mesmos há anos, e são sempre adiados. Porque é um vício: porque me dá a ilusão momentânea de que estou organizando a minha vida, mas na realidade uma lista no papel não vai resolver os problemas apenas porque estão escritos.

Sou viciada em discordar apenas pelo prazer de discordar. Desde a época que fiz filosofia viciei em destruir argumentos lógicos que parecem inquebráveis, apenas para achar o erro de raciocínio da pessoa. Porque isso é um vício: porque consigo transformar uma leve exposição de idéias dos meus amigos em uma discussão intelectual. Nem sempre as pessoas querem entrar em conflito, e quando se trata da visão de mundo que cada um tem não existem argumentos racionais que podem ser usados.

Sou viciada em imaginar sempre o pior dos cenários. Sério gente, já fui diagnosticada como uma pessimista crônica e isso é um distúrbio muito sério, que pode abalar a vida de alguém. Porque isso é um vício: porque eu quase morro de estresse/úlcera e futuramente posso desenvolver um câncer se eu continuar achando que: vou ser demitida cada vez que cometo um erro, que qualquer mancha na pele é melanoma, que minha mãe pode morrer a qualquer momento, que vou engravidar por acidente e por não ser planejado vou ser uma péssima mãe, que o dinheiro do mês nunca vai ser o suficiente, que vou ficar corcunda se não fizer RPG, e por aí vai.

Vícios Emocionais:

Sou viciada em receber atenção de quem eu amo. Na minha cabecinha doente se alguém que eu amo (família, amigos, namorados) deixar de demonstrar que eu existo e sou especial por mais de 15 dias eu entro em surto e fico com tendências sérias a terminar a amizade. Porque isso é um vício: me torna uma pessoa carente, que sempre precisa de um afago, e que lida muito mal com as perdas da vida. Descobri esse meu vício ao ler o conto O Patinho Feio e os Tipos de Mães: http://querocorrercomoslobos.blogspot.com/2010/10/dia-35-seu-tipo-de-mae.html

Sou viciada em receber cuidados, pelo simples prazer de ser cuidada. Mesmo não precisando acabo pedindo ajuda para pequenas tarefas de todos ao meu redor, porque isso me faz me sentir cuidada. Porque isso é um vício: porque substitui o carinho que não recebo da minha mãe por carinhos superficiais, e que no momento em que acabam eu já preciso de mais. Descobri esse vício com o conto Vasalisa: http://querocorrercomoslobos.blogspot.com/p/vasalisa.html

Sou viciada em precisar admirar alguém para amá-lo. Porque isso é um vício: porque meu parceiro precisa provar ser digno da minha admiração o tempo inteiro, caso contrário existem grandes chances do relacionamento ir pro brejo (e por minha causa).

Vícios de Rotina:

Sou viciada em sempre deixar tudo para o último minuto. Sou incapaz de fazer as coisas antes do prazo, pelo simples motivo de que se não precisa ser para agora, sempre existem coisas muito mais prazerosas para fazer. Porque isso é um vício: estou sempre atrasada e sempre correndo atrás do prejuízo.

Sou viciada em viver com pouquíssimos planos definidos. A partir do momento que eu traço uma meta ou desenvolvo uma plano, pronto! Já me sinto claustrofóbica, amordaçada e acorrentada. Porque é um vício: porque isso me faz ter fobia de coisas bacanas como casamento, maternidade, carreiras sólidas, ou qualquer outra que eu não possa me desvencilhar a qualquer momento, por meu bel prazer.

Sou viciada em fazer o máximo de coisas ao mesmo tempo. Em casa, fico com a TV e o som ligados, enquanto leio um livro, dobro as roupas e mexo no computador. No trabalho: uso mais ou menos uma 8 janelas do computador de um vez, respondo um e-mail, enquanto atualizo o site, entro no Facebook, monto um orçamento de um evento, falo com meu chefe pelo rádio e mando um SMS para o fornecedor. Na casa do namorado: podemos conversar, transar, tomar um vinho e ver um filme? Tipo, tudo junto e misturado?


