sábado, 2 de outubro de 2010

Dia 14 – Aprendendo com nossos próprios “podres”

Capítulo 3 – Farejando os fatos: O resgate da intuição como iniciação

Conto: Vasalisa.
(Link para a história completa no menu à direita)

A nona tarefa – Reformular a sombra – Parte I

"São as seguintes as tarefas desse estágio: usar a própria visão aguçada para reconhecer a sombra negativa da nossa própria psique e/ou os aspectos negativos das pessosa e acontecimentos do mundo exterior, bem como para reagir a eles. Reformular as sombras negativas da própria psique com o fogo-da-megera (a perversa família da madrasta, que anteriormente torturva Vasalisa, é reduzida a cinzas)."

Pois é, chegamos à última etapa de Vasalisa. Essa etapa só é feita quando reunimos tudo o que aprendemos nas outras oito etapas anteriores. Chegou a hora em que vamos usar toda a prática adquirida nas outras tarefas, vamos reunir o poder que reencontramos, e vamos lançar uma luz para dentro de nós e dos outros.

Esse post precisa ser longo, temos muitas coisas para falar hoje. Então vou separá-lo em duas partes. A parte II será postada amanhã!

Vou contar um segredo para vocês: quando li o início dessa tarefa, minha primeira reação foi "Impossível! Já tentei milhares de vezes e não consegui! Como vou conseguir dessa vez? Ainda mais num momento muito mais difícil de vida? Logo agora que não tenho tempo, espaço e paz para realizar uma mudança de comportamento tão brusca?"

"Cada mulher que resgate sua intuição e seus poderes semelhantes aos da Yaga chega a um ponto em que sente tentada a se desfazer deles, pois que adiante ver e saber todas as coisas?"

"No entanto quando a pessoa dispõe dessa capacidade de ver e de pressentir, é preciso fazer algo a respeito do que se viu. Possuir uma boa intuição e um poder considerável gera trabalho. Gera trabalho, a princípio, pela observação e compreensão das forças e desequilíbrios negativos tanto de fora para dentro quanto de dentro para fora. Também provoca o esforço no sentido de reunir a disposição necessária para fazer algo a respeito do que se vê, seja para o bem, ou pelo equilíbrio, seja para permitir que alguma coisa morra."

Existem pessoas mais ou menos conscientes. Ainda dentro de cada pessoa existem  vários níveis diferentes de consciência: sobre alguns assuntos somos extremamente conscientes, e sobre outros assuntos, setores mais sensíveis, evitamos a vida inteira jogar qualquer fresta de luz.

Sabemos lá no fundo que temos várias pendências emocionais que deixamos para trás meio que propositalmente. São sensíveis, são dolorosas, são complexas. Mal sabemos o que pensar delas, quando menos o que fazer a respeito delas. Com nossos defeitos também costumamos agir assim. Alguns defeitos, quando apontados pelos outros rimos, entendemos e pensamos seriamente a respeito. Já outros defeitos, quando apontados... ficamos putas, reagimos agressivamente, negamos, nos justificamos, colocamos a culpa em alguém e ficamos absurdamente ofendidas. Por quê? Não sou psicóloga, não sei responder. Mas sei que também sou assim.

E é sobre isso que essa tarefa trata. Sobre ter a consciência das partes mais sombrias de nós mesmas, e fazer alguma coisa a respeito. Sei que muitas de vocês, assim como eu, vão preferir não pensar a respeito, ou pior, fingir que fizeram esse exercício e virar para a próxima página. Só digo uma coisa: entre todas as terapias e leituras que fiz, já foram mais de 15 tentativas de passar essa fase. Cada vez que desisto, a vida me cobra mais intensamente da próxima vez. E em cada tentativa eu vejo mais sombras, mais coisas feias, e mais me angustia saber que ando por aí com tudo isso dentro de mim.

