Pessoal, desde que eu fiz esse blog pretendia, vez ou outra, colocar relatos de leitoras que leram o livro “Mulheres Que Correm Com Os Lobos” e realizaram uma grande mudança em suas vidas.
O primeiro relato que vou publicar é da leitora C., que me mandou sua história pelo e-mail eueoslobos@gmail.com . Querida, obrigada por abrir o seu coração para que outras mulheres aprendam com a sua experiência. Abaixo a trajetória de uma mulher que resolveu dizer “não!” para a submissão que vivia, e fazer sua vida renascer das cinzas!
“Tinha 18 anos quando namorei meu ex-marido pela primeira vez. Digo primeira vez porque nós terminamos nessa primeira vez. É como você disse no seu último post. Eu segui uma voz dentro de mim que me garantia que não ia dar certo. Eu segui essa voz. Então terminei. Fiquei 2 anos sozinha, vivendo a vida. Loucamente. Você imagina... Eu trabalhava e fazia faculdade, era muito bom. Pois bem. Aos 20, me reencontrei com ele. E voltamos a namorar. Desta vez sério. Eu estava apaixonadíssima, ele era o homem da minha vida. Um ano e meio depois, eu estava grávida. Casamos. E eu, felicíssima.
Durante este um ano e meio, eu recebi sinais evidentes de que não devia me relacionar com ele, de jeito nenhum, mas os ignorei terminantemente. Por exemplo: a forma como ele tratava a mãe dele. Era horrível! Ele a tratava como se fosse lixo, a única pessoa que ele respeitava, mais ou menos, era a avó. Ele não teve pai, e a mãe tinha várias irmãs. Estas tias dele eram tratadas como se fosse lixo, era muito ruim presenciar. Mas a criança aqui só pensava assim: "comigo vai ser diferente. Tenho certeza" e por aí afora. Que ilusão. Meu casamento acabou após três meses de casados. Eu, casei grávida de quase cinco meses, após três, eu estava no oitavo mês de gravidez, e não quis fazer amor com ele naquele dia, pois a barriga estava muito grande, eu estava com falta de ar e me sentindo mal. Ele me xingou de tudo quanto foi nome.
Nunca imaginei ouvir aquilo tudo dele. Foi um choque horroroso. Pensei comigo "que besteira eu fiz da minha vida?" Mas, já tinha feito a merda, né. E estou contando resumidamente. Bem, minha filha nasceu, ele piorou o tratamento comigo. Piorou muito. Comecei a me sentir extremamente solitária, infeliz, e muito, mas muito arrependida de ter me casado com ele. Meus pais não nos obrigaram a casar, minha mãe até foi, vamos dizer, contra a idéia. Enfim. Minha filha tinha 6 meses de vida, e a situação estava insuportável.
Sabe, Verônica, é preciso que você entenda minha personalidade. Sempre fui extremamente livre. Sempre. Sempre fui dinâmica, arrojada, desprendida, atirada, extrovertida, amava a vida, vivia intensamente. Neste período de namoro e nestes primeiros meses de casamento, fui ficando acanhada, fui me diminuindo, sabe? Muitas vezes pra evitar uma briga, pra evitar uma discussão. Eu fazia todas as vontades dele, achava a opinião dele o máximo. Concordava com tudo, tudo mesmo. Morria por ele. Pra você ter uma idéia, eu sempre usei batom vermelho. Ele me proibiu, e eu aceitei!!! Não é o fim?
Pois bem. Minha filha nasceu, tudo estava péssimo entre nós. Eu me sentia um bicho enjaulado, contido, amordaçado. Quando minha menina fez 6 meses, era um sábado de manhã, eu disse pra ele que queria me separar dele. Ele disse: "Quer separar? Tudo bem. Não tem problema, a gente se separa." Disse isso e foi até o carrinho onde a menina estava, tirou-a do carrinho e me disse, com a voz mais suave desse mundo: "Vou dar um pulinho na minha mãe, tudo bem, ela tá com saudade do nenê." Eu fiquei super-nervosa, porque evitava sair com a menina de casa nesse período, tinha muito cuidado. Pedi que não demorasse, pois eu estava amamentando ainda. Meu bebê não comia nada, só leite materno. Ele sumiu. Passei a manhã inteira esperando, a tarde inteira esperando, a noite inteira esperando. Não tive coragem de falar pros meus pais. Juro, quase morri. Lá pelas onze da noite, ele aparece com a menina. Toda suja, morta de fome, olha, foi horrível. E me disse: "Você ainda quer se separar? Porque hoje eu voltei, mas se quiser se separar, da próxima vez eu não volto. Toma aí sua filha".
Olha só, eu tinha 22 anos, só tinha namorado esse moço, mais ninguém. Fiquei apavorada. Em pânico. Peguei minha filha no colo como se eu dependesse daquilo pra continuar vivendo. Juro, fiquei com muito, muito medo de que ele sumisse novamente com ela. Porque o que eu senti durante aquele dia inteiro, longo, horrível, apavorante e estressante, eu nunca mais queria sentir. E o que eu fiz então? Ao invés de pedir, por exemplo, pro meu pai me ajudar, meu irmão, minha mãe, minha irmã, sei lá, não fiz nada.
Fiquei com ele mais oito anos. OITO ANOS. Você, Verônica, tem idéia do que foi isso? Esses oito anos duraram, seguramente, uns cento e oitenta anos. Foram os anos mais horríveis da minha vida. Mais longos e tenebrosos. Nesse período, esse sujeito fez de mim o que ele quis. Todo o tipo de tristeza, humilhação e auto-destruição passou por mim. Tentei me matar duas vezes. Na primeira não consegui porque vomitei tudo e na segunda minha filha me salvou.
