sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Dia 8 – Longo conto pessoal

Capítulo 3 – Farejando os fatos: O resgate da intuição como iniciação

Conto: Vasalisa.
(Link pra a história completa no menu à direita)

A terceira tarefa – Navegar nas trevas

“São as seguintes as tarefas psíquicas desse estágio: consentir em se aventurar a penetrar no local da iniciação profunda e começar a experimentar o sentimento numinoso novo e aparentemente perigoso de estar imersa no poder intuitivo. Aprender a desenvolver a sensibilidade ao inconsciente misterioso no que se relaciona ao direcionamento e confiar exclusivamente nos próprios sentidos interiores. Aprender o caminho de volta para a casa da Mãe Selvagem. Aprender a nutrir a intuição. Deixar que a mocinha frágil e ingênua morra ainda mais. Transferir o poder para a intuição.”

Queridas leitoras: vocês se importam se eu relatar um conto longooo e pessoal?

Um dos motivos que me fez parar na terapia pela terceira vez foi um rompimento amoroso. Não daqueles bobinhos, aqueles pé-na-bunda padrões que todos nós levamos uma vez na vida. Não. Foi a situação mais abominável que já passei até hoje! Eu nunca imaginei como é simples fragmentar nossa psique como cacos de vidro, quando não estamos fortes o suficiente para uma situação como essas.

Vamos ao causo. Estava eu apaixonadíssima pelo sujeito. Mas daquelas paixões no estilo Romeu & Julieta, para pior. Estávamos há 5 meses juntos, num relacionamento incrível, nos víamos todos os dias, nos falávamos por telefone, trocávamos juras de amor até altas horas da madrugada. Claro, um ou outro conflito aqui e ali, mas resolvíamos tudo tranquilamente, sem dramas, sem brigas, apenas conversando.

Vez ou outra eu era assombrada por sonhos muito estranhos, e acordava no meio da madrugada com a sensação de que aquele relacionamento era uma farsa. Ria do pesadelo e voltava a dormir. Assim foi por noites a fio. Mas eram sonhos tão fortes, mas tão fortes que comecei a ficar desconfiada. Comecei com uma leve observação mais detalhada do sujeito. Algo que ele me diz não cheira bem! Às vezes o vejo olhando para longe, como se não estivesse aqui comigo. Tem dias que sinto que ele me evita. Não sei se fiquei neurótica ou psicótica, mas o fato é que cada vez mais eu começava a achar que o sujeito não estava assim tão afim de mim. Não foi nada do que ele disse, não foi nada do que ele fez, ou que não fez. Era a forma como falava, como me olhava, uma pessoa apaixonada tem muito mais brilho na pele, muito mais fogo nos olhos...

Como não tinha nenhuma prova concreta, tentava esquecer o assunto.

Numa bela noite, estava eu conversando com meu objeto de paixão sobre como estávamos tão envolvidos, sendo que nos conhecíamos há tão pouco tempo. E ele se mostrava maravilhado também, não é incrível? Ficamos largados na cama, comentando o quanto tínhamos sorte, quando me veio uma coragem de além mar, e resolvi comentar como se falasse da novela:

Eu – Eu estou completamente apaixonada por você.

Sujeito - ....

Eu – Você entendeu o que eu disse não é?

Sujeito – Vero, paixão é coisa de adolescente.

Eu – Você não está apaixonado?

Sujeito – Não! Eu não estou apaixonado. Eu te amo, é diferente.

Eu – Ah... – foi a primeira vez que ele me disse isso. E no entanto eu sentia tanta dor, mas tanta dor, como se ele estivesse confessando um assassinato e não dizendo eu te amo. Meu coração foi absurdamente estraçalhado por aquele “Não!”, e aquela palavra ecoava dentro de mim explodindo tudo o que tocava.

Sujeito – Você entende o que eu sinto por você? É muito maior do que isso, sabe há quanto tempo não consigo amar ninguém? Não quero te perder de forma alguma, morro de medo que você desapareça! Já faz tempo que quero falar isso com você, mas hoje parece ser a noite perfeita: Vero, vamos ficar juntos para valer?

