sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Dia 35 – Seu tipo de mãe

Capítulo 6 – A procura da nossa turma: A sensação da integração como uma bênção

Conto: O patinho feio

Tipos de mães

“Embora possamos interpretar a mãe na história como um símbolo da nossa própria mãe exterior, a maioria dos adultos tem agora uma mãe interior, como legado da sua mãe verdadeira. Trata-se de um aspecto da psique que atua e reage de um modo idêntico ao da experiência da infância de uma mulher com sua própria mãe. Além do mais, essa mãe interior compõe-se não só da experiência da mãe pessoal, mas também de outras figuras maternas das nossas vidas, bem como das imagens da mãe boa e da mãe perversa exibidas pela nossa cultura na época da nossa infância.”

“Na psicologia junguiana, esse emaranhado todo é chamado de complexo materno. Trata-se de um dos aspectos centrais da psique da mulher, e é importante reconhecer sua condição, reforçando certas características, corrigindo algumas, erradicando outras, e começando tudo de novo se necessário.”

Nesse conto da história, Clarissa analisa quais os tipos de mães que dão origem ao Patinho Feio. Para quem não se lembra da história vou fazer um breve resumo: o patinho feio, sendo muito diferente dos outros patos e animais da fazenda era constantemente mal tratado por toda a comunidade. No início a mãe protege seu filho, tentando fazê-lo se integrar com os outros. Cansada de se ver protegendo o Patinho Feio, a mãe pata acaba por sentir vergonha do próprio filhote e acaba por rejeitá-lo. É assim que o Patinho Feio sai da fazenda e começa a sua jornada.

Quando nos reconhecemos como um típico Patinho Feio à procura do seu lugar no mundo, temos que analisar qual foi o contexto que originou esse sentimento. Clarissa pede então que dentre os tipo de mães descritas a gente tente descobrir qual foi a mãe que tivemos e o que devemos fazer para nos livrar de complexo materno. Lembrando mais uma vez que, não importa a idade que você tenha, sempre levamos conosco uma mãe interna, que nos trata da mesma forma como éramos tratadas na infância.

A MÃE AMBIVALENTE: “A mãe curva-se aos desejos da comunidade em vez de se alinhar a favor do filho. A mulher que viva num ambiente semelhante irá tentar moldar a filha para que esta aja de modo "conveniente" no mundo objetivo. Uma direção é o seu próprio desejo de ser aceita pela comunidade. Outra é o instinto de auto-preservação. Uma terceira é o medo de que ela e o filhote venham a ser castigados, perseguidos ou mortos pela comunidade. Esse medo é uma reação normal a uma ameaça anormal de violência física ou psíquica. A quarta força é o amor instintivo da mãe pelo filho e a preservação desse filho.”

“Quando a mulher tem essa imagem da mãe ambivalente na sua própria psique, ela pode se descobrir cedendo com muita facilidade. Ela pode se descobrir com medo de firmar uma posição, de exigir respeito, de afirmar seu direito a fazê-lo, de aprender, de viver do seu próprio modo.”

A MÃE PROSTRADA: “Quando uma mãe desiste, isso significa que ela perdeu o sentido de si mesma. É mais provável que ela tenha sido isolada do Self selvagem e que tenha entrado em prostração, forçada por alguma ameaça real, de ordem psíquica ou física. Quando as pessoas caem prostradas, elas geralmente caem em um dentre três estados emocionais: o de confusão,  o de agitação (quando têm a impressão de que ninguém sente uma solidariedade adequada pela sua aflição) ou o de abismo (uma reencenação emocional de antigas feridas, muitas vezes frutos de uma injustiça inexplicada e não corrigida perpetrada contra elas ainda quando crianças).”

“Quando a mulher tem um constructo de mãe prostrada dentro da sua psique e/ou da sua cultura, ela é indecisa quanto ao seu valor. Ela pode considerar que as escolhas entre cumprir exigências exteriores e as exigências da alma são questões de vida ou morte. Ela pode se sentir como um pária atormentado que não se encaixa em nenhum lugar — o que é uma sensação relativamente normal para a pessoa "diferente" — mas o que não é normal é ficar sentada chorando, sem fazer nada. Devemos nos levantar e sair à procura do lugar a que pertençamos. Para quem é "diferente”, é sempre esse o próximo passo. E para uma mulher com uma internalização da mãe prostrada, esse passo é vital. Se a mulher tiver uma mãe prostrada, ela deve se recusar a se tornar outra mãe prostrada para si mesma.”