Eu ia às festas de família, e ficava sozinha, num canto, tinha medo de conversar com alguém e falar alguma coisa de que ele não gostasse.
Um dia, meu pai me chamou no quarto dele, nunca me esqueço, segurou nos meus ombros, me chacoalhou e disse: "Quem é você? Você parece um zumbi. Você chega, não fala nada. Você sai daqui de casa muda. Essa não é a pessoa que eu conheço. Eu não te reconheço, filha! O que está acontecendo com você?" Eu não tive coragem de responder. Sabe o significado da palavra "subjugada", da palavra "submissão"? Era o que mais próximo me traduzia. Nunca me esqueci disso que meu pai me disse.
Mas eu tinha medo. Um medo horroroso, que me corría inteira, que aniquilava toda e qualquer coisa que eu fazia. E poderia ficar aqui, horas e horas te relatando as coisas que ele me dizia, as coisas que ele fazia, tudo. Mas não quero me alongar tanto assim. Isso, porque eu e ele trabalhávamos, e eu ganhava três vezes mais do que ele! Olha isso.
Um dia, uma amiga querida, queridíssima, até hoje me acompanha (sou apaixonada por ela!!) me falou do livro "Mulheres que Correm com Lobos", e de como esse livro a havia ajudado em determinado momento da vida dela. Acho que ela viu em mim uma pessoa que havia perdido completamente sua natureza selvagem. Ela viu em mim, eu acho, uma pessoa que perdera o potencial de vida em algum momento.
Li o livro, e conforme lia, aquilo ia me dando uma força tão desgraçada, tão devastadora, que você não imagina. Fui readquirindo minha força, minha coragem, minha auto-estima, meu valor, tudo. Tudo voltou a mim, com uma força tão grande, tão incontrolável, tão extasiante. Absorvi todas aquelas lições do livro. Elas entraram na minha alma.
Um belo dia, eu estava trabalhando à noite (meu serviço exige que eu trabalhe à noite, e naquela época, trabalhávamos às segundas e sextas à noite; não era à toa que eu ganhava bem), e ele ficou bebendo nalgum canto. Cheguei em casa, ele bêbado. A menina dormia. Ele tentou querer fazer amor comigo. Juro, Verônica, eu pensava nas coisas que eu tinha lido, eu pensava em mim mesma, eu pensava essas coisas já fazia bem uns meses. Eu o empurrei e disse pra ele: "Tira a mão de mim. Nunca mais você vai encostar em mim". Assim, calmamente. E depois, com raiva: "Nunca mais você vai fazer amor comigo". "Nunca mais. Sai dessa casa."
Depois que eu falei essas frases, me senti com uma força e uma coragem inacreditáveis. E foi difícil, pois ele não queria se separar, de jeito nenhum. Tive (olha só, os preços que a gente paga) que dar o carro pra ele, que eu havia pago, todas as 36 parcelas... ele levou a televisão, o aparelho de som, os pratos, as xícaras, os talheres, os tapetes, os móveis, os cinzeiros, tudo! E eu deixei, porque era o preço que eu tinha que pagar. Ele levou tudo, tudo, tudo que eu tinha dentro de casa! Ficamos eu e minha menina. E uma casa, que não era minha, vazia. Ah, ele deixou uma coisa. Uma dívida de 12 mil reais (porque ele era pobre, mas só usava roupas, perfumes e griffes, ele pagava as contas nos bares que ele ia com o meu cartão). Não me importei.
Eu sabia que eu poderia reconstruir tudo, inclusive a mim. Olha, é incrível falar, mas as coisas que li nesse livro, nunca mais esqueci e nunca mais saíram de mim. Adquiri uma força inacreditável. Que me acompanha até hoje. Cada vez maior, aliás, porque os problemas nunca deixam de existir. Me lembro que, no dia em que ele finalmente saiu da minha casa (casa que era de meus pais e morávamos de favor), nesse dia, chovia. Eu me deitei no quintal, abri os braços e as pernas e ali fiquei. Tomando aquela chuva e me sentindo parte da terra, da lua, da chuva, do mundo.
A sensação foi indescritível. Inesquecível. E eu reconstrui tudo, Verônica. Tudo. Até comprei uma casa, um outro carro melhor! Ah, esqueci de contar. Quando minha menina fez sete anos, estávamos casados ainda, eu dei um celular pra ela. Pra ela me ligar, caso ele fugisse com ela. Olha o meu medo. Eu só sei que, quando redescobri, através da Clarissa Pinkola Estés, a mulher selvagem que eu ainda era... nunca mais ela deixou de habitar em mim. Ela mora aqui dentro! Eu percebi, em determinado momento, que eu tinha força, coragem, capacidade e condições para mudar definitivamente a minha vida. E assim eu fiz.
Porque acredito na força da mulher. Todas nós, desde de que queiramos, podemos fazer qualquer coisa. Desde que lúcidas, libertas destes medos, inseguranças, pressões, opressões que nos enjaulam. Olha, sinceramente. Eu me apaixono, hoje em dia, com certeza. Aliás, amo me apaixonar por alguém. Mas... à simples menção de opressão, me mando. Saio fora. Dói quase nada. Aliás, nem dói, é alívio. Se é que você me entende. Hoje em dia, como você pode ver no meu blog, eu estou continuamente "correndo com os lobos"."
Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com