Eu – Mas nós não estamos juntos para valer? – perguntei num sussurro. Alguma coisa dentro de mim estava gravemente ferida, eu mal consegui falar.

Sujeito – Não! Venha morar comigo, vamos dormir e acordar juntos todos os dias! Vamos partilhar todos os momentos, não podemos deixar nossa chance passar! – os meus pêlos do corpo se arrepiaram.

Eu - Mas já? Tão cedo? Nós dois acabamos de sair de casamentos super complicados!! Será que estamos preparados para isso? – entrei automaticamente na defensiva, esperando ter tempo para descobrir o que era aquela dor monstruosa que eu estava sentindo.

Sujeito – Vamos cuidar um do outro, vamos ajudar um ao outro! Seríamos muito felizes! Não quero te pressionar... Mas, se acha precipitado demais, poderíamos fazer um teste de alguns meses. O que acha?

Eu – ...

Gente, qualquer casal apaixonado no mundo ficaria exaltado com essa decisão! Mas eu não fiquei. Uma voz dentro de mim estava gritando e avisando para tomar cuidado. Só que eu não sabia dizer da onde vinha, por que dizia aquilo e se eu deveria dar atenção. Não queria escutar aquela voz, queria mandar ela ir catar coquinho! Chamei-a de insegurança, de medo de se jogar aos desafios, chamei-a de auto-boicote, de tudo quando é nome! Mas o desconforto não passou. Essa sensação de perigo me assaltava o tempo inteiro, e me jogava numa tristeza que chegava de repente, e me deprimia. Não, acho que é medo, pensei eu. Vamos embora ser felizes e chega de insegurança!

Dois meses depois eu estava me preparando para ir morar com ele, resolvendo minha vida, organizando minhas coisas, informando os amigos. Me mudaria em alguns meses. Sim, estava feliz e me sentindo corajosa. Mas aquela voz dentro de mim, aquela sensação de desconforto ficava cada vez mais forte. Um dia, cansada daquele sofrimento besta, quando as sirenes de alerta dispararam de novo eu explodi e gritei para mim mesma: “medo de amar é coisa de mulherzinha! Cale a boca e me deixe em paz!!”. E a voz me deixou em paz.

Um belo dia, o sujeito me liga precisando falar comigo, era caso de vida ou morte. Disse que uma ex-namorada dele estava com muitos problemas pessoais, que ela havia acabado de perder o emprego e o apartamento e, vejam só, ele não poderia deixar a moça na rua, certo? Então acabou levando a pobre coitada para morar na casa dele. Começou pedindo mil desculpas, dizendo que não teve escolha, e implorando para que eu não ficasse brava, que boas ações são bem pagas, e blá, blá, blá. Terminou dizendo para eu ficar tranqüila, que ele me amava e que procuraria outro apartamento para a gente alugar.

CHOQUE.

Simplesmente atônita eu escutava no telefone sem conseguir responder. Desliguei o telefone, ainda paralisada. Tive uma das maiores crises de choro que já tive até hoje. Liguei dois dias depois e terminei tudo, aos gritos.

Mas não, a história não caba aí não...

Uma semana depois ele havia tirado a moça de casa, ajoelhado e pedido desculpas. Voltamos a nos encontrar, a nos ver, a conversar, e quando percebi estávamos juntos novamente. Eu estava tão feliz por ter imposto a minha opinião, de ter gritado o quanto tinha machucado, e de ter sido ouvida, que não via mais nenhum problema no sujeito. Voltamos como se nunca tivéssemos nos separado. E de novo as brincadeiras, e de novo as risadas e de novo a velha intimidade. Ah, a velha intimidade!

Novamente aquela lua-de-mel! Só que bem melhor! Ele estava retratado! Me tratava como uma rainha, me dava tudo o que eu queria, ligava fazendo grandes declarações de amor. Veio o Natal. Veio o Ano-Novo. Veio um novo ano e eu sai de São Paulo, numa viagem de negócios. Ficaria meses fora.