Para quem vai fazer pela primeira vez, para quem vai fazer pela décima vez: eu sei o quanto é difícil. Para encorajá-las vou ser a primeira a expor as minhas piores características, certo?

- sou muito insegura, isso vem desde a adolescência devido a uma baixa auto-estima. Às vezes acho que nunca vou ser capaz, que nunca vou conseguir, que tudo vai dar errado, que as pessoas não vão gostar de mim, ou se gostarem vão embora assim que eu virar as costas. Nunca me sinto prioridade para ninguém, e preciso que todos que eu gosto estejam sempre presentes na minha vida como uma prova de amor, caso contrário, me sinto abandonada, preterida, largada, sozinha e solitária.

- o que isso causa? Putz, vamos lá: medo paralisante da solidão, pessimismo crônico e arrogância (para me sentir no mesmo nível dos outros). Me tornei territorialista, ciumenta e competitiva. E muitas vezes tenho vergonha de mim.

- me escondo por baixo de racionalidade abusiva, analisando, fazendo hipóteses e tentando entender como tudo funciona o tempo inteiro. O problema é que também faço isso com as pessoas, analiso-as demais e quando percebo já criei um rótulo mental para elas, aprovando ou reprovando suas atitudes.

- divido a humanidade em dois grupos: os meus amigos e futuros amigos, e meus inimigos e futuros inimigos. Sinto amor ou ódio a primeira vista. E não preciso de muito não viu, a pessoa cometeu uma mínima falha que considerei pessoal, pronto! Entrou para a lista dos inimigos. E o pior, quem estiver do lado dessa pessoa também vira meu objeto de desprezo e ainda vou cobrar que meus amigos escolham lados.

- sou vítima da síndrome boazinha demais: costumo dar prioridade para meus amigos, ajudá-los em tudo, me propor para realizar um milhão de tarefas para eles, e largar tudo o que estou fazendo para ir vê-los.

- se uma pessoa que eu já não gosto fizer mais alguma coisa contra mim, aí sim eu vou me sentir no direito de desejar mal à ela e ainda vou me sentir vingada. Gente como é que pode? Quem me conhece sabe o poço de amor e carinho que eu sou, mas às vezes por dentro eu me divirto com as adversidades da vida de quem eu não gosto.

- me justifico horrores, o tempo inteiro, e sempre acabo achando que a culpa é da mãe, do namorado cafajeste, no namorado bundão, dos professores, da política, do mundo cruel, dos meus chefes, do meu emprego, e absurdos desse gênero.

- sou muita instável emocionalmente, meu humor flutua do ótimo para o péssimo em alguns minutos. Quando eu fico brava ou triste, eu fico muuuuito brava e muuuuito triste, achando que tenho direto de descontar no namorado ou de pedir colo para o amigo no meio do horário comercial.

- sou exigente demais, com tudo, o tempo inteiro: exijo mais do que eu posso ter, exijo mais dos meus amigos do que eles podem dar, exijo mais das coisas do que elas podem ser.

- tenho um medo filho da mãe da perda, e seguro todos os vínculos que posso. Tenho uma coleção de amigos que não me fazem mais felizes, que até me fazem mal, e mesmo assim não consigo deixar essas relações morrerem.

- sou passiva em muitas situações quando tenho medo de comprar briga. Em compensação compro todas as outras milhares de brigas que não eram necessárias.

- sou carente e muitas vezes sufoco meus relacionamentos por pedir cuidados constantes.

- tenho uma rígida ética própria, e fico frustrada que o mundo não veja as coisas como eu vejo, sempre achando que o meu ponto de vista é o melhor/mais correto/mais inteligente.

- sou orgulhosa: qualquer coisa me ofende e/ou me fere. Qualquer coisa!

"É verdade, não vou mentir para vocês. É mais fácil jogar fora a luz e ir dormir. (...) Pois, com ela, vemos nitidamente todos os aspectos de nós mesmas e dos outros, tanto os deformados quanto os divinos, além de todas as condições intermediárias."

