segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia 101 – Vadia, eu?

Provavelmente se pegarmos um dicionário informal de gírias em português, vamos ver que a definição de mulher vadia gira em torno dos termos vagabunda, promíscua, prostituta e afins. Discordo.

Na minha opinião vadia é aquela mulher que é cruel. Ponto. Cruel em todos os sentidos. Ela é cruel quando trata mal as pessoas ao seu redor, quando dá patadas a torto e a direito, quando magoa ou ofende quem está por perto. Vadia para mim é aquela mulher que não se importa com os sentimentos alheios, que é incapaz de sentir empatia por qualquer ser humano, que constrói sua vida em torno dos seus desejos e de suas vontades. Vadia é aquela mulher que usa do sarcasmo e da ironia para diminuir os outros, que entra numa discussão pelo simples prazer de discordar, e que sente um prazer quase sexual quando ganha qualquer tipo de disputa. Mulher vadia é aquela mulher arrogante, prepotente e cheia de si, que vive como se ela se bastasse e como se os outros seres humanos não passassem de acessórios. Vadia é a mulher que não sente a consciência pesar quando manipula as pessoas, quando usa chantagem emocional ou até seus atributos físicos para conseguir o que quer.

Eu fui uma vadia nessas duas últimas semanas. E por isso parei de escrever. Porque não seria minimamente decente da minha parte falar sobre auto-conhecimento quando eu estava experimentando a fase mais baixa da minha evolução espiritual. Auto-punição. Funcionou pra mim.

Me permitam explicar antes que vocês saiam correndo daqui e nunca mais apareçam para ler meus escritos. Desde o Carnaval eu ando no limite das minhas forças físicas. E, junto com elas, foram embora também a maior parte das minhas fortalezas psíquicas, minha auto-estima e o meu bom senso. Entrei num esquema alucinante de trabalhar 12 horas por dia, 7 dias por semana, e assistir aulas super pesadas a manhã inteira depois de dormir apenas 3 horas. Resumindo: meu corpo deu pau e com ele, minha mente.

Eu estava tão cansada, mas tão casada, que mal conseguia enxergar um palmo diante do meu nariz. Meu cérebro foi ligado no automático, coisas a fazer, decisões a tomar, trabalhos a entregar, contas a pagar. Todos os meus desejos se resumiam à parte mais animal do meu ser: estou com sono, estou com fome, estou com sede. Quero chegar em casa, quero acordar no horário, que ler aquelas mil páginas do meu livro, quero entregar o projeto para o meu chefe. Fiquei irritadiça, intolerante, inflexível, grossa, de mau humor crônico. Qualquer pessoa que me desviasse do meu caminho era um inimigo em potencial. Qualquer amigo que viesse pedir conselhos amorosos era um fardo. Qualquer colega que deixava o trabalho a desejar era um incompetente.

Deu algum tipo de ‘tilt’ no meu cérebro que me tornou absolutamente sincera. Aquela sinceridade que não chega nem perto da honestidade, e sim da crueldade. Magoei pessoas, disse muitas coisas que não devia, arrumei brigas com o namorado, com os amigos, com os colegas de trabalho, com meu sogro. E não, não era TPM, nem inferno astral, nem depressão, nem falta de sexo: parecia que um exu dos fortes havia tomado conta do meu corpo, disposto a arruinar tudo o que eu havia construído.

Já diz o ditado que aqui se faz, aqui se paga, não é? Quando me veio a consciência de que eu estava vomitando todo o meu cansaço nas pessoas que eu gostava, que eu estava descontando minha frustração nas costas e caras alheias, fiquei um lixo. Chorei como se eu fosse a única sobrevivente de uma tragédia. Me amaldiçoei, me critiquei, fui muito, mas muito cruel comigo mesma. Pensei em abandonar a faculdade, o trabalho, o namorado, o blog. Que tipo de ser humano eu havia me tornado? Logo eu, que estou há anos trabalhando um pouquinho todos os dias para tentar ser uma pessoa mais sã e equilibrada?

E aí foi a vez de toda essa crueldade se voltar contra mim: minha boca estourou com mais de 7 bolhas, peguei gripe e conjuntivite na mesma semana, o lugar onde estava meu dente do siso, há anos atrás, começou a me dar choques que se espalhavam por toda a minha mandíbula. Minha gastrite atacou, sentia dores nas costas terríveis, e a insônia voltou com força total.

E foi aí que a coisa mais emocionante do mundo aconteceu! Todas as vítimas das minhas patadas e grosserias vieram cuidar de mim. Meu namorado se incumbiu dos remédios e das refeições, um amigo conseguiu os livros para a faculdade num sebo da cidade, minha mãe veio com um caixa de suplementos vitamínicos, um outro amigo me levou para o hospital, uma colega de trabalho fechou alguns projetos pendentes para mim, meu chefe diminuiu a minha carga horária, meus colegas da faculdade se responsabilizaram pela entrega dos trabalhos. E eu, sem entender nada, pensando “Porque é que vocês estão cuidando de mim? Vocês deveriam estar apontando o dedo na minha cara e dizendo bem feitoooo!!”.

E aí meu namorado vira para mim e diz: pare de se punir desse jeito que você vai desenvolver um câncer! Todo mundo tem seu dia de vadia!


Lição do Dia: me recuperando.

Pendências: em ordem, graças a ajuda recebida.

Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com

2 comentários:

Anônimo disse...

Vc emociona muito, mas hoje eu lacrimejei no trabalho lendo seu post. Todo mundo fica meio vadia quando ultrapassa seus limites. Já fiz isso muitas vezes, infelizmente.
Sorte para nós!!

Lena disse...

Vero,
todos eles perceberam que essa Veronica-Vadia, não era a verdadeira veronica.
Eles não te culparam, eles te compreenderam.
Então tabmém não há motivos pra vc ficar se culpando.