Capítulo 7 – O corpo jubiloso: A carne selvagem
Conto: La Mariposa, a Mulher-Borboleta
(Link para a história completa no menu à direita)
O corpo nos contos de fadas
“Costumamos pensar no corpo como esse "outro" que cumpre suas funções mais ou menos independente de nós e que, se o "tratarmos" bem, ele fará com que nos "sintamos bem". Muitas pessoas tratam seu corpo como se ele fosse um escravo, ou talvez elas até o tratem bem, mas exijam dele que satisfaça seus desejos e caprichos como se ele fosse um escravo do mesmo jeito.”
No post de ontem eu escrevi porque acho que o corpo é mais do que uma embalagem feita de carne. O corpo é a extensão do nosso self e a nossa imagem, a projeção da nossa alma. Mas hoje eu gostaria de falar mais do apenas sobre o que o corpo é, mas sim sobre a importância do que o corpo nos proporciona.
Nós temos duas fontes de sabedoria e conhecimento: o que foi dado pelo nosso instinto e o que nós aprendemos durante a vida. Já discutimos bastante aqui sobre a sabedoria do instinto e o quanto devemos manter nosso radar ligado para captar mensagens do que acontece à nossa volta. Mas e sobre o aprendizado? Nossa cultura vigente é bem parcial quando se trata do aprendizado, estamos vivendo numa era onde a produção de conhecimento intelectual e a educação formal nas instituições de ensino são as mais importantes bases da nossa civilização. Mas nisso esquecemos que existe uma outra forma, e até mais importante, de aprender: as experiências pessoais.
Um dos textos mais acessado aqui do blog é o ‘Dia 9 – Porque levantamos todo dia de manhã?’ onde eu falo sobre a minha dificuldade em achar minha vocação e um trabalho que me faça sentir plena, usando todos os meus talentos naturais. Confesso: ainda não descobri. Mas ainda assim eu tenho já decido qual será o meu maior objetivo de vida: passar pelo maior número de experiências transformadoras possíveis. E isso inclui lugares, pessoas, qualquer coisa em que eu tenha que expandir a minha mente, ter novas sensações, e me transformar minha alma.
O fato de eu ser mais focada em experiências do que em metas, me faz também ser mais focada no prazer do que na abundância financeira, e no corpo mais do que na vida acadêmica.
E porque o corpo? Porque é ele, e não a mente, que me proporciona passar pelas experiências mais incríveis. Uma formação acadêmica nunca vai me proporcionar a mesma sensação do que um simples toque de pele com pele. Ler um livro de receitas nunca vai me proporcionar o mesmo prazer do que prepará-las e saboreá-las. Visitar uma exposição de fotografias nunca vai me proporcionar o mesmo deslumbre do que avistar paisagens incríveis ao redor do mundo. E o que vai me proporcionar tudo isso? O meu corpo.
“Está errada a imagem vigente na nossa cultura do corpo exclusivamente como escultura. O corpo não é de mármore. Não é essa a sua finalidade. A sua finalidade é a de proteger, conter, apoiar e atiçar o espírito e alma em seu interior, a de ser um repositório para as recordações, a de nos encher de sensações — ou seja, o supremo alimento da psique. É a de nos elevar e de nos impulsionar, de nos impregnar de sensações para provar que existimos, que estamos aqui, para nos dar uma ligação com a terra, para nos dar volume, peso. É errado pensar no corpo como um lugar que abandonamos para alçar vôo até o espírito. O corpo é o detonador dessas experiências. Sem o corpo não haveria a sensação de entrada em algo novo, de elevação, altura, leveza. Tudo isso provém do corpo. Ele é o lançador de foguetes. Na sua cápsula, a alma espia lá fora a misteriosa noite estrelada e se deslumbra.”
Já perceberam que a principal atividade de uma criança é brincar? E que inclusive os mais modernos psicólogos e pedagogos insistem que uma criança saudável deve sim passar a maior parte do seu tempo brincando? Porque ao brincar a criança utiliza suas duas fontes de percepção, o corpo e a mente, para entender o mundo e interagir com ele.
Fico triste que a partir do momento que a criança entra na escola, a instituição abandona a importância do corpo no aprendizado e foca apenas na mente, como se ela fosse desconectada do corpo. E até a idade adulta não percebemos que nos ensinaram a enfatizar apenas a inteligência. Até o que nos chamamos de atividades físicas não passam de uma disciplina dos movimentos, tentando civilizar os nossos comportamentos, instintos e sonhos.
Para a mulher essa separação é ainda mais cruel, já que é no corpo que vive a sua natureza, os seus ciclos, seu instinto. Para recuperar esse relacionamento com a Mulher Selvagem a mulher deve antes de mais nada, se reconectar ao seu corpo como fonte sensações, experiências, alegria, aprendizado e prazer. Precisamos reaprender a brincar: a aprender com o nosso corpo.
“Há quem diga que a alma anima o corpo. No entanto, e se resolvêssemos imaginar por um instante que é o corpo que anima a alma, que a ajuda a se adaptar à vida concreta, que analisa e traduz, que fornece o papel em branco, a tinta e a pena com os quais a alma pode escrever nas nossas vidas? Suponhamos, como nos contos de fadas em que as coisas mudam de forma, que o corpo é um Deus por si só, um mestre, um mentor, um guia autorizado. E daí? Seria prudente passar a vida inteira torturando esse mestre que tem tanto a dar e a ensinar? Desejamos passar a vida inteira permitindo que os outros depreciem nossos corpos, julguem-nos, considerem-nos defeituosos? Será que temos força suficiente para renegar o pensamento geral e prestar atenção, com profundidade e sinceridade, ao nosso corpo como um ente poderoso e sagrado?”
Lição do Dia: tentando não esquecer que a Vero não é apenas um cérebro.
Pendências: cuidando de mim em todos os momentos em que estou sozinha.
Leia o conto La Mariposa, a Mulher-Borboleta completo: http://querocorrercomoslobos.blogspot.com/p/la-mariposa-mulher-borboleta.html
Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com
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