quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Dia 11 – Separar e entender

Capítulo 3 – Farejando os fatos: O resgate da intuição como iniciação

Conto: Vasalisa.
(Link para a história completa no menu à direita)

A sexta tarefa – Separar isto daquilo

“As tarefas psíquicas da mulher são as seguintes: aprender a discriminar meticulosamente, a separar as coisas umas das outras com o melhor discernimento, aprender a fazer distinções sutis. Observar o poder do inconsciente e como ele funciona, mesmo quando o ego não está familiarizado. Aprender mais sobre a vida e a morte.”

“A separação relatada nessa história é do tipo que surge quando nos deparamos com um dilema ou com uma pergunta, mas sem que nos ocorram muitas idéias que nos ajudem a resolver a questão.(...) É um fenômeno o fato de uma pergunta feita quando a pessoa vai dormir, com a prática, suscitar uma resposta quando a pessoa desperta”

A maioria dos dilemas que eu vivo estão relacionados às minhas emoções. Como eu disse no primeiro post do blog, uma das conseqüências do limbo emocional é a dificuldade de aperceber as emoções que estamos sentindo. Sempre entro num dilema do tipo “E o que eu devo fazer agora?” quando a situação é extremamente emotiva pra mim e, logo, meu racional não oferece muitas saídas inteligentes.

Tenho na minha vida uma pessoa extremamente especial. O V. era até então um dos meus melhores amigos. Era a primeira pessoa para quem eu ligava quando eu recebia uma notícia boa, era a primeira pessoa que eu queria encontrar quando precisava de um ombro amigo. Era para ele que eu pedia conselhos sobre tudo: família, vida amorosa, profissional. Ele era aquele amigo que ligava uma vez por dia para perguntar se eu estava bem, se precisava de alguma coisa, para dizer que tinha saudades. Anos atrás tivemos um envolvimento amoroso, que teve um final super trágico, com muita mágoa, muito rancor, muitas lágrimas, mas o relacionamento renasceu na forma da amizade mais sincera que eu já havia experimentado.

Meu atual namorado morre de ciúmes dele, obviamente. Um cara saber que a namorada confidencia coisas do seu relacionamento amoroso para outro cara é difícil de entender. “Porque você não conversa com uma amiga mulher? Com um amigo gay? Com alguém com quem não tenha dormido?” perguntava ele confuso. Porque foi o V. quem se tornou merecedor dos meus segredos, porque foi ele que conquistou seu espaço, foi ele quem escutou meus problemas, sem nunca abrir a boca para me julgar.

Há dois meses atrás eu quase perdi meu melhor amigo. Ele começou a namorar uma garota com sérios problemas de auto-estima. Logo ela se mostrou dominadora, ciumenta e  possessiva. Em algumas semanas de relacionamento ela já havia revolucionado a vida dele, obteve controle total de sua vida social, marcava encontros e contatava os amigos. Sabia o tempo inteiro onde ele estava, com quem estava e que horas voltava. E ele passava a maior parte do seu dia dando satisfações para ela do que fazia.

Como amiga, o que eu podia fazer? Aconselhá-lo! Avisei para ele que amor é liberdade e não prisão, que alguém que diz que te ama, mas te prende e te controla, está sendo egoísta e apenas amando a si mesma. Que quanto mais ele demorasse a impor os seus próprios limites, mais ela abusaria deles. Mas nada adiantou. Ele esta apaixonado, e contra a paixão temos pouco a fazer.

Após um mês de namoro a garota resolveu controlar a única coisa na vida dele que ainda não tinha conseguido: nossa amizade. Gritou, esperneou, chorou, causou tudo o que pode, berrando que ser amigo de uma ex namorada não é saudável. Que se nos encontrávamos apenas nós dois, era porque alguma coisa existia entre nós. Tentou impedir os nossos encontros e, como não conseguiu, impôs uma regra para que eles acontecessem: só poderíamos nos ver se ela fosse junto. CAOS.

Caos na minha cabeça, caos no meu coração. Como ele pode aceitar essa condição? Que obrigação eu tinha de conseguir desabafar na frente dela? Porque ele não podia preservar o nosso espaço? Porque ele vendeu nossa intimidade? Brigamos. Brigamos durante dias. Ficamos sem nos falar. Nos machucamos.

