Podem me chamar de insensível! Mas para mim relacionamentos e vida profissional fazem parte do mesmo pacote. Não acredito em ‘imagem profissional’ da mesma forma como não acredito em ‘passar determinada imagem’ num primeiro encontro. Somo a mesma pessoa em todas a situações, e reagimos à elas quase sempre da mesma forma. Seja no escritório, seja no quarto.
Sei que muitas mulheres só conseguiram atingir certo sucesso profissional ao montar um personagem e vivê-lo dia-a-dia no trabalho. Assim como também sei que muitas mulheres montaram uma imagem ‘de mulher para casar’ para seduzirem os seus parceiros. Não julgo. Juro! Só que desse jeito não funciona para mim. Já perdi a conta de quantos empregos e namorados perdi por ser ‘extremamente autêntica’ desde o início. E respeito muito meus ex-chefes e meus ex-namorados por me falarem ‘Vero, sinto muito, mas você não preenche o perfil que estou procurando’. Estão no seu direito. Sorte deles que perceberam a tempo e saíram procurando alguém mais adequada ao perfil, e sorte minha que fiquei livre no mercado para encontrar algo que tivesse mais em comum comigo.
Quando penso nos casos e rolos amorosos que temos, sempre lembro que eles muito se assemelham há um emprego. O primeiro encontro/entrevista é o momento de vocês se conhecerem, baterem os perfis, tirarem dúvidas, conversarem sobre seus históricos e sobre seus princípios. E a famosa pergunta: “Como você se vê daqui há 5 anos?” ou “Você está procurando um relacionamento sério?”. Há sempre um maravilhamento inicial, você acha que o emprego/namorado pode ser aquilo que você procura há tempos. Comenta com todo mundo, liga pros amigos desaparecidos para dar as novidades, pede dicas e indicações para os mais próximos. Todos ficam muito felizes e desejam boa sorte! Sua mãe então, nem se fala!
Depois vêm os conflitos: você quer algumas coisas feitas de uma forma e empresa/namorado quer de outra. Muito diálogo e algumas discussões depois, temos que no fim entrar em acordo de qualquer maneira. Você tenta esconder seus piores defeitos, assim como tenta expor suas qualidades também. Tenta se adaptar com leveza, ser mais tolerante, mais flexível. Mas, no fim do tempo de experiência não tem jeito: ou a contratação acontece ou não. E isso é imprevisível, ou foi você que não foi aprovada ou você que percebeu que o barco ia afundar e pulou fora antes do naufrágio!
Suas funções como namorada/funcionária são muito parecidas: realizar determinado número de tarefas, criar algumas coisas, manter outras já existentes funcionando. Você reclama de uma ou outra coisa que está fora do lugar e tenta aparar as pontas nas reuniões/DRs. A idéia é manter a coisa funcionando e de forma prazerosa para ambos os lados. Não adianta ser extremamente qualificada, mas um péssimo ser humano, nem adianta ser uma fofa de pessoa, e não acertar uma dentro.
Uma boa funcionária não deve trazer prejuízo para a empresa, deve focar sempre em aumentar os lucros. O mesmo num relacionamento: se você só entrega emoções ruins, situações pesadas, conflitos e problemas, e nenhuma solução, tem grandes chances de levar um pé na bunda. E o que é o lucro numa relação? É o seu nível de entrega, de envolvimento, companheirismo, de boas emoções, de ajuda, de cuidado, de amor, de paixão.
Durante o tempo em que você permanece na empresa/relacionamento muitas coisas acontecem. Você erra, mas aprende muito também. Acontecem coisas engraçadíssimas e vitórias que vão te marcar para o resto da vida. Claro que coisas ruins também fazem parte, e tem dias que você só quer chegar em casa, colocar a cabeça no travesseiro e chorar até dormir. Tem muita gente que consegue viver num emprego/relacionamento horrível, e sofrer por muitos e muitos anos, sem ter nunca coragem de sair dele. Medo de ficar sozinha/desempregada, ou de ganhar menos/arrumar alguém pior, seja qual for o motivo seus amigos e familiares não agüentam mais você reclamando e se lamentando o tempo inteiro. Mas, se você gosta do seu emprego/namorado, é claro que no final das contas tudo sempre vale à pena, os dias bons sempre superam as dificuldades!
Depois de algum tempo estável no mesmo emprego/relacionamento, é claro que surgem algumas dúvidas:
- estou no melhor emprego/relacionamento que poderia?
- minhas queixas/pedidos são atendidas?
- ganho o suficiente de remuneração/atenção?
- tenho para onde crescer ou ser promovida?
- deveria pensar em procurar outro emprego/namorado?
- os prós compensam os contras?
- meu relacionamento/emprego ocupa demais meu tempo e minha cabeça?
- ele é benéfico ou prejudicial a minha auto-estima/carreira?
Algumas vezes depois desse questionamento decidimos que é hora de dar um fim. Você fica triste e sente a perda, mas lembra que logo estará em uma nova empreitada! Percebe que aprendeu muito nesse tempo todo que passou, e que na pior das hipóteses, está mais experiente do que antes. De algumas coisas vai sentir muita falta, de outras não vai sentir nenhuma. Mas aquela experiência sempre vai te marcar de alguma forma.
Outras vezes, depois de muito sucesso e de você ter sido constantemente elogiada e promovida, o casal percebe que já está maduro o suficiente e resolve montar sua própria empresa. O nome dessa sociedade? Casamento!
O primeiro casamento/empreendimento das nossas vidas a gente nunca esquece. Seja do tamanho do namoradinho de infância/barraca de limonada ou de um marido pai de família/empresa de grande porte. De qualquer forma o início é sempre o mesmo: vender a idéia para seu futuro sócio! Depois disso começam as etapas de juntar capital inicial, planejar, procurar fornecedores, imóvel, móveis. Marcar a festa e data da inauguração é quase a realização de um sonho!
Mas depois você percebe que o maior trabalho é o que vem depois da inauguração. É capaz que tenha que trabalhar muito mais do que na época que era apenas uma funcionária/namorada. Investir todos os dias, trabalhar o dia inteiro, fazer muitos sacrifícios, muitas reuniões/DRs. Muitas vitórias também! As crises vão vir, você querendo ou não, e talvez seja necessário contratar um consultor especialista/terapeuta de casais. Se vocês vencerem os desafios e tiverem muito lucro talvez pensem em ter filiais/filhos. Já uma empresa/relacionamento está no vermelho há tempo provavelmente logo menos estará à beira da falência. E a melhor coisa a fazer é realmente fechar as portas e dividir as dívidas.
Homenagem às pessoas que são excelentes executivos mais são incapazes de investir no próprio relacionamento. Homenagem às pessoas que são excelentes parceiros, mas incapazes de serem responsáveis na vida profissional. Um brinde aos casais de espírito empreendedor! Abrir a própria empresa não é para qualquer um. E de certo, não é para mim.
Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com
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