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quarta-feira, 23 de março de 2011

Dia 103 – To Do List

Pagar contas: ok

Contratar free lancer: encaminhado

Comprar livros: ok

Comprar os suplementos alimentares: ok

Cortar o cabelo: ok

Organizar festa de aniversário do amigo para sexta: ok

Comprar os remédios receitados: ok

Montar grupo para os trabalhos da faculdade: ok

Ler dois periódicos de economia por semana: encaminhado

Marcar check up médico: ok

Ir ao dentista: ok

Economizar: ok

Guardar dinheiro: fail

Manter ‘lição de casa’ da faculdade em dia: fail

Acordar no horário todos os dias: ok

Arrancar duas ervas daninhas/seres humanos da minha vida: ok

Tirar bilhete único de estudante: fail

Escrever coisas interessantes e estimulante no blog: encaminhado

Proteger meu próprio espaço: ok

Proteger meu próprio tempo: fail


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terça-feira, 22 de março de 2011

Dia 102 – A Outsider

Eu prezo muito a diversidade nas minhas relações sociais. Me recuso a participar de grupos ou clubinhos fechados onde todos vêm da mesma camada social, têm carreiras parecidas e conversam sobre os mesmos assuntos. Andar apenas entre nossos iguais emburrece, porque nosso cérebro só aprende quando é confrontado com coisas novas. E isso inclui pessoas novas, e diferentes.

Se algum dia uma de vocês sair comigo para tomar um café, vai perceber que desde o meu círculo social mais íntimo até nas minhas relações de trabalho, todos os meus amigos são muito diferentes em alguma coisa. Entre meus fiéis escudeiros você encontra desde um artista plástico que ganha um salário mínimo até um promotor público que ganha na casa das dezenas de milhares de reais por mês. Do ponto de vista cultural a diferença é ainda mais absurda: temos um budista, um wicca, uma atéia, um protestante, um ‘sou tudo’ e uma médium. E confesso que como representante do grupo dos ateus fui a que tive mais dificuldade de desenvolver a tolerância religiosa.

E a gente não apenas se entende, mas também se ama. Claro que muitas vezes essa diversidade gera conflitos e discussões! Nesses momentos já aprendemos: percebendo que chegamos num ponto onde só vamos concordar que discordamos, encerramos o assunto com a conclusão que nesse determinado tópico nossos mundos não se tocam. E mudamos de assunto falando do novo clipe da Lady Gaga.

Eu acho que essa minha capacidade de adaptação vem de algo que eu senti a vida inteira, e que já comentei aqui quando falei do conto O Patinho Feio: a sensação de não pertencimento. Eu sempre fui o elemento estranho de todos os grupos que convivi. Isso me fez ganhar o apelido entre meus amigos de Forasteira, ou na gíria mais hype do momento: a Outsider.

Fiz uma escola particular de elite em São Paulo, mas era bolsista. Nunca me senti parte do grupo por causa disso, mas ao mesmo tempo conseguia circular livremente entre as patricinhas, os nerds, os politizados e os maconheiros. Durante o início da vida adulta participei de um grupo de lésbicas artistas, de politizados que estudavam ciências sociais, de nerds da faculdade e de garçons e garçonetes que trabalham que nem loucos para atender nos restaurantes e bares da capital.

De namorados também já tive de tudo um pouco: do cara que mora na extrema periferia da cidade e se mata para pagar a faculdade, até o designer moderninho dono do próprio escritório e fã da Apple. Também não sou da onda dos workaholics, nem dos que acham que a vida se resume a pagar contas, nem sou da galera que nos define pelas nossas carreiras. Me diferenciava das mulheres ao meu redor por me recusar a seguir os padrões familiares de “boa educação”. Também não me enquadro no grupo das mulheres solteiras em busca do príncipe encantado, já que não acredito que eles existam; nem das mulheres casadas, porque acho que temos que casar várias vezes na vida para aprender a amar; nem das que são mães, já que meu medo de criança beira à fobia.

Eu circulo bastante entre todos esses grupos citados, mas não pertenço a nenhum deles. Levo pra vida um pouquinho de cada um que passou, assim como tenho certeza que eles levam um pouquinho de mim também. Eu vivo numa cidade construída por imigrantes de diversas nacionalidades. Todos aqui são descendentes de uma cultura e de uma etnia diferentes. A gastronomia paulistana é uma mistureba de tudo o que é comestível no mundo. E isso é o que existe de mais belo em São Paulo.

Quando chego na faculdade fico chocada com a capacidade de uma universidade de segregar seus alunos em clubinhos isolados e fechados em si: a atlética, a juventude política, os gremistas, os promotores das festas, os cientistas, etc. A idéia não era fazer esses jovens expandirem suas atividades, enriquecendo sua vivência acadêmica? Não seria bacana eles aprenderem a se misturar em vez de se isolar?