Dois meses depois, embora tenhamos reatado um certo contato, ainda não conseguimos recuperar nosso relacionamento. Ele jogou nas minhas mãos a decisão de terminar ou não a nossa amizade. Ou aceito a imposição da menina, ou não nos vemos mais. E eu não sei o que fazer. Dilema.

Perguntas não param na minha cabeça:
- devo bater o pé e impor o resgate de nosso espaço?
- mas impondo não estou fazendo a mesma coisa que ela fez?
- fiz certo em desabafar o quando essa atitude me machucou?
- como vou lidar com o fato de ele estar se dando ao luxo de me perder?
- ele realmente sempre esteve por perto, ou foi apenas a persona que ele encarnou para nos relacionarmos?
- devo aceitar na minha vida alguém que não conheço mas que já me magoou?
- devo entender que ele está confuso, e que precisa de um espaço?
- simplesmente aceito manter distância e espero ele voltar?
- não vou me machucar mais ainda se parar de vê-lo?
- devo jogar minha raiva nela ou nele?

Eu estava lendo esse trecho do livro “Mulheres que correm com os lobos” quando percebi que para resolver esse meu dilema eu não devo buscar respostas racionais. Devo deixar meus subconsciente e meus instintos perceberem o que de fato é o problema e como devo resolvê-lo. Achei muito importante a passagem de aprender a separar as coisas que têm natureza semelhante. Nossos sentimentos são assim. E quando estamos muito bravas, muito putas, muito machucadas, não conseguidos com clareza identificar quais são os sentimento que estamos sentindo.

Então vamos lá, com bastante calma separar meus sentimentos um por um:
- rejeição: estou me sentindo rejeitada, como seu meu amigo tivesse me substituído por uma versão de relacionamento mais compensatória, já que ela além de amizade dá sexo também.
- ciúmes: estou com ciúmes por ele ter dado a ela uma intimidade que não temos mais
- mágoa: estou magoada por ele não se importar em machucar os meus sentimentos
- desvalor: porque ao se dar o luxo de me perder, me sinto pouco valorizada
- impotente: porque não tenho poder para controlar uma decisão tomada por outras pessoas
- traição: sinto que ele traiu o juramento de lealdade incluso em qualquer amizade

“Baba Yaga não está só pedindo que Vasalisa separe isso daquilo, que aprenda a diferença entre coisas de natureza semelhante – como, por exemplo, o amor verdadeiro do falso, ou a vida revigorante da vida.”

Quais são então as atitudes que tenho que tomar diante de cada um desses sentimentos? Primeiro vamos separá-los:

- me sentir rejeitada, com ciúmes e desvalorizada: esses sentimentos têm origem mais na minha baixa auto-estima do que na situação em si. Uma pessoa com uma boa auto-estima não precisa dos outros para se sentir parte de algo (causa da rejeição), para sentirem que tem valor (causa da desvalorização) e para achar que qualquer situação conflituosa gera uma substituição de sentimentos/carinho/intimidade (ciúmes). Eu sou única e cada relacionamento que tenho também. Se estou sentindo essas emoções, elas são problema meu e não dele.

Será que eu também não estou sendo possessiva? Achando que ele ainda me pertence e que pertencendo à outra pessoa deixa de ser meu? Desde quando as pessoas são nossas? O que sinto por ele? Se for apenas amor, aquele amor puro, eu não deveria deixá-lo ir quando ele achasse que deveria ir? O verdadeiro amor não é aquele que liberta? Se for algo mais além do amor, então sou eu que devo reavaliar os meus sentimentos, certo?

- me sentir impotente e traída: também têm mais haver comigo do que com ele. Desde quando foi feito um juramento medieval de lealdade, e desde quando eu sou a líder espiritual que me dou o direito de julgar as pessoas pelo que elas fazem? Se ele acha que tomou a decisão certa, nada mais justo do eu me esforçar para entender seu ponto de vista.

- me sentir magoada: nossa, esse é o único sentimento que entendo que foi causado de fato pelas atitudes do meu amigo! Esse é o único sentimento válido para ele, já que foi causado por ele. É por causa disso que eu devo conversar com ele e expor minha mágoa.

“Ás vezes, com o objetivo de aproximar uma mulher da natureza da vida-morte-vida, eu lhe peço que cuide de um jardim. (...) O jardim é um vínculo concreto com a vida e a morte. (...) No jardim, adquirimos a prática para deixar que pensamentos, idéias, preferências, desejos e até mesmo amores vivam e morram. (...) Temos a capacidade de infundir energia e reforçar a vida, sem atrapalhar o que vai morrer.”

