quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dia 40 – A lagarta e a borboleta

Capítulo 6 – A procura da nossa turma: A sensação da integração como uma bênção

Conto: O patinho feio

O isolamento como dádiva

“Se você tentou se adaptar a qualquer tipo de forma e não conseguiu, talvez você tenha muita sorte. É verdade que você pode ser um exilado de alguma espécie, mas sua alma está abrigada. Ocorre um estranho fenômeno quando a pessoa tenta se adequar e não consegue. Muito embora a criatura diferente seja rejeitada, ela ao mesmo tempo é empurrada para os braços dos seus verdadeiros companheiros psíquicos, quer se trate de uma linha de estudo, de uma forma de arte, quer de um grupo de pessoas. É pior ficar ali onde não nos sentimos bem do que vaguear perdida por um período em busca da afinidade psíquica e profunda de que precisamos. Nunca é errado ir à procura do que necessitamos. Nunca mesmo.”

Temos na literatura diversas histórias que ilustram a transformação através do isolamento. Já citamos aqui, por exemplo, a história de Vasalisa, contada pela própria Clarissa em um dos capítulos do livro: http://querocorrercomoslobos.blogspot.com/p/vasalisa.html. Vasalisa só passa pelo ritual de iniciação, deixando de ser uma menina órfã e se transformando numa mulher guiada pela sua intuição, quando é isolada no meio da floresta escura.

Um ex-namorado meu dizia que a metamorfose da borboleta é uma das mais bonitas metáforas para as transformações que queremos fazer nas nossas vidas. Concordo absolutamente com ele!

Qualquer uma de nós, vivendo em uma cidade grande ou no campo, sabe de cor a evolução de vida de uma borboleta. Ela começa sua vida como uma larva, feia, gosmenta e peluda. Nessa fase de vida ela não passa de uma lagarta que vive se alimentando e engordando, e contando com a sorte para continuar sobrevivendo. Num dado momento a larva escolhe um lugar em meio à floresta, se fixa, e começa a expelir uma substância que vai cobrir o seu corpo inteiro para formar um casulo.

Dentro dele, completamente isolada do restante do ambiente, essa lagarta vai passar por uma metamorfose e, quando estiver pronta, eclodirá para fora do casulo como uma linda borboleta. Um outro fator interessante é que, uma vez adulta, a borboleta é responsável por um importante papel biológico: ela sé um dos mais importantes animais polinizadores, que levam o pólen das flores para todos os cantos, ajudando em sua disseminação e reprodução.

Muitas pessoas que realizaram uma grande transformação em suas vidas, passaram por fases não muito diferentes das da vida de uma borboleta. No início estavam apenas comendo e trabalhando, contando com a sorte para que as coisas dessem certo, sem achar muita graça na vida. Muitas vezes se olhavam no espelho e não conseguiam enxergar nada mais do que uma lagarta feia, gorda e peluda. Estavam apenas sobrevivendo. De repente, essas pessoas começaram a se isolar do restante do mundo, das outras pessoas, das situações triviais do dia-a-dia, construindo um casulo cada vez mais forte e mais resistente à sua volta. Entraram em absoluta solidão.

Agora, o que aconteceu dentro desse casulo é que é sensacional! Quando estão em absoluta solidão as pessoas sentem como se só existisse elas no mundo, e mais ninguém. A beleza disso é que quando elas estão se sentindo sozinhas assim, elas se voltam para o único ser humano dentro do casulo: elas mesmas. E quando se voltam para dentro de si, percebem que elas são a única companhia que tem: é com você mesmo que você vai ter que conviver pelo resto da sua vida. Você vai acordar todos os dias com você mesmo, vai jantar todos os dias com você mesmo, vai dormir todos os dias com você mesmo. E então elas chegam no ponto máximo de consciência, que é quando você se olha no espelho e percebe: ‘A pessoa mais importante do mundo para mim, é eu mesma!’.

E quando chegamos nesse ponto, achamos uma força que não sabíamos que existiria dentro de nós para nos tornarmos exatamente a pessoa que queremos ser. E encontramos uma auto-motivação capaz de nos fazer passar por essa transformação. E quando estamos prontas para enfrentar o mundo externo de novo, nós eclodimos para fora do casulo e nos vemos metamorfoseadas numa incrivelmente bela borboleta!

“Existe um aspecto da alquimia no qual a substância bruta do chumbo é golpeada e martelada. Embora o isolamento não seja algo que se deseje por ser divertido, provém dele um ganho inesperado. As dádivas do isolamento são inúmeras. Ele elimina a fraqueza com os golpes. Ele erradica as lamentações, proporciona um insight penetrante, aguça a intuição, assegura o poder incisivo de observação e de visão de perspectiva jamais alcançados pelas pessoas ‘aceitas’.”

“Apesar de ter seus aspectos negativos, a psique selvagem consegue resistir ao isolamento. Ele faz com que tenhamos um anseio ainda maior no sentido de liberar nossa própria natureza verdadeira, e provoca em nós um desejo intenso por uma cultura que combine com essa natureza. Só esse anseio, esse desejo já faz a pessoa prosseguir. Ele faz com que a mulher continue a procurar. E, se não consegue encontrar a cultura que a estimule, geralmente ela resolve criar, ela mesma, essa cultura. Isso é bom, pois, se ela a criar, outras que vinham procurando há muito tempo chegarão misteriosamente um dia, proclamando com entusiasmo o fato de estarem procurando por ela o tempo todo.”

Nada como o isolamento para nós fazer ter consciência de quem somos e da nossa importância. Portanto se tem algo que você não goste em você, MUDE! Porque você vai ser obrigada a conviver com a sua própria companhia pelo resto da sua vida.

E você, em que fase está? Ainda como uma lagarta? Dentro do seu casulo? Já é uma borboleta?

Lição do Dia: Casulo Power!

Pendências: evitando uma gripe fortalecendo a minha imunidade.

Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com

Um comentário:

Mayra Di Manno disse...

Ola Verô,
Excelente a forma como coloca.
A reflexão é intensa...
"E quando se voltam para dentro de si, percebem que elas são a única companhia que tem: é com você mesmo que você vai ter que conviver pelo resto da sua vida. Você vai acordar todos os dias com você mesmo, vai jantar todos os dias com você mesmo, vai dormir todos os dias com você mesmo. E então elas chegam no ponto máximo de consciência, que é quando você se olha no espelho e percebe: ‘A pessoa mais importante do mundo para mim, é eu mesma!’."

Para ler muitas vezes.
Um beijo,