Minha escolha de carreira foi feita pela possibilidade de fazer um milhão de coisas diferentes, de ter acesso aos cargos mais variados, conhecer gente nova o tempo todo e sempre desenvolver projetos que me tirem da rotina. A instabilidade, a novidade e as mudanças são o meu sinônimo de conforto. E, embora às vezes isso me traga uma solidão desgraçada, sempre me lembro que no fundo todos nós somos sozinhos. A diferença é que eu sinto isso na pele com mais freqüência do que as pessoas que sempre andaram entre seus iguais.

Ser outsider é bom: nos torna curiosos, tolerantes e responsáveis pela nossa própria felicidade. O que nos permite curtir o que existe de melhor nos seres humanos sem jogar em suas costas a obrigação de suprir nossas carências e de nos fazer feliz. Podemos sofrer mais, mas aprendemos a lição muito mais rápido também.

Lição do Dia: um brinde aos outsiders do mundo!


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segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia 101 – Vadia, eu?

Provavelmente se pegarmos um dicionário informal de gírias em português, vamos ver que a definição de mulher vadia gira em torno dos termos vagabunda, promíscua, prostituta e afins. Discordo.

Na minha opinião vadia é aquela mulher que é cruel. Ponto. Cruel em todos os sentidos. Ela é cruel quando trata mal as pessoas ao seu redor, quando dá patadas a torto e a direito, quando magoa ou ofende quem está por perto. Vadia para mim é aquela mulher que não se importa com os sentimentos alheios, que é incapaz de sentir empatia por qualquer ser humano, que constrói sua vida em torno dos seus desejos e de suas vontades. Vadia é aquela mulher que usa do sarcasmo e da ironia para diminuir os outros, que entra numa discussão pelo simples prazer de discordar, e que sente um prazer quase sexual quando ganha qualquer tipo de disputa. Mulher vadia é aquela mulher arrogante, prepotente e cheia de si, que vive como se ela se bastasse e como se os outros seres humanos não passassem de acessórios. Vadia é a mulher que não sente a consciência pesar quando manipula as pessoas, quando usa chantagem emocional ou até seus atributos físicos para conseguir o que quer.

Eu fui uma vadia nessas duas últimas semanas. E por isso parei de escrever. Porque não seria minimamente decente da minha parte falar sobre auto-conhecimento quando eu estava experimentando a fase mais baixa da minha evolução espiritual. Auto-punição. Funcionou pra mim.

Me permitam explicar antes que vocês saiam correndo daqui e nunca mais apareçam para ler meus escritos. Desde o Carnaval eu ando no limite das minhas forças físicas. E, junto com elas, foram embora também a maior parte das minhas fortalezas psíquicas, minha auto-estima e o meu bom senso. Entrei num esquema alucinante de trabalhar 12 horas por dia, 7 dias por semana, e assistir aulas super pesadas a manhã inteira depois de dormir apenas 3 horas. Resumindo: meu corpo deu pau e com ele, minha mente.

Eu estava tão cansada, mas tão casada, que mal conseguia enxergar um palmo diante do meu nariz. Meu cérebro foi ligado no automático, coisas a fazer, decisões a tomar, trabalhos a entregar, contas a pagar. Todos os meus desejos se resumiam à parte mais animal do meu ser: estou com sono, estou com fome, estou com sede. Quero chegar em casa, quero acordar no horário, que ler aquelas mil páginas do meu livro, quero entregar o projeto para o meu chefe. Fiquei irritadiça, intolerante, inflexível, grossa, de mau humor crônico. Qualquer pessoa que me desviasse do meu caminho era um inimigo em potencial. Qualquer amigo que viesse pedir conselhos amorosos era um fardo. Qualquer colega que deixava o trabalho a desejar era um incompetente.

Deu algum tipo de ‘tilt’ no meu cérebro que me tornou absolutamente sincera. Aquela sinceridade que não chega nem perto da honestidade, e sim da crueldade. Magoei pessoas, disse muitas coisas que não devia, arrumei brigas com o namorado, com os amigos, com os colegas de trabalho, com meu sogro. E não, não era TPM, nem inferno astral, nem depressão, nem falta de sexo: parecia que um exu dos fortes havia tomado conta do meu corpo, disposto a arruinar tudo o que eu havia construído.