Portanto, vou deixar esses sentimentos repousarem, viverem e morrerem. Vou procurar encontrar minha através do subconsciente. Vou esperar meu instinto me mostrar qual caminho devo seguir. O que fazer, o que dizer, como dizer. Tenho certeza que quando essas respostas chegarem, vou conseguir investir no meu relacionamento com V., ou deixá-lo morrer, se for sua hora de acabar.

Alguém tem algum conselho para me dar?

Lição do Dia: separando isto daquilo, e aceitando o ciclo da vida-morte-vida dos relacionamentos.

Pendências: Não ando conseguindo resolver muitas das coisas da minha lista.

Leia o conto 'Vasalisa' completo: http://querocorrercomoslobos.blogspot.com/p/vasalisa.html

Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com

4 comentários:

Carla Farinazzi disse...

Vero, como sempre, você coloca as coisas de uma forma muito boa, ponderando muito bem o que sente.

Penso eu que existe um sentimento muito avassalador, chamado paixão, que muitas vezes nos "tira do prumo". A paixão nos compele a fazer as coisas mais absurdas e inimagináveis da face da terra. Quem de nós não passou um ridículo, se submeteu a coisas horrorosas por causa da paixão cega? Quem de nós nunca sucumbiu, mesmo com nossos amigos, família, avisando que era uma furada? Diante da força da paixão, pouco podemos fazer, a não ser esperar até o final da erupção do vulcão... Talvez seu amigo esteja perdidamente apaixonado, o que o impede de enxergar com clareza. A paixão é diferente do amor... É o contrário, eu acho até. Ao passo que o amor nos torna leves, livres e soltos, a paixão nos aprisiona, nos torna desconfiados, embaralha nossas ideias. Só com o tempo mesmo. Mas não se afaste não. Ocupe seu espaço, Vero, ainda que ele tenha ficado menor. Mas esteja sempre presente, mesmo com a namorada junto. Nessas horas temos que usar um pouco da arte da guerra: saber a hora de recuar para vencer depois.

Um beijo

Carla

Nathalia disse...

Olá Verô! Descobri seu blog ontem e já li quase tudo, adorei. Pensei em te enviar um email (vou escrever ainda!), mas hoje resolvi comentar nesse post.
Eu entendo bem vc, pois vivo algo assim, tenho um grande amigo com o qual já me envolvi amorosamente, mas desde então estamos solteiros, então não sei como seria caso ele começasse a namorar sério. Confesso que temo, sim, perder a atenção dele para uma namorada, pq sei que a amizade não será mais a mesma.. E quando isso acontecer, sei que o melhor é respeitar o espaço do casal, pelo menos no início. Como bem sublinhou a Carla, eles estão apaixonados, juntos há apenas 2 meses. Agora é o momento da "paixonite aguda". Então deixa ele se esbaldar nessa emoção e aguarde, porque a amizade de vcs, como é verdadeira, não vai morrer. Tbm me coloquei no lugar da garota e sei que no começo do namoro a gente fica muito insegura, não é? Ela pode ser uma boa pessoa, mas ainda está consolidando a posição dela na vida dele. Acho que o melhor a fazer é vc se manter um pouquinho afastada pra não se magoar mais e tbm não interferir nesse momento de paixonite do seu amigo. E utilizar esse momento tbm para pensar o seguinte: será que você nutre por ele algum sentimento para além da amizade? Muita força aí. beijão.

Verônica disse...

Obrigada pelos sábios conselhos Carla e Nathalia! Domingo vou tentar resolver essa questão e aviso aqui no blog. Nathália: me escreva, adorarei receber seu e-mail! Beijos Vero.

Anthony Angela disse...

Quero agradecer muito a um grande lançador de feitiços chamado dr.oluba que me trouxe de volta a alegria, ao trazer de volta meu ex-amante depois de muitos meses de separação e solidão. Com isso estou convencido de que você é enviado a esta palavra para resgatar pessoas de desgostos e também a solução para todos os problemas de relacionamento. para aqueles que têm um problema de relacionamento ou outro, por que não contatar dr.oluba pelo e-mail dele: olubasolutiontemple@gmail.com ou melhor ainda
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