Espero que vocês continuem lendo esse blog, mesmo depois de saberem tudo o que há de pior em mim, hahaha! Mas fico feliz que ainda sim meus defeitos são menores que minhas qualidades, e no último ano eles andam bem mais sob controle do que já foram um dia.

“Durante esse período, tudo o que a oprimia perde a libido. Ela foi totalmente gasta na boa viagem. Sem a libido, os aspectos mais desagradáveis da psique, aqueles que exploram a vida criativa da mulher ou que a incentivam a desperdiçar seu tempo com insignificâncias, ficam como luvas vazias, sem mãos.”

Então agora que conseguimos identificar os “podres”, as sombras de nossa própria psique, qual é o próximo passo? Para começar: ficar de olhos nelas! Se cuidarmos dos nossos pensamentos e dos nossos sentimentos da mesma forma que cuidamos de outros aspectos de nossa vida, estaremos limpando nosso ambiente psíquico e parando de alimentar nossas sombras. Lembrem-se: ter consciência não basta, é preciso uma mudança de comportamento!

“Será que um aspecto negativo da psique pode ser reduzido a cinzas só por ser alvo de observação constante? Pode. Pode, sim. Mantê-lo sob o olhar inflexível do consciente pode fazer com que ele se desidrate.”

Comece cuidando dos seus pensamentos agora, depois durante a noite inteira, tente observá-los por um dia, por uma semana, é um hábito que se cria!

Lição do Dia: jogando um clarão em cima das minhas próprias sombras e começando a observá-las AGORA!

Pendências: uma luz divina me ajudou com meu problema burocrático com o convênio médico. Se tudo der certo a partir da próxima segunda-feira já estarei nos trilhos.

Leia o Conto Vasalisa completo: http://querocorrercomoslobos.blogspot.com/p/vasalisa.html

Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com

4 comentários:

Carla Farinazzi disse...

Vero, o quanto é bom termos consciência e lucidez dos nossos piores defeitos. É muito bom, pois podemos mantê-los sob controle, após algum tempo conhecendo-os, estudando-os, conversando com eles. Eles vão minguando, aos poucos, vão murchando. Perdem a graça. A gente também perde o medo desses defeitos, quando os conhece e os entende. E trabalha, diariamente, para vencê-los. A lucidez anda de braços dados com a intuição, eu acho.

Sempre é bom ler você! Bom não, ótimo! Ótimo não, maravilhoso!! Você é muito sincera, muito lúcida, e hoje em dia tá cada vez mais difícil isso.

Um beijo

Carla

Nathalia disse...

Oi Vero! Gostei muito do post, te achei muito corajosa em se expor assim. Me identifiquei com muitas das suas sombras também. Bom, atualmente, o meu maior "podre" é um medo, uma insegurança absurda de não conseguir me sustentar ao longo da vida. Vou completar 25 anos no mês que vem, concluí meu mestrado no começo do ano e desde então ando muito perdida. Me tornei uma medrosa. Tenho medo de nao arranjar emprego, de não receber o suficiente para me manter, de me acomodar em trabalhos que eu não goste, em depender da ajuda da minha mãe (meu pai faleceu quando eu tinha 20 anos). É um medo que me assola diariamente e tem me prejudicado em outros sentidos, como nos relacionamentos, já que minha autoestima está bem abalada. Mas juro que, assim como você, eu também estou tentando, me esforçando pra não me deixar derrubar. Beijão.

Verônica disse...

Obrigada pelos elogias Carla,
como sempre você me motiva!
Beijos,
Vero.

Verônica disse...

Nathalia,
Tenho um artigo ótimo em inglês sobre a crise que você está passando chamada pelos especialistas de "QuarterLife Crisis", que acomete a geração de jovens de 20 a 30 anos de idade.
Se você ler bem em inglês e tiver interesse me passe o seu e-mail que eu te envio o arquivo em pdf.
Beijos,
Vero.