Já diz o ditado que aqui se faz, aqui se paga, não é? Quando me veio a consciência de que eu estava vomitando todo o meu cansaço nas pessoas que eu gostava, que eu estava descontando minha frustração nas costas e caras alheias, fiquei um lixo. Chorei como se eu fosse a única sobrevivente de uma tragédia. Me amaldiçoei, me critiquei, fui muito, mas muito cruel comigo mesma. Pensei em abandonar a faculdade, o trabalho, o namorado, o blog. Que tipo de ser humano eu havia me tornado? Logo eu, que estou há anos trabalhando um pouquinho todos os dias para tentar ser uma pessoa mais sã e equilibrada?

E aí foi a vez de toda essa crueldade se voltar contra mim: minha boca estourou com mais de 7 bolhas, peguei gripe e conjuntivite na mesma semana, o lugar onde estava meu dente do siso, há anos atrás, começou a me dar choques que se espalhavam por toda a minha mandíbula. Minha gastrite atacou, sentia dores nas costas terríveis, e a insônia voltou com força total.

E foi aí que a coisa mais emocionante do mundo aconteceu! Todas as vítimas das minhas patadas e grosserias vieram cuidar de mim. Meu namorado se incumbiu dos remédios e das refeições, um amigo conseguiu os livros para a faculdade num sebo da cidade, minha mãe veio com um caixa de suplementos vitamínicos, um outro amigo me levou para o hospital, uma colega de trabalho fechou alguns projetos pendentes para mim, meu chefe diminuiu a minha carga horária, meus colegas da faculdade se responsabilizaram pela entrega dos trabalhos. E eu, sem entender nada, pensando “Porque é que vocês estão cuidando de mim? Vocês deveriam estar apontando o dedo na minha cara e dizendo bem feitoooo!!”.

E aí meu namorado vira para mim e diz: pare de se punir desse jeito que você vai desenvolver um câncer! Todo mundo tem seu dia de vadia!


Lição do Dia: me recuperando.

Pendências: em ordem, graças a ajuda recebida.

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terça-feira, 8 de março de 2011

Dia 100 – Porque eu não comemoro o Dia Internacional da Mulher

Eu acredito no direito de não comemorar o Dia Internacional das Mulheres!

Hoje é mais um daqueles dias que eu acordo com uma grande disposição para ser chata. Esses dias costumam ser sempre feriados ou dias especiais onde o Brasil e o mundo param para celebrar algo que eu publicamente discordo. Incluo na lista desses dias: o Dia das Mães, a Páscoa, o Dia dos Namorados e o Natal. Ué, se você tem o direito de acordar de mau humor quando seu time ou escola de samba perde, quando seu chefe te deu uma bronca homérica, quando brigou com seu namorado, ou simplesmente porque está com TPM, eu tenho o direito de acordar de mau humor no Dia Internacional da Mulher.

A primeira coisa que me tira do sério no dia 8 de Março de todo ano é a quantidade de ‘parabéns’ e ‘feliz dia das mulheres’ que eu escuto. E quase sempre essas frases politicamente corretas vêm de homens que não merecem nem o diploma da espécie humana. Um ogro passa o ano inteiro tratando as mulheres que nem objeto, submetendo uma funcionária simplesmente pelo fato de ser mulher, obrigando a mãe a lavar suas cuecas e tratando a namorada como uma escrava sexual. Aí, no dia 8 de Março, ele vem lindo e sorridente com uma rosa na mão e diz ‘parabéns para vocês, lindas!’. Só pode ser piada, né?!

Um cara mediano realmente acha que só porque têm colegas mulheres no trabalho e porque permite que sua namorada discorde de suas opiniões, não é machista. Não querido, veja bem: você é machista se mede uma mulher pelos seus atributos físicos, você é machista se acha que as mulheres lésbicas nunca tiveram um cara bom na cama, você é machista ao dizer que é complicado ter chefe mulher, você é machista quando senta com seus amigos num boteco e fala das bundas que passam pela calçada. Você é machista ao achar que uma mulher que dorme com você num primeiro encontro não deve ser levada a sério, e você é machista se diz que ‘quem gosta de homem é viado, mulher gosta é de dinheiro’.

