Capítulo 10 – As águas claras: O sustento da vida criativa
Contos: La Llorona, A Menininha dos Fósforos e Os três Cabelos de Ouro
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O homem do rio
Quero dividir com vocês um sonho que tive esta noite. Bom, sonho modo de dizer, na verdade foi um pesadelo. Um dos pesadelos mais bonitos e simbólicos que tive nos últimos tempos.
Essa noite eu sonhei que estava numa festa ao ar livre, no centro antigo de São Paulo. Deveriam ter muitas pessoas por lá, mas me lembro especificamente de ver uma amiga de infância e meu chefe no meio do povo. A festa acontecia bem ao lado do Cemitério da Consolação. Quando eu cruzei com a amiga de infância me virei para ela e avisei que um dia passeando por aquele cemitério encontrei o túmulo de um antepassado querido dela, mas que ela não deveria ir até lá, porque aquele cemitério era conhecido por ser assombrado.
Ela pareceu concordar mas, de repente, vejo que ela me despistou e saiu correndo ladeira acima para a porta do cemitério. Nesse momento avistei o meu chefe, contei para ele do ocorrido e nós dois subimos a rua para resgatar a minha amiga.
Quando entramos vimos que o cemitério estava todo iluminado, com todas as esculturas de anjos e santos brilhando naquela escuridão, e escutamos sussurros vindo de todas as direções. Meu chefe olhou para mim com gravidade e disse: ‘Essas são as vozes dos antigos Faraós. Você não deve escutar os que eles têm para dizer, nem fazer o que eles te pedirem para fazer’.
De repente, de todos os lados surgiram animais, dos mais diferentes tipos. Coelhos, lobos, pombos, gatos, cachorros, mas todos eles tinham uma coisa em comum: eles eram de cor cinza, quase grafite. Os animais vinham de todos os lados, me cercando, prontos para me atacar, e quanto mais eu corria, mais encurralada eu ficava.
Quando estava perto de ter um ataque de pânico, escutei a voz do meu chefe. Ele estava de pé em cima de uma lápide vendo toda aquela cena, sem se mover para me ajudar. Ele me olhou e disse: ‘Vero, você percebeu que não vai conseguir sair correndo. Abandonar seus problemas é tão típico de você! Mas agora você vai ser obrigada a matá-los um por um, se quiser sair viva daqui.’
Ainda mais horrorizada por ele ter percebido que sim, eu queria sair correndo em vez de ficar e lutar, olhei para ele desesperada e gritei: ‘Porque você está fazendo isso comigo?’. Ele fez um cara de dúvida e disse: ‘Eu? Você acha que isso é um teste? Vero, você não consegue ver o que está acontecendo aqui?’
‘Vero, olho ao seu redor. Você que criou toda essa situação. Foi você que disse para a sua amiga que o túmulo de um antepassado dela estava aqui sabendo que, mesmo alertando-a, ela viria até aqui. Você fez isso para que ela viesse e você tivesse todos os motivos para entrar nesse cemitério atrás dela, que era o lugar aonde você queria estar. Foi você que preparou essa cena. Foi você que criou esses animais e incitou-os a te atacar.’
Cada vez mais desesperada, eu disse: ‘Só alguém muito poderoso poderia criar um situação dessas pela própria vontade.’
No que ele me responde: ‘Sim, você tem razão, só alguém muito poderoso poderia fazer isso. Você é essa pessoa muito poderosa! E você fez tudo isso para que pudesse estar aqui, dessa forma, nesse momento, e conseguisse enfrentar esses animais que estão para te atacar.’
‘Mas é a sua cara mesmo abandonar tudo isso para trás não é? Não vai adiantar fugir, eles ainda estarão aqui. Uma hora ou outra você vai ter que fazer do jeito certo: você tem que matar esses animais. É a única forma’. E aí eu percebo que ele tem razão. Que não havia outra forma de sair dalí. Que eu teria que ficar e lutar. E olhei nos olhos vermelhos daqueles animais e me preparei para ser atacada.
E foi quando acordei, assustada, e vi que tudo não passava de um sonho, e que na verdade eu estava sã e salva na cama do meu namorado, com ele me abraçando ao meu lado.
Porque eu queria tanto compartilhar com vocês esse sonho? O trecho de hoje do livro fala sobre ‘O Homem do Rio’. Na psicologia se diz que todas as mulheres possuem uma figura masculina em suas psiques: o animus, uma força da alma das mulheres e que é considerada masculina.
“O animus pode ser compreendido melhor como uma força que ajuda as mulheres a agir em sua própria defesa no mundo objetivo. O animus ajuda a mulher a expor seus pensamentos e sentimentos íntimos e específicos de um modo concreto em termos emocionais, sexuais, financeiros, criativos e outros. Essa força tem a capacidade de expressar e encenar os desejos do ego, de executar os impulsos e idéias da alma, de despertar a criatividade da mulher de uma forma manifesta e concreta. O aspecto principal do desenvolvimento do animus é a real manifestação de pensamentos, impulsos e idéias muito particulares.”
Olhem só que coisa mais maluca! Exatamente na noite em que tive esse pesadelo eu leio no livro da Clarissa a explicação para ele: o meu chefe, no sonho, era a representação do animus da minha psique, uma personagem masculina que estava lá com a função de me mostrar algo que, sozinha, eu não conseguiria enxergar.
Os animais eram as dificuldades que eu teria que enfrentar para passar pelos desafios e atingir os meus objetivos. Os sussurros dos antigos eram todos os problemas cotidianos, as pessoas e o meu auto-boicote, que eu deveria ignorar para me concentrar apenas na minha tarefa.
A mensagem do sonho então é simples: você vai precisar correr atrás de cada um dos seus objetivos, criar situações onde sua força de ultrapassar os desafios será testada, e combater seus problemas um a um. Ou seja: minha própria alma está gritando para que eu fique e lute, e não para sair correndo na direção oposta dos meus problemas, porque eles não vão desaparecer apenas porque eu estou os ignorando.
Lição do Dia: Fique e lute!
Pendências: Quantos problemas eu larguei sem solução quando fugi?
Leia os três contos: La Llorona, A Menininha dos Fósforos e Os três Cabelos de Ouro: http://querocorrercomoslobos.blogspot.com/p/os-tres-contos-la-llorona-menininha-dos.html
Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com
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