Eu prezo muito a diversidade nas minhas relações sociais. Me recuso a participar de grupos ou clubinhos fechados onde todos vêm da mesma camada social, têm carreiras parecidas e conversam sobre os mesmos assuntos. Andar apenas entre nossos iguais emburrece, porque nosso cérebro só aprende quando é confrontado com coisas novas. E isso inclui pessoas novas, e diferentes.
Se algum dia uma de vocês sair comigo para tomar um café, vai perceber que desde o meu círculo social mais íntimo até nas minhas relações de trabalho, todos os meus amigos são muito diferentes em alguma coisa. Entre meus fiéis escudeiros você encontra desde um artista plástico que ganha um salário mínimo até um promotor público que ganha na casa das dezenas de milhares de reais por mês. Do ponto de vista cultural a diferença é ainda mais absurda: temos um budista, um wicca, uma atéia, um protestante, um ‘sou tudo’ e uma médium. E confesso que como representante do grupo dos ateus fui a que tive mais dificuldade de desenvolver a tolerância religiosa.
E a gente não apenas se entende, mas também se ama. Claro que muitas vezes essa diversidade gera conflitos e discussões! Nesses momentos já aprendemos: percebendo que chegamos num ponto onde só vamos concordar que discordamos, encerramos o assunto com a conclusão que nesse determinado tópico nossos mundos não se tocam. E mudamos de assunto falando do novo clipe da Lady Gaga.
Eu acho que essa minha capacidade de adaptação vem de algo que eu senti a vida inteira, e que já comentei aqui quando falei do conto O Patinho Feio: a sensação de não pertencimento. Eu sempre fui o elemento estranho de todos os grupos que convivi. Isso me fez ganhar o apelido entre meus amigos de Forasteira, ou na gíria mais hype do momento: a Outsider.
Fiz uma escola particular de elite em São Paulo, mas era bolsista. Nunca me senti parte do grupo por causa disso, mas ao mesmo tempo conseguia circular livremente entre as patricinhas, os nerds, os politizados e os maconheiros. Durante o início da vida adulta participei de um grupo de lésbicas artistas, de politizados que estudavam ciências sociais, de nerds da faculdade e de garçons e garçonetes que trabalham que nem loucos para atender nos restaurantes e bares da capital.
De namorados também já tive de tudo um pouco: do cara que mora na extrema periferia da cidade e se mata para pagar a faculdade, até o designer moderninho dono do próprio escritório e fã da Apple. Também não sou da onda dos workaholics, nem dos que acham que a vida se resume a pagar contas, nem sou da galera que nos define pelas nossas carreiras. Me diferenciava das mulheres ao meu redor por me recusar a seguir os padrões familiares de “boa educação”. Também não me enquadro no grupo das mulheres solteiras em busca do príncipe encantado, já que não acredito que eles existam; nem das mulheres casadas, porque acho que temos que casar várias vezes na vida para aprender a amar; nem das que são mães, já que meu medo de criança beira à fobia.
Eu circulo bastante entre todos esses grupos citados, mas não pertenço a nenhum deles. Levo pra vida um pouquinho de cada um que passou, assim como tenho certeza que eles levam um pouquinho de mim também. Eu vivo numa cidade construída por imigrantes de diversas nacionalidades. Todos aqui são descendentes de uma cultura e de uma etnia diferentes. A gastronomia paulistana é uma mistureba de tudo o que é comestível no mundo. E isso é o que existe de mais belo em São Paulo.
Quando chego na faculdade fico chocada com a capacidade de uma universidade de segregar seus alunos em clubinhos isolados e fechados em si: a atlética, a juventude política, os gremistas, os promotores das festas, os cientistas, etc. A idéia não era fazer esses jovens expandirem suas atividades, enriquecendo sua vivência acadêmica? Não seria bacana eles aprenderem a se misturar em vez de se isolar?
Minha escolha de carreira foi feita pela possibilidade de fazer um milhão de coisas diferentes, de ter acesso aos cargos mais variados, conhecer gente nova o tempo todo e sempre desenvolver projetos que me tirem da rotina. A instabilidade, a novidade e as mudanças são o meu sinônimo de conforto. E, embora às vezes isso me traga uma solidão desgraçada, sempre me lembro que no fundo todos nós somos sozinhos. A diferença é que eu sinto isso na pele com mais freqüência do que as pessoas que sempre andaram entre seus iguais.
Ser outsider é bom: nos torna curiosos, tolerantes e responsáveis pela nossa própria felicidade. O que nos permite curtir o que existe de melhor nos seres humanos sem jogar em suas costas a obrigação de suprir nossas carências e de nos fazer feliz. Podemos sofrer mais, mas aprendemos a lição muito mais rápido também.
Lição do Dia: um brinde aos outsiders do mundo!
Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com
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