Capítulo 4 – O parceiro: união com o outro
Conto: Um hino para o homem selvagem: Manawee.
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A sedução furtiva dos apetites
Ah, chegamos a minha parte predileta do conto Manawee!
“Não é por acaso que homens e mulheres se esforçam tanto para descobrir o lado mais profundo da sua natureza e, no entanto, têm sua atenção desviada por inúmeras razões, em sua maioria prazeres de diversos tipos. Alguns tornam-se dependentes dessas preferências e ficam para sempre enredados nelas, sem conseguir jamais continuar seu trabalho”
“Os apetites são muitas vezes forajidos pequenos e encantadores, ladrões, dedicados ao roubo do tempo e da libido. Do seu tempo e da sua libido. Jung observou que é preciso impor algum controle aos apetites humanos. Se não, como podemos ver, iremos parar a cada osso que apareça na estrada, a cada torta esfriando numa tora.
“Não se passa um mês sem que eu não ouça de um analisado alguma das seguintes queixas: ‘Bem, desviei minha atenção do trabalho sério porque entrei numa fase de grande excitação sexual que levou sete dias para ser controlada’, ‘... porque resolvi que esta era a época exata para dar uma podadinha em todas as minhas quinhentas plantas ornamentais’ ou ainda ‘... porque entrei em sete novas iniciativas criativas, adorei o que estava fazendo e depois concluí que nenhuma delas realmente ia dar em nada e joguei tudo para o alto’.”
Agora eu pergunto a vocês:
- Quantas de vocês ocupam seu tempo quase completo com os afazeres diários do trabalho e família e esquecem seus sonhos e projetos largados numa lista?
- Quantas de vocês se planejam para começar um projeto novo, e semana depois percebem que largaram o processo no início?
- Quantas de vocês repetem ano a ano, as mesmas listas desejos de aniversários e promessas de ano novo?
- Quantas de vocês largam os prazos que deram para parar de fumar, começar a academia, começar a ler, voltar a estudar?
Por anos eu tenho feito isso! A idéia de começar esse blog foi exatamente lembrar todos os dias do trabalho real que tenho que fazer! Estou conseguindo escrever um pouquinho todos os dias, mas mesmo assim, diversas vezes largo a lição de casa para me envolver em um milhão de coisas inúteis. Largo os estudos para o concurso para encontrar os amigos, largo as noites que marquei para arrumar minhas coisas para ficar na frente da TV, largo horas e horas de trabalho para ficar vendo porcaria na Internet.
Agora me respondam: se isso não é auto-boicote, isso é o que?
Eu estou cansada de refazer listas de coisas que quero realizar e, quando vejo, se passou um ano inteiro e eu até me esqueci do que havia planejado! Sei que focar nas coisas que realmente importam é uma tarefa árdua e que exige um esforço contínuo, todos os dias, com a mesma intensidade. E quando vemos as coisas que queremos fazer pensamos em todo o trabalho que temos pela frente e simplesmente nos auto-boicotamos dizendo “Ah, hoje não, amanhã começo!”
Semana passada eu cheguei mais uma vez na terapia reclamando das mesmas mil coisas que reclamo desde que cheguei lá, entre elas: preciso dormir mais cedo, preciso acordar mais cedo, preciso comer melhor, preciso fazer aula de línguas, preciso ler mais, preciso começar a fazer exercícios, preciso estudar para o concurso, preciso focar mais no trabalho, preciso colocar minhas contas em dia, preciso começar a economizar dinheiro, preciso comprar roupas novas para o trabalho, preciso começar a cuidar da minha pele, preciso ganhar peso, preciso, preciso, preciso!!!
Minha terapeuta me lançou um olhar lá da poltrona dela que doeu mais do que um tapa na cara: “Você está reclamando das mesmas coisas há mais de um ano, e até agora não tirou sua bunda da cadeira para de fato começar! E se começa, logo pensa em mil dificuldades reais e imaginárias, e abandona tudo! Se você vai passar o resto da sua vida se auto-boicotando, não tem nada que eu possa fazer por você!”
Ai! Essa doeu...
Mas como, como é que fazemos para quebrar o ciclo do auto-boicote?
