sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Meu Limbo Pessoal

Sete anos. Sete anos inteiros desde que perdi uma parte de mim. Alguma coisa aparentemente pequena, mas que tinha vital importância na minha vida. É uma sensação de que perdi minha bússula, que perdi a motivação, que perdi minha vontade.

Como eu não conseguia desejar e realizar qualquer coisa para o amanhã, comecei a viver um dia após o outro. Sem ter fé no futuro e sem conseguir me livrar do passado angustiante, me concentrei no prensente. O que posso fazer hoje para me sentir feliz? E nada mais.

Tudo aconteceu muita devagar. Comecei a acordar sem ânimo, assim, de repente. Sentia a cabeça e o coração vazios, sem desejos, mas também sem reclamações. Era como se existisse uma pressão absurda na atmosfera que me deixasse sedada, mas tensa, sem forças, mas desperta, sem grandes motivos para sorrir, mas também sem motivos para chorar.

Muitas vezes sentia um impulse misterioso de fazer alguma coisa especifica. Mas, passada a ansiedade, depois que eu realizava o que me parecia antes tão divertido, a apatia voltava. Nada do que eu fazia me mantinha contente por mais tempo do que durava a atividade. Em compensação, quando algo triste me acontecia, dias passavam, e a tristeza não ia embora.

Sabia que eu precisava tomar um rumo na vida, e que o vestibular era porta de entrada para o meu futuro, que não podia ficar mais largada assim. Foi quando eu coloquei como meta pessoal passar num dos cursos mais concorridos de uma universidade pública de São Paulo. E eu passei.

Foi mais ou menos naquela época que conheci meu futuro marido. Ele era meu melhor amigo, meu companheiro, meu parceiro, tínhamos todos os planos e desejos do mundo, e começamos a construí-los juntos. Até hoje ele é o cara mais carinhoso, educado, gentil e amoroso que eu já conheci. E dentro dele havia aquela chama dos jovens de querer acontecer, de querer realizar. Eu o amava. E ele me amava. E assim ficaríamos pelos próximos anos.

Hoje eu olho para trás e não consigo entender como ficou tudo tão bagunçado. Três faculdades começadas e abandonadas. Uma tentativa de casamento, e um noivado mau sucedido. Inclua mais outros dois relacionamentos que não foram para a frente. Diversos empregos insatisfatórios que não duraram mais do que três meses, que eu largava com a mesma facilidade que os conseguia. Duas voltas para a casa dos pais. Dívidas com Deus e o mundo.

Sabe quando você olha ao seu redor e não entende o que está fazendo nas ruínas de uma guerra que nem lembra que foi lutar?

Foi assim que eu, desesperada, fui buscar ajuda na terapia.

Não aguentava mais começar um ano construindo planos, que seriam destruídos no final. Não aguentava mais dar um basta para as coisas mudarem e de repente ver minha força de vontade drenada e perder o fôlego de viver. Não aguentava mais não saber para onde ir, o que fazer, como fazer, o que querer ser…

Porque chega uma hora em que não dá mais para ficar do jeito que está, fazendo as coisas do mesmo jeito e tendo os mesmos resultados insatisfatórios. Não quero mais um ano igual aos anos que tenho vivido.

Quantas vezes eu já não me vi fazendo as mesmas promessas e desejos de ano novo que fiz nos anos anteriores? Quantas vezes já me anulei por um relacionamento ou trabalho? Quantas vezes me auto-boicoto e penso "só mais dessa vez que não vai fazer mal nenhum"? Quantas vezes já sentei e discuti, discuti e discuti, com meus amigos e terapeuta os mesmo problemas over and over again? Quantas vezes entro na espiral do mal de ficar pensando que minha vida estaria diferente "se eu tivesse..."? Quantas vezes eu percebi que venho alimentando os mesmos planos, sonhos, e desejos e nunca dei o primeiro passo para realizá-los, ou se sei, desisti diante da primeira dificuldade? Quantos defeitos, problemas e maus hábitos eu conheço em mim mesma, e mesmo consciente deles não me movo para mudá-los?

