segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Dia 32 – E a história termina

Capítulo 5 – A caçada: Quando o coração é um caçador solitário

Conto: A Mulher-esqueleto: Encarando a natureza de vida-morte-vida do amor

As fases posteriores do amor: A dança do corpo e da alma

“Às vezes aquele que está fugindo da natureza da vida-morte-vida insiste em pensar que o amor é apenas uma dádiva. No entanto, o amor em sua plenitude é uma série de mortes e de renascimentos. Deixamos uma fase, um aspecto do amor, e entramos em outra. A paixão morre e volta. A dor é espantada para longe e vem à tona mais adiante. Amar significa abraçar e ao mesmo tempo suportar inúmeros finais e inúmeros recomeços — todos no mesmo relacionamento.”

Diversas vezes durante o meu estudo sobre a história da Mulher-esqueleto, fiz analogias com outros setores da nossa vida. De fato, Clarissa nos ensina com essa história mais do que a natureza dos relacionamentos amorosos: ela ensina a atitude que devemos ter diante de tudo o que nos cerca.

Normalmente quem tem dificuldade de aceitar a Morte na vida amorosa enfrenta o mesmo problema com o restante. O mundo de hoje está muito focado nos resultados concretos do amor e do trabalho, nos parceiros e no dinheiro. A ansiedade que sentimos é gerada pela pressão que a cultura exerce para termos resultados fabulosos em pouquíssimo tempo. Ando lendo bastante sobre a cultura do ‘slow life’, que prega a diminuição da velocidade em nossas atividades para que consigamos perceber a vida com os sentidos e não com o cérebro.

Já vi de perto pessoas tomando decisões muito erradas porque estavam focando nos resultados e não no processo. Focando apenas no final das coisas essas pessoas perdiam o próprio sentido de fazê-las. Já vi jovens com currículos acadêmicos impressionáveis, mas que nunca haviam parado para pensar se realmente aquele trabalho era sua vocação. Já vi mulheres namorando, noivando e casando numa velocidade recorde, sem parar para pensar o que de fato sentiam pelo parceiro.

Toda essa busca desenfreada por resultados também nos deixou com uma sensação absurda de vazio. Atingimos determinada meta esperando sentir uma satisfação plena e, quando vemos, ainda não estamos realizados. Partimos para a próxima meta e o sentimento de insatisfação permanece. Cada vez que a vida se transforma numa reta descendente, milhares de pessoas correm para a terapia, para os remédios, para as drogas, para o shopping, para a geladeira. Porque o mundo onde somos cobrados a realizar milhares de coisas não nos ensina a lidar com a frustração, com a queda de energia, com a queda de libido, com a solidão, com o tédio.

Tédio: a doença da moda. Já reparam como facilmente ficamos entediados? É só terminarmos nossas atividades diárias e nos inunda um sentimento de tédio que nos faz parar na frente de uma TV ligada, como zumbis, até o sono chegar. Fui numa homeopata incrível nesse final de semana que me disse que muitas pessoas doentes que chegam no seu consultório, estão com doenças totalmente psicológicas. Claro, você vai fazer o exame e está lá: gastrite, intestino preso, colesterol alto. Mas nada, e eu digo NADA, há de errado com o organismo daquela pessoa. A cabeça dela está estressada, logo o corpo fica estressado também.

O pior é que vamos jogar toda essa ansiedade em cima dos nossos relacionamentos. Nossa vida vira um esquema de trabalhar e se relacionar, e mais nada. Acabamos esperando que no nosso relacionamento vamos ter paz, vamos nos sentir plenas e realizadas. E estamos com tanta pressa de sentir tudo isso, que não nos permitimos curtir cada fase do amor. Não esperamos que o amor seja construído, não, amamos que nem compramos: amo e pronto!

Muitas vezes meus amigos me pedem conselhos amorosos porque eles acham que o número de experiências que tive me confere uma certa credibilidade. O que eu sempre pergunto para eles é ‘O que além de trabalhar e pensar no parceiro vocês fazem?’. A grande maioria não faz mais nada. Não é à toa que os relacionamentos viram o centro de suas vidas: eles jogam toda a sua energia para a relação. Quando a relação termina ou esfria, o mundo inteiro deles cai. Porque eles não tinham nenhuma base sólida para se sustentar e esperavam que o parceiro fosse trazer a tão esperada felicidade todo o sempre.