A MÃE CRIANÇA E A MÃE SEM MÃE: “Não há como escapar: a mãe precisa receber a atenção materna para dar atenção à sua própria prole. Embora a mulher tenha um vínculo físico e espiritual inalienável com seus rebentos, no mundo instintivo da Mulher Selvagem, ela simplesmente não se transforma de repente numa mãe temporal completa por si mesma. Na maioria dos países industrializados, hoje em dia, a jovem mãe choca, dá à luz e tenta beneficiar seus filhos completamente só. Trata-se de uma tragédia de enormes proporções.“

“Ela não é capaz de orientar e apoiar seus filhos mas, como as crianças da fazenda na história do patinho feio, que sentem uma alegria intensa por ter um animalzinho em casa mas não sabem cuidar direito dele, a mãe-criança acaba deixando o filho maltratado e em péssimas condições. Sem que o perceba, a mãe-criança tortura seu filho com diversas formas de atenção destrutiva e, em alguns casos, de falta de atenção.”

Minha mãe é uma clássica Mãe sem Mãe. Meus avós tinham um casamento infeliz e uma relação pautada na violência. Minha avó era faxineira e meu avô porteiro de um prédio. Tiveram 5 filhos e todos moravam juntos num cubículo. Minha mãe, a mais velha dos 5, foi responsável desde cedo por cuidar da casa, da comida, trocar fraldas e por educar os irmãos mais novos. Com 15 anos ela era a única figura materna que meus tios tinham. Dá para perceber que ela nunca teve ninguém que cuidasse dela, só quem gritasse, ninguém que desse carinho, só quem desse bronca, e que assumiu responsabilidades absurdas para alguém que ainda era uma criança.

Não é à toa que minha mãe tenha uma noção tão errada do que seja cuidar. Ela não acredita que cuidar é dar apoio, suporte, ajuda, carinho. Para ela cuidar é dar o que comer. Como seus pais nunca fizeram nada por ela, ela acha que se sacrificar diariamente pelos filhos é prova de amor. E que isso mais do que basta. Ela acha que deu o seu melhor, e de fato talvez tenha dado, mas eu e meu irmão nos sentimos até hoje totalmente largados no mundo.

Depois de identificar a mãe que deu origem ao seu complexo materno, Clarissa descreve qual é a mãe que criar para substituir a mãe que está dentro da nossa psique: a Mulher Selvagem.

A MÃE FORTE, A PROLE FORTE: “Em vez de nos desapegarmos da mãe, estamos procurando uma mãe selvagem. Não vivemos e não podemos viver separadas dela. Nosso relacionamento com essa mãe da alma deve girar sempre, mudar, transformar-se; e ele é um paradoxo. Essa mãe é a escola na qual nascemos, a escola na qual aprendemos, a escola na qual ensinamos, tudo ao mesmo tempo e pelo resto das nossas vidas. Quer tenhamos filhos, quer não, quer cuidemos do jardim, das ciências, das tormentas da poética, sempre nos depararemos com a mãe selvagem em nosso caminho para qualquer lugar. E é assim que deve ser.”

“É esse o modelo psíquico e a esperança para aquelas que tiveram pouco ou nenhum cuidado materno, bem como para as que sofreram cuidados torturantes. Muito embora a mãe de certo modo esteja acabada, muito embora ela não tenha mais nada a oferecer, os rebentos irão sei desenvolver, crescer independentes, e ainda vicejar.”


Lição do Dia: buscando as orientações da Mulher Selvagem para me guiarem no caminho.

Pendências: Amanhã é dia de uma nova lista de mudança de hábitos!

Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com

2 comentários:

Van disse...

oi Vero!!
Eu sou uma leitora "anonima". Achei seu blog depois de ficar dias pensando o que raios significa amor próprio / auto-estima que minha psicologa tanto fala, tanto até que joguei no google pra ver o que dava e cheguei aqui.
Estou lendo seu blog todinho de baixo pra cima. Está me ajudando tanto!
Ontem mesmo comprei o livro, pois fiquei com vontade de ir direto na fonte. Achei que voce iria gostar de saber. beijos!

Anônimo disse...

Oi Vero! Quanto mais eu leio mais quero ler. Estou desenvolvendo o meu auto-conhecimento. Estou me identificando muito com os contos.