Feliz Dia das Mulheres? Querido, tente imaginar nascer mulher num mundo onde mesmo talentosa, inteligente e bem sucedida se você não for casada será considerada uma pária social! Tente imaginar viver num mundo onde você quer desenvolver sua arte e te pressionam para ser mãe! Tente viver num mundo onde seu colega homem vai sempre ganhar mais do que você, mesmo não sendo tão capaz quanto você é. Ou num mundo onde somos assediadas diariamente na rua por homens desconhecidos que se acham no direito de nos tratar como um objeto sexual só pelo fato de termos nascido mulheres.

Eu não comemoro o Dia Internacional das Mulheres porque a existência dessa data parte do pressuposto que a revolução feminista já terminou. Esse dia dá a impressão de que a igualdade já foi atingida, e que agora as feministas deveriam cuidar da própria vida e parar de reclamar. Essa data representa que agora homens e mulheres podem voltar a se relacionar da mesma forma que na Idade Média, porque afinal, agora votamos e trabalhamos. Essa data significa que vamos receber os parabéns não por nossa intelectualidade, mas porque geramos, amamentamos, cuidamos, damos prazer e embelezamos a paisagem. Então não, eu não comemoro o Dia Internacional da Mulher.

“Em muitas culturas, existe uma expectativa, quando nasce uma filha, de que ela é ou será um certo tipo de pessoa, que aja de um certo modo consagrado pelo tempo, que siga um certo conjunto de valores que, se não forem idênticos aos da família, pelo menos se baseiem nos valores da família, e que seja como for, não abale os alicerces.”

Eu sinto a pressão dos valores machistas o tempo inteiro, do momento que eu acordo até a hora de ir dormir. As pessoas que me conhecem me acham muito revoltada com a vida. Mas gente, se eu não me revoltar com cada um desses acontecimentos, se eu me desacostumar a achá-los infundados, se eu não me mantiver firme em não aceitar ser rebaixada, ou pelo menos parar de pensar o quanto acho esses valores absurdos, uma hora o coletivo me vence. E quando vejo já estou achando tudo normal e aceitando os valores da maioria.

Quando eu decidi tornar a minha filosofia feminista uma prática na minha vida, eu nem imagina contra tudo o que eu teria que lutar. Não são lutas grandiosas e intelectuais não. São pequenas batalhas todos os dias, o tempo inteiro. E isso dá um trabalho desgraçado. Vocês têm idéia do quanto trabalhoso é manter sua mente pensante independente do padrão?

Infelizmente as mulheres aprendem desde muito pequenas que devem ter certos atributos para ter valor para os outros (onde está escrito outros, leia homens). Na necessidade de ser valorizadas, elas acabam ocultando certas qualidades e se obrigando a desenvolver novas. ‘Do que adianta ser como eu sou se não serei valorizada, não serei aceita e não conquistarei resultados?’, pensam as mulheres que optaram por ser ‘uma boa mulher’. ‘Se tudo o que quero conquistar na vida depende da minha capacidade de me adaptar ao que querem de mim, assim serei!’, concluem.

Imagine mulheres que apanham do marido todos os dias. Imagine mulheres que são submetidas às ordens de seus parentes mais próximos. Imagine mulheres que foram escravizadas pela maternidade e obrigadas a abandonar uma vida só sua. Imagine mulheres sendo vítimas de torturas psicológicas e violência emocional por anos. Imagine mulheres que abriram mão de realizar qualquer sonho pessoal em nome da família. Elas estão tão adaptadas, que a situação que no início parecia claustrofóbica e destrutiva, agora não passa de uma situação absolutamente normal.

Quando pensamos numa mulher que tomou uma decisão, aparentemente pequena, de pegar o caminho mais fácil e ser boazinha para ser valorizada pelos outros, estamos falando de uma mulher que no decorrer dos anos vai achar comum as mulheres serem tratadas com inferioridade, ganharem menos que os homens, virarem reféns de seus maridos. Tão comum, mas tão comum, que elas mesmas vão se levantar contra as mulheres que não aceitam as regras da sociedade e perpetuar essa escravidão: não vão permitir que as filhas tenham uma vida sexual saudável, não vão ensinar que se deve realizar seus sonhos, vão exigir que elas abandonem seus desejos em busca de uma vida socialmente estável. São essas mulheres que vão desdenhar das outras mulheres, daquelas que são solteiras, que não se importam com a ditadura da beleza, que não precisam de um homem ao seu lado para se sentirem plenas.