Minha terapeuta sempre fala que quem se auto-boicota costuma ser ansiosa e pessimista quanto ao futuro. Então ela me deu alguns passos para começar a sair dessa prisão:
1) Para começar a quebrar esse ciclo a primeira coisa que devemos fazer é esquecer o amanhã e focar apenas no dia de hoje. Começamos dando prioridade para 5 coisas que queremos e podemos mudar AGORA no nosso cotidiano. Não podemos começar já com coisas difíceis, temos que equilibrar: 2 mudanças difíceis, 2 fáceis e 1 média.
Aí vai a minha listinha:
A - Comer melhor – mudança difícil
B - Acordar mais cedo – mudança difícil
C - Começar a estudar – mudança fácil
D - Cuidar da pele – mudança fácil
E - Organizar as finanças – mudança média
2) Pensar em o que você precisa para que cada uma dessas coisas aconteça: tempo livre, produtos, livros, dinheiro? Se dê um prazo para conseguir tudo o que precisa para começá-las. Lembre-se de não cair em mudanças que se anulam pelas próprias dificuldades do tipo: preciso de dinheiro, logo preciso contratar um contador pessoal para me ajudar, logo preciso de dinheiro para contratá-lo. Não!
A – Comer melhor: Preciso de receitas para sanduíches rápidos e baratos para comer de café da manhã e trazer para o trabalho. Preciso de tempo para fazer os lanches. Preciso comprar todos os dias 1 garrafa de água de 500ml e enchê-la durante o dia.
B – Acordar mais cedo: Preciso conseguir dormir mais cedo e levantar assim que o despertador tocar.
C – Começar a estudar: Preciso reservar um tempo de no mínimo 2hs em que eu esteja absolutamente sozinha para estudar todos os dias.
D – Cuidar da pele: Preciso comprar os produtos que a dermatologista indicou, conseguir acordar um pouco mais cedo para fazer a rotina da manhã, e me lembrar de repeti-la antes de dormir. Comprar uma necessaire para levar os produtos quando for dormir na casa do namorado.
E – Organizar as finanças: Preciso achar algum livro, tabela ou site que me ajude a controlar tudo o que gasto.
3 – Organizar um cronograma diário com os horários que você vai se dedicar para essas tarefas. Que horas vai fazer, por quanto tempo e aonde.
Antes que vocês me chamem de preguiçosa, quero avisar que trabalho no período da tarde/noite, e por isso costumo dormir todos os dias por volta das 4, 5 AM. Logo, acordar às 10hs da manhã é sim um desafio para mim! Hehehe.
10:00hs – Levantar da cama.
10:15hs – Cuidar da pele.
10:30hs – Preparar café da manhã e lanches da tarde. Se for dormir fora de casa ou prepare antes, ou levante mais cedo para comprar na padaria.
11:00hs – Sair mais cedo de casa para almoçar. Chega de chegar no trabalho de estômago vazio!
20:30hs – fazer uma pausa no trabalho para estudar por, no mínimo, umas duas horas. Amigos e namorado só depois das 22:30hs, ou se eu já tiver estudado no período da manhã.
24:00hs – Banho e rotina de cuidados para a pele.
02:00hs – No mais tardar: CAMA!
Dia de Folga: separar 2hs para fazer a planilha financeira, reunir boletos, comprovantes, e ver as contas que devem ser pagas na próxima semana.
Horários sujeitos à alterações nos dias de folga que não, não são aos finais de semana!
3) Copiar a listinha e o cronograma num papel cartão ou mandar plastificar. Levar com você para onde quer que você vá. Durante o dia ter o hábito de checá-la e antes de dormir, só deitar na cama depois que você tiver feito todas as tarefas do dia!
4) Mostrar a lista para alguém próximo que você confie: marido, namorado, melhor amiga, mãe, chefe, e pedir para a pessoa te lembrar de suas tarefas. Bom, no meu caso, o namorado já está incumbido de me ajudar, já que durmo na casa dele um dia sim, um dia não.
5) Assim que você não precisar mais do auxílio da lista e do cronograma, é porque as mudanças já fazem parte do seu dia-a-dia. Nesse caso fazer uma nova lista com mais 5 mudanças e começar tudo de novo!