Uma tarde, ele me liga novamente naquele esquema caso de vida ou morte. Eu levo um susto! As sirenes, que há muito não escutava, começam a soar loucamente novamente “Perigo! Perigo!! Perigo!!!”. Mas dessa vez a notícia não era ruim. Muito pelo contrário: o sujeito me ligava para me pedir em casamento! “Vamos construir a vida juntos, tentei ficar longe de você e percebi que não consigo, você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida!!” declarava ele.

E me diz o que a mulher domesticada pela cultura aqui fez? Aceitou. E uma nova felicidade tomou conta de mim! Fiz milhares de planos, contei para todos os meus amigos, colegas de trabalho, recebi os parabéns, como o mundo era colorido! Tínhamos combinado tudo, quando eu voltasse ele já teria organizado tudo e finalmente juntaríamos os nossos trapinhos!

Nos falamos mais umas 3 vezes naquela semana. Depois começou a me ligar uma vez por mês, conversava 15 minutinhos, falava que estava com saudades, que estava trabalhando muito por nós dois. Certo dia, ele sumiu! Sim, isso mesmo, meu noivo, o cara que me pediu em casamento. O sujeito desapareceu.

Mas que raios está acontecendo? Nada de avisos mais. Nada de alertas mais. Eu estava nas trevas, sem nenhum sentido para me guiar.

Tarde de mais. Ai meu Deus, pensei eu. Que burrada eu fiz? Eu sabia que tinha algo muito estranho desde o começo com ele, porque é que eu fui me meter nessa roubada? Meu instinto me alertava do perigo e eu ignorei todos os sinais que ele me mandava!!

No final de seis meses eu volto para São Paulo e telefono para o sujeito. Vamos conversar? Marcar um café? Colocar os pingos nos Is?

Nos encontramos. Ele estava noivo. Sim, de outra mulher. Sim, que conheceu enquanto eu estava fora. Terminamos nossa conversa com ele me dizendo que eu deveria saber, desde o começo, que ele precisava de alguém do lado dele para sobreviver. E que, mesmo gostando muito de mim, a culpa não era dele se eu não estava disponível! E enquanto eu estava longe, ele encontrou uma nova mulher que gostava muito dele, e ele logo a pediu em casamento. E ela aceitou. Eu sinceramente só desejei que a história não terminasse do mesmo jeito para ela como terminou para mim. E torci com muita fé, mas que ela fosse mais esperta do que eu, e escutasse o que dizia seus mais profundos instintos.

Nunca, mas nunca mais depois desse acontecido, eu ousei ignorar novamente a minha intuição. Que audácia a minha, ignorar o que eu tenho de mais valioso!!

“Já ouvi mulheres que disseram estas palavras, se não centenas, então milhares de vezes: ‘Eu sabi que devia ter seguido minha intuição. Pressenti que devia ou não deveia ter feito isso ou aquilo, mas não lhe dei ouvidos’. Nutrimos o profundo self instuitivo ao prestar atenção a ele e ao agir de acordo com sua orientação. (...) Nesse sentido ele é como os músculos no corpo. Se um músculo não for usado, ele acaba definhando. A intuição é exatamente igual: sem alimento, ela se atrofia.”

“A compreensão da mulher da sua sabedoria intuitiva pode ser fraca em conseqüência desse rompimento, mas com exercício ela poderá se restaurar e se manifestar em sua plenitude.”

Lição do Dia: re-contando a minha própria história e alimentando a minha intuição!

Pendências: penúltima bateria de exames feita!

Leia o conto 'Vasalisa' completo: http://querocorrercomoslobos.blogspot.com/p/vasalisa.html

Quer comentar? Escreva para mim: eueoslobos@gmail.com

Um comentário:

Petit Gabi disse...

Nossa, imagino seu choque! Ainda bem que esse cara saiu da sua vida! Compartilhe mais contos pessoais. =*