Vou completar agora um ano de terapia. Ela tem me ajudado a ser mais consciente de mim mesma e das coisas ao meu redor. Toda vez que entro num papo de que nada tem mudado na minha vida e que acho que a terapia não tem sentido, minha terapeuta me lembra de como foi que eu cheguei lá.

No limbo.

Sem esperança pelo próximo dia, sem fé no amor e na vida. Sem conseguir vivenciar o que eu sentia, refém das minha próprias emoções, pessimista crônica, desacreditada, com uma auto-estima praticamente nula. Minha terapeuta vive dizendo que é muito raro chegar algum paciente nas condições em que eu cheguei, destruída, que já não esteja num processo de depressão muito sério ou que não já esteja estregue ao álcool e às drogas. Seria eu então mais forte do que eu imaginava? Ou, como eu pensei na época, nem entrar em uma depressão eu conseguiria fazer direito? Eu ficaria eternamente presa nesse limbo emocional?

Mas, quem faz terapia, quem vive analisando sua vida com seus amigos e quem não perde a chance de fazer um auto-análise, vai me entender:

SER CONSCIENTE DE UM PROBLEMA É UM PASSO IMPORTANTÍSSIMO, MAS APENAZ O PRIMEIRO PASSO. A JORNADA DA TERAPIA É, A PARTIR DA CONSCIÊNCIA DOS PROBLEMAS, GERAR UMA MUDANÇA REAL DE COMPORTAMENTO.

Ou seja, não bastava abrir meu coração para a minha querida terapeuta. Enquanto eu não tirasse a minha bunda da cadeira e começasse realmente a me melhorar, a terapia em nada me ajudaria.

E onde o livro Mulheres Que Correm Com Os Lobos entra nisso?

Esse livro veio parar na minha mão como um presente de uma amiga. Uma amiga que não está entre as mais antigas, nem as mais frequentes companhias. Mas é uma das únicas amigas que conhece e compartilha as inquietações do meu ser. Quanto eu ganhei levei um susto! "Literatura feminista?" perguntei à ela enquanto analisava preconceituosamente o título, a capa rosa, e a imagem em aquarela borrada. "Está mais com cara de literatura feminina!" completei, com um certo nojinho de mim mesma por estar ferindo os sentimentos da amiga. Literatura para mim é coisa séria, os livros que tenho em casa são escolhidos à dedo, e não desperdiço o meu tempo com leituras que não vão me adicionar nada. “Vou ler as primeiras 15 páginas, se ele não me convencer até lá, jogo na prateleira pra fazer volume”.

Engano meu.

Desde que comecei a ler as primeiras páginas do livro, já percebi que não era nada do que eu esperava. O livro se propõe a ser um guia para a retomada do equilibrio interior. Parece auto-ajuda? Mas não é. A autora, psicanalista e contista, desenvolveu uma técnica única para reconectar as mulheres à sua natureza instintiva: através dos contos de fadas recolhidos por ela ao redor do mundo. É através da leitura deles, que entramos em contato com a sabedoria de gerações e gerações de mulheres, que passavam essas histórias de mãe para filha, como ensinamentos da verdadeira natureza Mulher Selvagem. Entidade e identidade esta, que ganhamos junto com nosso corpo e nossa mente, e que nos faz sermos o que somos: mulheres.

E, tanto para quem gosta de literatura, tanto para quem precisa de ajuda, para quem quer retomar as velhas tradições de contos de fadas, ou para quem estiver apenas curioso com a idéia de um mundo feminino mágico, a leitura é recomentada!