Eu vivo os lembrando de que se tive vários relacionamentos, e de vários tipos, isso me faz uma especialista em finais e despedidas. E uma verdade que nunca muda é: a minha vida continua, com ou sem o cara que amo ao meu lado. Posso estar machucada, dolorida, ferida, destruída, mas a minha vida continua, querendo eu ou não.

Só vamos conseguir construir um relacionamento como deve ser se tivermos calma, paciência e pararmos de projetar nossos sonhos de sucesso em cima deles. Quando nutrirmos nossa vida com nossas paixões individuais, quando investirmos toda a nossa energia na nossa própria felicidade, dando tempo ao tempo, vivenciando cada fase do amor, aceitando cada ciclo da paixão, cada pico, cada queda.

Essa é a verdadeira receita para aceitar a vida-morte-vida em nossas vidas. Essa é a receita para construirmos relacionamentos duradouros e gratificantes.

“A energia, o sentimento, a intimidade, a solidão, o desejo, o tédio, todos aumentam e diminuem em ciclos relativamente comprimidos. Nosso desejo de proximidade, e de separação, alterna ciclos de crescimento e de declínio. A natureza da vida-morte-vida não só nos ensina a acompanhar esses ciclos na dança, mas nos mostra que a solução para o mal-estar está sempre no contrário. Portanto, novas atividades são a cura para o tédio; a intimidade é a cura para a solidão; a solidão é a cura para a sensação de falta de espaço.”

“Sem o conhecimento dessa dança, a pessoa tem a tendência, durante vários períodos de águas paradas, a traduzir a necessidade de atividade nova e pessoal em gastos excessivos, em exposição a riscos, em escolhas irresponsáveis, na procura de um novo parceiro. Esse é o jeito do tolo ou do pateta. É a solução dos que não sabem.”

Então, se um cara vai de fato entrar na nossa vida, não podemos projetar nele uma felicidade de conto de fadas. Temos que olhar para ele como o que ele é: um parceiro. E aceitar a transformação que ele vai gerar em nós, mesmo que ele saia de cena logo depois.

“É assim que o relacionamento amoroso deveria funcionar, com cada parceiro transformando o outro. A força e poder de cada um são desembaraçados, compartilhados. Ele lhe dá seu tambor do coração. Ela lhe transmite o conhecimento dos ritmos e emoções mais complicados que se possa imaginar. Quem sabe o que os dois irão caçar juntos?”


Lição do Dia: slow life.

Pendências: tomando meu comprimido de ferro, um por dia, vamos lá!

Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com

4 comentários:

Verônica disse...

Queridas,

Agora relendo meu post de hoje, achei o texto um pouco confuso.
Coloquei muitas idéias e muitas emoções num tema só...

Prometo mais coerência!

Beijos,

Vero.

Amélie Poulain disse...

Oi Vero!!!
Bom, então eu estou confusa aqui dentro, e por isso me vi no texto....e amei tudo que vc escreveu!!

Sério, seu texto foi leve, explicativo e coerente sim.

Já pequei muitas vezes por depositar no outro o centro do MEU mundo. E, lógico, as coisas deram bem errado. Mas agora, depois de muito apanhar da vida, não cometo mais esse erro. E qdo as relaçoes terminam, eu consigo ver tudo de bom que aquele parceiro me deixou, e tudo que ele mudou na minha vida. E eu na dele. Que bom!

Beijocas!!!!!

Carla Farinazzi disse...

Vero,

Como é engraçado isso. Lendo seu texto pensei em fazer o seguinte comentário: "Esse foi um dos seus melhores posts. Você tocou em muitos pontos importantes e muito bem." e etc....

Aí, abro a janela dos comentários e você diz que achou o texto confuso. Das duas uma: ou eu não entendi bulhufas ou você é muito perfeccionista, rsrsrsrs. Brincadeira, o texto ficou realmente claro, interessante e que nos chama a refletir bastante. O que é a verdadeira razão de escrever...

Beijos

Carla

Verônica disse...

Como em muitas coisas na vida, temos medo de colocar a emoção. Nesse texto despi minha alma e achei que tinha exagerado!

Obrigada pelos elogios queridas!

Beijos,

Vero.