segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Dia 71 – Onde fica o lar?

Capítulo 9 – A volta ao lar: O retorno ao próprio Self

Conto: Pele de Foca, Pele da Alma
(Link para a história completa no menu à direita)

A separação, o mergulho

Ninguém poderia explicar com mais belas palavras do que a própria Clarissa:

“A resposta exata à pergunta de onde fica o lar é mais complexa... mas de certo modo ele fica num lugar interno, um lugar em algum ponto do tempo, não do espaço, onde a mulher se sinta inteira. O lar é onde um pensamento ou sentimento pode ser mantido em vez de sofrer interrupções ou de ser arrancado de nós porque alguma outra coisa exige nosso tempo e atenção. E, pelos séculos afora, as mulheres sempre descobriram inúmeros meios de chegar a ele, de criá-lo para si, mesmo quando seus deveres e afazeres pareciam intermináveis.”

“É correto e conveniente que as mulheres procurem, liberem, conquistem, criem, conspirem para obter e afirmem seu direito à volta ao lar. O lar é uma sensação ou uma disposição constante que nos permite vivenciar sensações não necessariamente mantidas no mundo concreto: o assombro, a imaginação, a paz, a despreocupação, a falta de exigências, a liberdade de estar afastada da tagarelice constante. Todos esses tesouros do lar deveriam ficar armazenados na psique para seu uso futuro no mundo objetivo.”

“Os veículos com os quais e através dos quais a mulher chega ao lar são muitos: a música, a arte, a floresta, o vapor do mar, o nascer do sol, a solidão. Todos eles nos levam de volta a um mundo interior benéfico que tem idéias, organização e sustentação próprias. Não há só tempo para contemplar, mas também para aprender e descobrir o esquecido, o enterrado, o que está fora de uso. Ali podemos imaginar o futuro e também nos debruçar sobre os mapas de cicatrizes da psique, descobrindo o que levou ao quê e onde iremos em seguida.“

“O que posso lhe dizer de mais importante quanto ao momento certo desse ciclo de volta ao lar é o seguinte: quando está na hora, está na hora. Mesmo que você não se sinta pronta, mesmo que algumas coisas fiquem por fazer, mesmo que hoje seja o dia da sua sorte grande.“

“Todas nós temos nossos métodos preferidos para nos convencer a não tirar o tempo necessário para a volta ao lar. No entanto, quando resgatamos nossos ciclos instintivos e selváticos, ficamos sob a obrigação psíquica de organizar nossa vida para que possamos vivê-la cada vez mais em harmonia. Discussões sobre a conveniência e a inconveniência da despedida para a volta ao lar são inúteis. A verdade é que, quando chegou a hora, chegou a hora.”

“Algumas mulheres nunca voltam ao lar e, em vez disso, passam a vida a la zona zombi, na faixa dos zumbis. A parte mais cruel desse estado sem vida reside no fato de a mulher funcionar, caminhar, falar, agir, até realizar muitas coisas, mas sem sentir os efeitos do que não deu certo. Se ela sentisse, a dor faria com que imediatamente se voltasse para corrigir a situação.”

“No entanto, não é isso o que ocorre. A mulher nesse estado segue em frente com dificuldade, com os braços estendidos, defendendo-se da dolorosa perda do lar, cega e, como dizem nas Bahamas, "ela se tornou sparat", querendo dizer que sua alma partiu sem ela e a deixou com uma sensação de não ser inteiramente sólida, por mais que se esforce. Nesse estado, as mulheres têm a estranha impressão de que estão realizando muito, mas com muito pouca satisfação. Elas estão fazendo o que achavam que deviam fazer, mas não se sabe como o tesouro nas suas mãos se transformou em pó. Essa é a percepção adequada que a mulher deve ter nesse estado. O descontentamento é a porta secreta que leva a mudanças significativas e revigorantes.”

“Para algumas, o lar corresponde à dedicação a algum tipo de iniciativa. Algumas mulheres começam a cantar depois de anos em que não encontravam razão para fazê-lo. Elas se comprometem a aprender algo que há muito tempo tinham vontade de aprender. Elas procuram entrar em contato com pessoas e coisas que pareciam perdidas na sua vida. Elas reassumem sua voz e começam a escrever. Elas repousam. Elas transformam algum cantinho do mundo no seu próprio canto. Elas levam a cabo decisões imensas ou intensas. Elas fazem coisas que deixam sua marca.”

“Se você tiver de lutar cada vez que quiser ir, seus relacionamentos mais íntimos podem precisar ser cuidadosamente avaliados. Se possível, é melhor demonstrar ao seu pessoal que você estará diferente quando voltar, que você não os está abandonando, mas se reaprendendo e trazendo a si mesma de volta à sua verdadeira vida. Especialmente se você for artista, cerque-se de pessoas que sejam compreensivas para com sua necessidade de volta ao lar, pois é provável que você vá precisar, com maior freqüência do que a maioria das mulheres, minar o terreno psíquico do "lar" a fim de aprender os ciclos da criação. Portanto, seja breve, porém firme. Minha amiga Normandi, uma escritora talentosa, diz que já tem prática e resume tudo a "Estou indo". Essas são as melhores palavras possíveis. Diga-as. E vá embora.”

“Mulheres diferentes têm critérios diferentes para o que consiste num período útil e/ou necessário passado no "lar". A maioria de nós nem sempre pode ficar lá tanto tempo quanto quer. Por isso, ficamos o tempo que podemos. De vez em quando, ficamos lá o tempo que precisamos. Em outras ocasiões, ficamos por lá até sentirmos falta do que deixamos. Às vezes mergulhamos, saímos, mergulhamos de novo, rapidamente. A maioria das mulheres de volta aos ciclos naturais alternam entre essas opções, procurando equilibrar as circunstâncias e a necessidade. Uma coisa é certa. É uma boa idéia ter uma pequena valise pronta junto à porta. Para uma eventualidade.”


Lição do Dia: lembrando das coisas que há muito tempo tenho vontade de aprender. Porque não agora?

Pendências: pensando em como posso colocar essas coisas que sempre quis fazer na minha vida prática e financeira.

Leia o conto Pele de Foca, Pele da Alma completo:  http://querocorrercomoslobos.blogspot.com/p/pele-de-foca-pele-da-alma.html   

Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com

Um comentário:

Amélie Poulain disse...

Minha lição do dia: aceitando que preciso sempre deixar a valise pronta...e partir sempre que quiser, mas voltar quando necessário...

Beijocas!!!

E obrigada por iluminar meus dias com seus textos!!!