“A lembrança da verdadeira tarefa e sua repetida recordação dentro de nós mesmas, no estilo de um mantra, nos devolverá a consciência.”
Eu já ia colocar mais uma lista engatilhada aqui, mas minha terapeuta repetiu milhares de vezes que fazer as listas futuras agora vai causar mais ansiedade ainda, então me seguro.
Como a história que estamos estudando fala sobre a união com o parceiro, depois de nos dar um puxão de orelha daqueles, o livro continua:
“Os pretendentes è procura dos nomes das dualidades podem perder sua determinação quando são tentados a sair do caminho. Isso pode ocorrer especialmente se eles próprios forem criaturas ferozes ou esfaimadas. Além do mais, ele podem se esquecer do que os motivava a agir. Eles podem ser tentados/atacados por algum aspecto do seu próprio inconsciente que deseja se impor às mulheres para tirar vantagens, seduzir as mulheres para seu próprio prazer ou num esforço no sentido de acabar com uma sensação de vazio típica do caçador.”
Às vezes um parceiro entra nas nossas vidas como a própria distração do nosso verdadeiro trabalho. Quantas vezes deixamos de fazer as nossas coisas ou adiamos nossos projetos por causa de uma nova paixão, ou por que equilibramos nossa rotina com a dele de forma que não nos é favorável?
Esse problema foi muito sério no início do meu atual relacionamento. Quando comecei a namorar no ano passado eu trabalhava durante o dia e ele, a noite. O que significava que eu simplesmente não dormia para conseguir acompanhar a sua rotina. Depois de meses de stress e cansaço, conseguimos sentar e conversar: organizamos nosso cronograma com os dias que eu dormiria mais tarde para vê-lo e os dias que ele acordaria mais cedo para me ver. No meio desse ano a situação de inverteu: eu passei a trabalhar a noite e ele, durante o dia. Novamente tivemos que realinhar nossos horários.
Muitas vezes nosso parceiro é a distração porque ele não tem o compromisso, como nós estamos tendo, de tentar se melhorar, entrar em contato com seu eu interior, manter o hábito de olhar para dentro de si mesmo e se conhecer melhor. Nesse caso é comum que o parceiro seja a âncora que nos leve para baixo junto com seu ciclo auto-depreciativo. Se seu parceiro não está interessado em fazer essa jornada de auto-conhecimento, é bem capaz de você está do lado de alguém que pretenda para sempre continuar com seus maus hábitos, defeitos e vícios. Cuidado!
Mas, o que eu vejo na grande maioria dos casos é quando o parceiro simplesmente não consegue se envolver no relacionamento do jeito que deveria, por causa do boicote do seu próprio subconsciente. Desculpas como: “Não estou num bom momento de vida para me relacionar”, “Estou muito focado no trabalho”, “Minha vida social é muito importante para mim”, “Não consigo me prender a uma só parceira”, “Tenho problemas com intimidade”, “Ainda não me curei do meu último relacionamento”, etc, são todas dicas de que o cara que estamos afim não é o parceiro que vai lutar para compreender a Mulher Selvagem dentro de nós.
Diante de qualquer uma dessas pistas, ou quando seu instinto farejar qualquer coisa de errado, a atitude é uma só: FUJA!
Pendências: procurando por sites de receitas culinárias e de planejamento financeiro.
Leia o Conto Manawee completo: http://querocorrercomoslobos.blogspot.com/p/manawee.html
Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com
Um comentário:
Vero,
A propósito do seu post: "O parceiro: união com o outro"
Não sei, fiquei pensando um monte depois que li o post.
Acho que a culpa afinal é nossa. Às vezes nos apaixonamos infinitamente por alguém que não tem nada a ver com a gente. E lutamos por esse relacionamento com unhas e dentes, sem ao menos ver que a pessoa não está minimamente envolvida conosco. E ele vai inventando desculpas e mais desculpas, e vamos aceitando e nos afundando cada vez mais. E não prestamos atenção às evidências todas que se avizinham. E que deveriam nos mostrar o que verdadeiramente ocorre.
Sabe, sinceramente?
Cansei de me relacionar.
Um beijo
Carla
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