quarta-feira, 18 de maio de 2011

Dia 113 – Depressão Sazonal


Eu tinha decidido que não iria comentar sobre isso aqui no blog. Decidi isso porque achei que esse ano se eu não passasse completamente ilesa, pelo menos os sintomas seriam quase imperceptíveis. Afinal completo dois anos de terapia e junto com ela tenho feito todo um trabalho sério de construção emocional, do qual, aliás, esse blog faz parte.

Mas, há um pouco menos de um mês ela veio. E veio com tudo. E eu que estava esperando no máximo uma marolinha, recebi um tornado direto na cara. Alguém que passa por aqui também sofre de Depressão Sazonal?

“O animus sempre acaba se desgastando. Não se trata de uma hipótese; trata-se, sim, de quando isso vai ocorrer. Levar a cabo longas empreitadas, tais como diplomar-se, concluir um original, completar uma obra, cuidar de uma pessoa enferma, todas essas atividades apresentam momentos em que a energia que um dia foi jovem fica velha e cai prostrada sem conseguir ir adiante.”

É algo tão absurdamente estranho, que muitos médicos nem enquadram isso entre os distúrbios emocionais. Existem várias explicações para esse fenômeno, mas na minha opinião não adianta os médicos ficarem debatendo se existe ou não e por que existe. Depressão Sazonal é que nem TPM: quem tem sabe que existe. E que quando ela vem, o bicho pega.

Assim que senti os primeiros sinais me preparei para ver se conseguia construir um abrigo seguro e quentinho para esperar o tornado passar. Mas não tem jeito. O negócio vem de dentro e não de fora. Quando aceitei que teria que passar por mais um período turbulento desses me veio a idéia de parar o blog. De parar de sair. De parar de ver meus amigos. Porque devido às experiências passadas sei que quando ela vem a minha vida fica uma porcaria, o mundo injusto e as pessoas cruéis. E que eu quero fugir.

Fugir para onde? Sinceramente eu nunca sei. Mas me vem essa vontade absurda de fugir. De fugir rápido o suficiente para deixar tudo para trás. Me dá uma vontade louca de me enfiar debaixo dos cobertores e só sair meses depois. De pedir férias do namorado, do emprego, da vida. Já perdi as contas de quantos empregos larguei no inverno. Relacionamentos foram dois. Entrei no limbo quatro vezes e larguei três faculdades. Sempre no inverno. Nesse inverno seco e nublado de São Paulo que é um inverno da alma para mim.

Os médicos dizem que é abstinência de luz, que algumas pessoas são tão sensíveis a essa mudança de luminosidade que o corpo produz menos serotonina do que o necessário. Os psicólogos dizem que a depressão sazonal acontece porque marcamos o inverno no nosso subconsciente como uma época ruim. Clarisse já escreveu diversas vezes sobre os nossos ciclos emocionais naturais, que têm épocas de rios transbordantes e épocas de estiagem, e sobre as forças da natureza da vida-morte-vida.

“Grande parte do nosso conhecimento da natureza da vida-morte-vida é contaminada pelo nosso medo da morte. Portanto, nossa capacidade para acompanhar os ciclos da natureza da vida-morte-vida é muito frágil. Essas forças não ‘fazem’ nada contra nós. (...) Não, não, as forças da vida-morte-vida fazem parte da nossa própria natureza, como uma autoridade interna que sabe os passos, que conhece a dança da vida e da morte. Ela é composta pelas partes de nós mesmas que sabem quando algo pode e deve nascer e morrer.”

Como se prepara para isso? Sabendo que ela vem, podemos fazer algo a respeito? Eu realmente espero que sim. Quero manter em mente que isso é sazonal e que passa. Que esses ciclos fazem parte da natureza da vida-morte-vida. Tudo precisa morrer para renascer. Uma nova etapa só se inicia quando uma outra termina. Uma nova você só aparece quando a velha você morre. A natureza nos mostra essa verdade o tempo inteiro: a primavera só vem depois do inverno, o sol depois da tempestade, o dia depois da noite.

“Sem o conhecimento dessa dança, a pessoa tem a tendência, durante vários períodos de águas paradas, a traduzir a necessidade de atividade nova e pessoal em gastos excessivos, em exposição a riscos, em escolhas irresponsáveis, na procura de um novo parceiro. Esse é o jeito do tolo ou do pateta. É a solução dos que não sabem.”

“A energia, o sentimento, a intimidade, a solidão, o desejo, o tédio, todos aumentam e diminuem em ciclos relativamente comprimidos. Nosso desejo de proximidade, e de separação, alterna ciclos de crescimento e de declínio. A natureza da vida-morte-vida não só nos ensina a acompanhar esses ciclos na dança, mas nos mostra que a solução para o mal-estar está sempre no contrário. Portanto, novas atividades são a cura para o tédio; a intimidade é a cura para a solidão; a solidão é a cura para a sensação de falta de espaço.”

Então vamos escrever! Porque é desabafando e gritando as dores para o mundo que nos tornamos mais conscientes delas. Já aviso para quem aparecer aqui nos próximos meses que podem encontrar posts com teor resmungão e mensagens que trazem a sensação de chorar na cama abraçada aos joelhos.

E que assim será, porque se é de mais um inverno que eu preciso é porque uma nova primavera virá.


Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com

3 comentários:

Pati disse...

Cheguei aqui há alguns dias e não consigo sair. Estou lendo os textos desde o começo, cada dia um pouco mais. O texto de hoje me motivou a comentar porque, apesar de me identificar com muitas situações que você descreve, esta foi crucial. Moro na cidade mais fria do meu estado e sempre gostei do inverno. Mas ano passado tive uma recaída feia, em julho, durante um período muito frio e chuvoso. Neste ano, apesar de nova medicação e tratamento, sinto alguns sinais desagradáveis da chegada do "demônio do meio-dia". Fico angustiada pelo medo de passar pelo inferno do ano passado, de pensar que nem os remédios adiantam mais, que vou viver para sempre nessa montanha-russa. Vou seguir seu método e me concentrar no sentido de SAZONAL. Vai passar, tem que passar.

Verônica disse...

Olá Pati, bem vinda!
Hoje eu passei o dia inteiro relembrando as ótimas coisas que me aconteceram entre o final do ano passado e o começo desse ano para tentar 'reproduzir' as sensações boas que tive. Melhorou? Não. Mas caiu a minha ficha de que se eu tive momentos tão bons em outras épocas do ano, não é agora que, sem motivo nenhum, vou deixar de tê-los!
Força querida!
Beijos,
Vero.

Leda Rosa disse...

Oi, Verônica1 Fui lendo seus posts e achando tantas semelhanças que, desconfio, vou ler tudo nos próximos dias. Além da Clarissa Pínkolas Estés, temos em comum a mania de organização, colocar as obrigações em primeiro lugar, de-tes-tar o frio mais do que a maioria dos seres humanos que nos rodeiam ... bem, até agora, foram essas as similaridades. Estou gostando demais. bjos