‘Ela é dona da própria empresa, mas não conseguiu casar, coitada!’
‘Ela ganha bastante dinheiro com a própria arte, mas não é uma tragédia que não tenha filhos?’
‘Ela é tão independente, é por isso que os homens não se aproximam dela!’
‘O marido dela não é tão legal, mas ela não vai encontrar coisa melhor!’
‘Como ela engordou! Ainda bem que já está casada!’
‘Você diz não para seu marido na cama? Assim você vai perdê-lo para outra.’

Se você é mulher e costuma fazer esse tipo de comentário depreciativo sobre outras mulheres, PARE AGORA! Você sendo está contribuindo com o machismo!

Já passou da hora de pensarmos se não estamos usando esse nosso maravilhoso talento de adaptação contra nós mesmas. Será que estamos nos acostumando com as coisas erradas? Será que já chegamos num ponto onde a violência, a ditadura, a fome e o machismo que submetem as mulheres, ficaram triviais?

“Uma mulher não pode tornar a cultura mais consciente apenas com a ordem de que se transforme. Ela pode, no entanto, mudar sua própria atitude para consigo mesma, fazendo com que projeções desvalorizadoras simplesmente ricocheteiem. (...) Essa dinâmica do amor-próprio e da aceitação de si mesma são o que dá início à mudança de atitudes na cultura.”


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sexta-feira, 4 de março de 2011

Novo Blog

Eu estava com uma grande dificuldade de publicar todos os contos do livro utilizando as páginas individuais. Para não ter que colocar mais de duas histórias em cada página resolvi criar um novo blog chamado Contos: Mulheres Que Correm Com Os Lobos.

Confira: http://contosclarissapinkolaestes.blogspot.com/

Lá eu publiquei todos os contos do livro. No menu à direita do novo blog você pode conferir todos eles organizados em ordem alfabética. A partir de hoje vou sempre publicar meus posts com o link para o conto na íntegra levando você diretamente para a página onde ele foi publicado, ok? deu um trabalhão, mas nada como passar o Carnaval na empresa para fazer a gente sentar a bunda na cadeira e se organizar, não é?

Vale lembrar: todos os contos foram retirados do livro Mulheres Que Correm Com Os Lobos - Mitos e Histórias do Arquétipos da Mulher Selvagem. Autora: Clarissa Pinkola Estés. Editora: Rocco.

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Dia 99 – Pendências

E aí você pensa ok, consegui voltar a estudar, ótimo! Porque sempre achamos que quando entramos num emprego novo, num relacionamento novo, numa faculdade nova, que isso já é sinônimo de sucesso, certo? Errado. É uma vitória sim, mas o sucesso ainda está um tiquinho mais a frente.

Mesmo já estando em recesso escolar por causa do carnaval, como uma boa aluna responsável resolvi dar uma passadinha na USP para resolver umas pendências administrativas. Acordei cedinho, comi um pedaço da pizza de ontem, e enfrentei o frio e a garoa de SP atrás do meu ônibus, que demorou quase meia hora para chegar.

Problema I: não estava conseguindo ter acesso ao sistema de web de graduação. Cheguei lá e já fui direto para s secretaria geral da minha unidade. De mau humor, o homem me diz que eu deveria conversar pessoalmente com o pessoal do meu curso. A moça que estava na secretaria linda e bela tomando um café não sabia que dizer o que estava acontecendo, já que no sistema dela estava tudo bem. Volto para a secretaria geral para o mesmo sujeito mau humorado me fazer entrar, sentar na frente do computador e mostrar para ele qual era o erro. Então ele percebe que como eu já fui aluna da USP em outras vidas, o sistema havia me cadastrado com a mesma senha que usei há 5 anos atrás. Ele consegue solicitar uma nova senha que será enviada para o meu e-mail.

Problema II: precisava tirar o meu Bilhete Único de estudante, se não quiser falir com o transporte público de São Paulo. A moça da minha secretaria manda eu ir novamente para a secretaria geral. Chegando lá o cara me diz que tem um bilhete no mural com as informações do passe estudantil. No bilhete diz que eu devo me apresentar na seção social do outro lado da cidade universitária com um comprovante de matrícula. Vou até a sala de informática ver se já chegou no meu e-mail a senha nova para o sistema de web , para acessar e imprimir o tal comprovante. Chegando na sala o estudante monitor mal educado me diz que eu deveria ter recebido a senha de acesso à sala de informática pelo sistema. Expliquei o meu desespero para ele que me permitiu acesso com a senha dele. Quando fui imprimir descubro que a USP fornece impressora e computadores, mas não fornece papel. Consegui uma folha de papel emprestada e imprimi o comprovante. Antes de sair peço ajuda para o aluno monitor para consegui acessar a rede wi-fi da USP do meu Mac. Ele diz que não sabe fazer isso e que eu deveria ir até a seção de tecnologia. Que estava fechada.

