Alguns amigos meus estão me perguntando por que raios eu estou me apoiando no livro “Mulheres que Correm Com Os Lobos” para sair do limbo psicológico em que estou.
Bom, em primeiro lugar, eu sempre fui uma garota tipicamente urbana e cosmopolita. O que quer dizer, que a minha vida sempre girou em torno das tarefas do dia-a-dia, dos compromissos sociais e profissionais, e na tentativa de criar um plano para “uma vida de sucesso”.
Sempre vivi em bairros extremamente urbanizados, dentro de uma das maiores cidades do mundo: São Paulo. Sou extremamente agitada, estressada e ansiosa e, sinceramente, não sei mais dizer se são características minhas, ou se absorvi o clima da cidade louca em que moro. Minha agenda está sempre cheia, meus compromissos sempre encavalados, sempre tenho uma lista interminável de tarefas a cumprir, pessoas para ver, coisas para comprar. E o pior é ter que fazer tudo isso, sempre atrasado por causa do trânsito, no meio do barulho das ruas, da fumaça dos carros, do lixo do chão, sem ao menos conseguir caminhar reparando na paisagem ou sequer olhando para as pessoas.
Lembro de um professor meu que dizia que em São Paulo as pessoas andam olhando para o chão, não conseguimos reparar com detalhes em mais nada que esteja a mais de 100 metros da gente. E não olhamos para as pessoas, simplesmente trombamos com elas.
A agitação cultural de São Paulo é, na minha opinião, um fator puta estressante. Sempre tenho a sensação de que não estamos aproveitando tudo o que devemos! Temos exposições para acompanhar, filmes para assistir, livros para ler, shows para ir. Nossa vida social nunca é agitada o suficiente, precisamos estudar mais línguas, aproveitar mais os parques, conhecer novos restaurantes, malhando mais, comer melhor, freqüentar tais casas noturnas e ir a festas imperdíveis... Ahhhhhh!
E o mais impressionante, é que todos ao meu redor estão do mesmo jeito. Meus amigos vivem no mesmo ritmo que eu, todos workaholics, todos acelarados, todos sempre cheios de coisas que eles “têm que fazer” e que “devem realizar”.
E quando você fica “doente” das suas emoções no meio de tudo isso, o que você faz? Para quem pedir ajuda? Com que tempo vou me tratar?
Depois de tanto tempo vivendo assim, eu simplesmente perdi o contato comigo: sou uma estranha para mim mesma. Meu corpo é apenas a embalagem das minhas angústias, meu cérebro é apenas a máquina que organiza minha rotina, meu coração é apenas um orgão que bate mais forte no início de mais uma história confusa de amor, no meio dessa cidade grande.
São Paulo também é a capital dos tratamentos. Acumpuntura, homeopatia, florais, livros de auto-ajuda, psciólogos, psquiatras, grupos de ajuda, ongs... temos muito disponível para nos ajudar a não surtar, a não adoecer. Mas no final das contas, quando começamos esses tratamentos, eles viram apenas mais um compromisso no meio da nossa agenda. Ou mais um dos objetivos que vamos deixando para quando tivermos mais tempo ou mais dinheiro.
Minha terapia foi minha âncora de salvação no meio dessa tempestade. Mas o que acontece? Depois de um ano de muito aprofundar, perceber, sentir, falar, eu tive uma recaída. Exatamente 12 meses depois do início do tratamento, eu volto a me espatifar no fundo do poço do limbo psicológico. Foi então que eu percebi que não ia conseguir melhorar enquanto não fizesse uma revolução na minha vida. E que isso só seria possível, com uma verdadeira revolução no meu comportamento.
O livro “Mulheres Que Correm Com Os Lobos” me deu de presente o clique que eu precisava: não vou melhorar enquanto eu não me resgatar! Não vou melhorar enquanto eu não conseguir viver, em vez de sobreviver. Preciso voltar a vivenciar cada minuto da minha vida, voltar a sentir prazer com pequenas e grandes coisas, sentir com o corpo inteiro cada uma das minhas emoções, esvaziar a cabeça das responsabilidades inúteis e usá-la para desenvolver a minha criatividade, me sentir inteira, única, entender meus desejos, ser eu mesma.
Não sei mais o que é, por exemplo, tomar um banho relaxante ou curtir uma refeição. Perdi totalmente o controle do meu ciclo mesntrual, e não percebo mais nem quando estou pegando um simples resfriado. Semana passada eu estava com algum sintoma? Será? Não percebi.
“Quando perdemos contato com a psique instintiva, vivemos num estado de destruição parcial, e as imagens e poderes que são naturais à mulher não têm condições de pleno desenvolvimento. Quando são cortados os vínculos de uma mulher com sua fonte de origem, ela fica esterelizada, e seus instintos e ciclos naturais são perdidos, em virtude de uma subordinação à cultura, ao intelecto ou ao ego – dela própria ou dos outros” Introdução, página 23.
O fato de eu estar inspirando minha revolução pessoal nesse livro é porque ele me trouxe o diagnóstico do meu problema original: eu me perdi.
E agora vou me encontrar!
Lição do dia: entendo que a única coisa que "tenho que fazer" e que "devo realizar" é o meu próprio resgate.
5 comentários:
Olá,
Nessa cidade que tem de tudo, no final de agosto fiz um curso de respirar da Arte de Viver.
Em uma das vivencias, foi distribuida uma uva itália e não deveríamos come-la, ainda. tinhamos que sentir a textura, o cheiro, percebe-la, brincar com ela.
Depois colocamos na boca e ficamos brincando com ela na boca, de um lado para o outro, demos uma mordida e sentimos o gosto, a sensação, depois mais uma e sentimos, mais uma até engolirmos.
O fato é Verônica, que pela primeira vez senti o cheiro de uva.
É um resgate e tanto!
Gosto muito desse livro, me ajudou muito.
Obrigada pela sua visita!
Você tem mais informações sobre esse curso? Fiquei muito interessada!
Beijos,
Vero.
Adorei seu blog... Parabéns... Continue...
Beijo em seu coração..
Fátima
http://araretamaumamulher.blogspot.com/
Obrigada Fátima!
Visitei o seu blog e achei incrível: é um trabalho social que realmente precisa ser levado à sério.
Coragem!
Beijos,
Vero.
Me sinto exatamente assim em São Paulo. Parece que eu nunca estou aproveitando a cidade como deveria e isso as vezes me deprime. Também preciso me encontrar nesse sentido.
Sigo com a leitura!
Beijos
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