domingo, 17 de outubro de 2010

Dia 25 – Quem tem medo da Morte?

Capítulo 5 – A caçada: Quando o coração é um caçador solitário

Conto: A Mulher-esqueleto: Encarando a natureza de vida-morte-vida do amor

A morte na casa do amor

“Quando temos esse tipo de relacionamento, não saímos mais por aí à caça de fantasias, mas nos tornamos conhecedores das mortes necessárias e nascimentos surpreendentes que criam o verdadeiro relacionamento. Quando encaramos a Mulher-esqueleto, aprendemos que a paixão não é alguma coisa que se vai ‘obter’ mas, sim, algo gerado em ciclos e distribuído. É a Mulher-esqueleto que demonstra que uma vida compartilhada, nos fluxos e refluxos, em todos os finais e reinícios, é o que cria um inigualável amor de devoção.

Essa história é uma imagem adequada para o problema do amor moderno, o medo da natureza da vida-morte-vida, em especial do aspecto da morte. Em grande parte da cultura ocidental, o personagem original da natureza da morte foi encoberto por vários dogmas e doutrinas até o ponto que se separou de vez da sua outra metade, a vida. Fomos ensinados, equivocadamente, a aceitar a forma mutilada de um dos aspectos mais básicos e profundos da natureza selvagem. Aprendemos que a morte é sempre acompanhada de mais morte. Isso simplesmente não é verdade. A morte está sempre no processo de incubar uma vida nova, mesmo quando a existência foi retalhada até os ossos.”

Eu me lembro até hoje a única vez que fui em uma taróloga. É o tipo de experiência que vale a pena fazer pelo menos uma vez na vida. Lembro que estava numa época muito confusa, no auge dos meus 19 anos. Quando a mulher abriu aquelas cartas estranhas na mesa eu entrei em desespero: só tinha figuras muito feias, com monstrinhos, mulheres bizarras e a carta da morte, bem centralizada no meio de todas.

‘Ai meu deus’, disse para ela, ‘se for coisa ruim, morte ou doença em família, por favor, não me conte!’. Ela riu e disse: ‘Quem disse que é coisa ruim? O que eu estou vendo é muito bom!’.

Foi aí que ela me explicou o significado de algumas cartas. A carta da Morte, que aparecia em todas as aberturas que ela fez durante a sessão sempre antes da carta de uma grávida, era uma das melhores coisas que poderiam aparecer.

A Morte representa essa força natural e poderosa que dita os ciclos naturais que existem dentro da nossa vida: é preciso que coisas morram para que outras surjam. É preciso que coisas velhas, que não servem mais, sejam abandonadas, para algo novo ter espaço. A Morte leva os ciclos já terminados embora para que você tenha novas experiências.

Eu estava passando por uma fase caótica porque estava fechando diversos ciclos que estavam em andamento nos últimos anos, e a carta da Morte vinha representar a nova vida chegando. Por isso logo depois vinha a carta da senhora grávida: era a geração de novos projetos e ciclos que chegariam quando os antigos tivessem terminado.

Depois dessa consulta passei a ter um grande respeito pela Morte. Muitas vezes, quando estou passando por épocas confusas, entediantes ou cheias de resquícios do passado, peço ao universo que me traga Morte. Morte: leve embora o que eu já sei e me traga as coisas novas que preciso saber! Vamos para a próxima fase, que venha um novo ciclo!

“É fato que dentro de um único relacionamento amoroso existem muitos finais. Mesmo assim, de algum modo e em algum ponto nas delicadas camadas do ser criado quando duas pessoas se amam, existe um coração e um alento. Enquanto um lado do coração se esvazia, o outro se enche. Quando uma respiração termina, outra se inicia.”

“Se acreditarmos que a força da vida-morte-vida não tem mais nenhum papel depois da morte, não é de se estranhar que alguns seres humanos tenham pavor do compromisso. Eles têm um medo horrível de passar por um final que seja.”

Vocês já repararam como normalmente as pessoas que têm medo de compromisso são, na verdade, traumatizadas por causa de um relacionamento que acabou mal? De fora, me parece que elas foram tão machucadas pelo ‘final’ que passam a acreditar que qualquer coisa que tenha um fim é dolorosa e sofrida.

Lembro de um amigo divorciado que tinha evidentes problemas com o ‘fim’ das coisas. Mas ele tinha tanto medo, mas tanto medo, que não começava novos relacionamentos com medo que eles terminassem também. Um dia, estava eu meio bêbada, virei para ele e disse ‘Você acha que sua ex-esposa é o grande amor da sua vida?’. Ele respondeu que não. ‘Então você ainda espera encontrar o grande amor da sua vida?’. ‘Óbvio’, ele respondeu. ‘Bom, o dia que você estiver com uma mulher ao seu lado e tiver certeza que ela é a pessoa certa, você vai agradecer ao universo pelo pé na bunda que levou da sua ex.’

É engraçado como a gente só dá valor para as coisas quando temos a chance de olhar para elas anos depois. Olha só: eu não estaria nesse emprego hoje se não tivesse surtado e largado o último. Eu não estaria com meu atual namorado se o sujeito do post Dia 8 não tivesse me largado. E a vida continua.

Tenho um ex-namorado muito querido que troca e-mails comigo de vez em quando. Nós terminamos porque ele teve que viajar pro outro lado do mundo por causa do trabalho. Um dos últimos e-mails que me escreveu ele disse ‘Não acredito em finais definitivos. Se não ficamos juntos no passado é porque não era a hora, não era o momento. Se ainda nos falamos é porque gostamos um do outro. Um dia nos reencontraremos. Se for para voltarmos, que seja. Se for para virarmos apenas bons amigos, aceito também. Não importa qual forma o universo permitir que fiquemos juntos, será perfeita’.

Ele foi muito importante para me fazer aceitar o final do nosso relacionamento. Com ele comecei a entender e aceitar a Morte dos amores. Aquele nosso ciclo terminou. Nosso carinho e afeto não. Estarei pronta para o próximo ciclo também, seja qual for ele.

“Grande parte do nosso conhecimento da natureza da vida-morte-vida é contaminada pelo nosso medo da morte. Portanto, nossa capacidade para acompanhar os ciclos da natureza da vida-morte-vida é muito frágil. Essas forças não ‘fazem’ nada contra nós. (...) Não, não, as forças da vida-morte-vida fazem parte da nossa própria natureza, como uma autoridade interna que sabe os passos, que conhece a dança da vida e da morte. Ela é composta pelas partes de nós mesmas que sabem quando algo pode e deve nascer e morrer.”


Lição do Dia: dando boas vindas à Morte!

Pendências: conseguindo fazer uma refeição saudável por dia.

Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com


2 comentários:

Amélie Poulain disse...

A morte para mim sempre trouxe o sentido de renascimento.
Vai ver é por isso que vou trabalhar com transplantes: justamente onde a morte se faz vida!

Beijão!!!

Verônica disse...

Nossa Amélie, extremamente simbólica a sua escolha de trabalho, não? Parabéns!

Espero que tenha a oportunidade de ensinar para os outros sobre os ciclos da vida-morte-vida!

Beijos,

Vero.