Esse livro me pegou. Quando digo que me pegou, digo que virou praticamente uma idéia fixa. Durmo pensando nele. Acordo pensando nele. As idéia dele estão comigo quando vou fazer uma pausa para o cigarro, quando resolvo andar para esfriar a cabeça, quando me sinto para baixo. Esse livro tem sido tema recorrente das minhas conversas, e tem sido indicado para amigos e estranhos. Esse livro me fez perceber o quanto eu preciso me tornar a pessoa que quero ser e construir a vida que quero ter, se quiser ser feliz. Esse livro me deu coragem para gritar "Chegaaa! Não quero mais viver plenamente feliz apenaz dentro da minha imaginação!".

Foi então que eu resolvi criar esse blog. Porque me dei o objetivo de seguir passo a passo as orientações indicadas pelo livro. Me cobrei, me estudar como ser humano e como mulher, e me reconectar ao meu instinto selvagem para lutar pelas coisas que eu quero!

A minha idéia aqui é escrever como se ninguém estivesse lendo. Como se fosse num caderninho guardado na gaveta de casa. Mas com a possibilidade que a internet oferece, de poder compartilhar o que sinto com muitas pessoas que podem estar tão perdidas quanto eu, desesperadas para dizer "Chega!".

Durante um ano registrarei aqui essa viagem de volta ao meu instinto.

Começa agora a minha jornada para encontrar a Mulher Selvagem.

"Sensações de vazio, fadiga, medo, depressão, fragilidade, bloqueio e falta de criatividade são sintomas cada vez mais freqüentes entre as mulheres modernas, assoberbadas com o acúmulo de funções na família e na vida profissional. Esse problema, no entanto, não é recente, acredita a psicóloga junguiana Clarissa Pinkola Estés. Ele veio junto com o desenvolvimento de uma cultura que transformou a mulher numa espécie de animal doméstico.


Através da interpretação de 19 lendas e histórias antigas, entre elas as de Barba-Azul, Patinho Feio, Sapatinhos Vermelhos e La Llorona, a autora identifica o arquétipo da Mulher Selvagem ou a essência da alma feminina, sua psique instintiva mais profunda. E propõe o resgate desse passado longínquo, como forma de atingir a verdadeira libertação.

Técnicas da psicologia junguiana e algumas formas de expressão artísticas ligadas ao corpo podem ajudar na tarefa, mas a compreensão da natureza dessa mulher selvagem, com todas as características de uma loba, é uma prática para ser exercida ao longo de toda a vida.." http://www.livrariasaraiva.com.br/
                                        

3 comentários:

Petit Gabi disse...

Oi Verônica!

Gostei da proposta do seu blog. Pretendo acompanhar sua evolução sempre que puder, pois também já estive no limbo.
Ah, também vou procurar o livro para ler.
Obrigada pela visita no blog. Volte sempre!

Um abraço e sucesso!

Claudine Divitis disse...

Vero,
Fiquei até assustada com a coincidencia da data de início do seu blog, 10 de setembro. Foi nesse dia que fui despedida de um trabalho onde estava há 10 anos, insatisfeita, mas sem iniciativa de mudar ou de fazer outra coisa, embora cheia de projetos e sonhos dos quais falava nesse mesmo período de tempo...sem no entanto, realizar. O título do seu post, Limbo pessoal, por incrível que pareça, foi uma expressão que usei para descrever a profunda depressão que tomou conta de mim depois desse fato (quando todas as fichas caíram e percebi que já estava em depressão há todo esse tempo)... Enfim, muita coincidência ou sincronicidade (prefiro chamar assim, porque nada é por acaso). Achei seu blog através do blog Vigilantes da Autoestima e agora vou acompanhá-lo também, e postar comentários quando forem pertinentes. Espero evoluir como você também está esperando, e ambas temos que fazer coisas para mudar, não só falar na terapia. Em tempo: iniciei a terapia há uma semana e, na primeira sessão, a psicóloga me recomendou ler adivinha qual livro? Isso mesmo, "Mulheres que correm com lobos". Boa sorte!

Anônimo disse...

Olá! Verônica!
Gostei muito do seu blog!
Obviamente ainda não tive tempo de ler tudo, pois é a primeira vez que acesso, mas estou adorando!
Voltarei sempre!
Abraços,
Déia