Com o comprovante em mãos vou até o outro lado do campus, me perco, começa a chover, mas chego firme e forte. Quando entro na sala a senhora funcionária pública diz que eu não posso pedir o passe por mim mesma, e que eu deveria esperar a reitoria mandar minhas informações para a SPTrans e conferir no sistema web quando eu poderia enviar os meus documentos. Quando saísse a data eu deveria ir até a próprioa SPTrans entregar os documentos. Mas ela não soube me dizer onde eu vou retirar a porcaria do Bilhete Único.

Problema III: preciso pegar o material de estudo no Xerox já que não tenho dinheiro para comprar os livros novos. Volto para a minha faculdade e vou até a seção de xerox onde deixo R$80 reais do meu suado dinheirinho em apostilas, textos e mais textos. Pego um ônibus lotado e faço o trajeto até o trabalho em pé com todas aquelas apostilas na mão.

Quando finalmente chego no trabalho descubro que hoje vou fazer um turno de 11hs por causa das festas de Carnaval. Checo meu e-mail e sou avisada que os outros 9 integrantes do meu grupo de monografia, todos de 17 anos, não vão poder decidir o tema do nosso trabalho agora, porque todos estão saindo para viajar.

“E assim caminha a humanidade, com passos de formiga e sem vontade...”


Lição do Dia: nem sempre as coisas dependem de você.

Pendências: trabalhar numa empresa que não faça eventos no carnaval.

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quarta-feira, 2 de março de 2011

Dia 98 – E as aulas começam

Hoje de manhã eu tive ir correndo ao dentista. Desde a semana passada eu sentia um dor terrível no dente, e já imaginava o tamanho do canal que a dentista ia descobrir. Mas aí, chegando no consultório, minha dentista me fala que não havia nada de errado com os meus dentes. Minha gengiva estava um pouquinho inflamada e só. Mas meu deus, dá onde vinha tanta dor? Psicossomática, diz minha dentista.

Eu escuto essa história de doenças psicossomáticas desde que eu tinha 17 anos e tive minha primeira úlcera psicológica. Então imaginem o quanto que eu fico irada quando eu escuto com toda essa idade na cara que, mais uma vez, a dor que eu estou sentindo vem da minha cabeça.

Segundo a minha psicóloga nada poderia ser mais óbvio: pessimismo gera preocupação, ansiedade e estresse. Tudo isso junto causa uma queda no nosso sistema imunológico. E aí querida, é só descer a ladeira: má digestão, intestino preso, dor de cabeça, herpes, gripes e resfriados, dores de estômago, dores nas costas, insônia, falta de apetite, irritação, cansaço e... inflamação na gengiva!

Sei que o motivo de tudo de repente ter começado a dar pau é a mudança radical que estou passando na minha rotina. As aulas começaram! Ou seja: agora tenho que ficar concentrada e produtiva pelo dobro do tempo que estava acostumada. E qual é a saída para passar por uma mudança dessas de rotina sem grandes traumas físicos?

Sabe quando a criançada volta às aulas depois das férias, e os pais pensam ‘Ai meu deus, como vamos colocar essa garotada na linha?’: organização! Ter horário para comer, para acordar, para sair de casa, para voltar. Comprar uma agenda 2011 bonitinha, anotar compromissos profissionais, médicos e datas de prova e entrega dos trabalhinhos.

Então comecei desde o início dessa semana a cuidar de mim como eu cuidaria de uma criança na pré-escola. Chegar pontualmente nas aulas, fazer anotações, marcar tudo na agenda. Ir pro trabalho, me dedicar como se eu só tivesse isso para fazer da vida. Saída do trabalho? Jantar, lição de casa, banho, cama.

E não é que funciona?

Então me perdoem se eu der uma desaparecida aqui nessas próximas duas semanas, mas sabem como é, estou com uma pilha de lição de casa para fazer, livros para ler, textos para fichar, e se eu não estiver na cama às 22hs em ponto com dentes escovados eu vou ficar muito brava comigo mesma.

Lição do Dia: Jantar, lição de casa, banho, cama.


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