domingo, 7 de novembro de 2010

Dia 44 – Corra, Lola, Corra!

Capítulo 6 – A procura da nossa turma: A sensação da integração como uma bênção

Conto: O patinho feio
(Link para a história completa no menu à direita)

O zigoto errado

“Durante anos a fio, as mulheres que carregam em si a vida mística do arquétipo da Mulher Selvagem queixaram-se em silêncio: ‘Por que sou tão diferente? Por que nasci numa família tão estranha (ou insensível)?’. Onde quer que suas vidas pretendessem se expandir, havia sempre alguém a espalhar sal na terra para que nada ali crescesse. Elas se sentiam torturadas por todas as proibições relativas aos seus desejos naturais. Se eram filhas da natureza, eram mantidas entre quatro paredes. Se eram cientistas, diziam-lhes que deviam ser mães. Se queriam ser mães, diziam-lhes que, então, era melhor que se adaptassem perfeitamente ao papel. Se queriam inventar algo, diziam-lhes que fossem práticas. Se tinham vontade de criar, diziam-lhes que o serviço doméstico nunca termina.”

Uma coisa é fato: as pessoas não conseguem ter uma noção clara do que pequenas decisões feitas no dia-a-dia vão fazer com o seu futuro. Normalmente pensam ‘Ah, ok, não é bem o que quero nesse momento mas é um passo adiante, e uma decisão tão pequena não vai alterar o plano geral’. Não vai. Mas milhares de decisões pequenas que vão contra a sua vontade e natureza vão, a longo prazo, modificar drasticamente o seu futuro.

Normalmente depois de anos quando damos por nós estamos vivendo uma vida que não é nossa, que não nos diz respeito, que não foi vivida para alcançar nossos sonhos. Percebemos que estamos vivendo uma existência que está longe de ser o que desejamos para nós. Não somos a mulher que queríamos ser, não temos a vida que queríamos ter, mas aqui estamos. Uma coisa interessante é que são poucas as mulheres que tem esse momento de iluminação onde percebem que perderam o controle da sua história. Muitas continuam tão atarefadas e cheias de responsabilidade que pelo stress e pela falta de hábito de se auto-analisar, nem sequer notaram o que aconteceu à sua volta.

Já outras percebem. Normalmente em situações extremas da vida: quando tem que lidar com a morte de alguém próximo, com o declínio de um casamento, com o desemprego, com a saída dos filhos de casa, com a aposentadoria. Quando isso acontece com uma mulherque eu conheço eu penso: é agora que elas vão começara a viver a vida que elas querem! Mas não. A grande parte está tão acomodada na vidinha que leva que desistem de mudar ao pensar todo o trabalho que vão ter para mudar algo que elas já estão tão acostumadas. ‘Ah, não era o que eu queria, mas fazer o que? Agora é tarde, eu só sei viver assim! Não tenho idade nem energia para uma mudança radical!’. É frustrante! Elas não fazem absolutamente nada! Como no mito da caverna de Platão é quando elas percebem que vivem de ilusões e que existe um mundo real inteiro lá fora. E o que? Elas preferem continuar dentro da caverna escura!!

Mas, tem um outro final para essa história. Eu já vi acontecendo, e é uma das coisas mais bonitas que já presenciei. É quando a mulher percebe que viveu de ilusões, de negação, que tem se enganado há décadas. É quando ela percebe que não vão ser as pequenas mudanças do dia-a-dia que vão tirá-la daquela prisão. Não! Elas percebem que o único jeito de voltar a viver livre e selvagem é sair correndo! E não há nada que sobre após essa explosão de energia: relacionamento, família, amigos, trabalho! Tudo é jogado para o alto! Ela percebe que a vida não está danificada não, ela está inteiramente errada e deve ser refeita desde o início! É quando ela percebe o mundo lindo que existe do lado de fora da caverna e decide que é a hora de levantar e sair correndo.

Eu e o meu amigo criamos uma expressão baseada num filme para esse momento: momento Corra Lola Corra! Não pense, não pondere, não se justifique, não peça desculpas, não analise, simplesmente saia correndo desta vida que não te pertence!

Eu já contei aqui para vocês que tive um momento desses. A semana em que me veio uma luz quase divina e eu decidi largar meu apartamento, meu marido e meu trabalho. Tudo ao mesmo tempo. Porque meu instinto me dizia que quanto mais eu ficasse ou adiasse mais difícil ia ser largar tudo. E que se eu esperasse anos para isso, talvez eu nunca mais fosse embora! Então o que eu fiz? Inspirei o máximo de ar que eu conseguia e simplesmente ‘corra lola corra’!

Lembro de ter presenciado esse momento de uma amiga minha também. Ela estava infeliz com o marido, com a família, com a vida. Num belo almoço de natal, ela simplesmente atravessou a sala cheia de parentes, foi até a cozinha, abriu o armário de louças e jogou prato por prato e xícara por xícara no chão! Depois de liberar toda a energia que estava acumulada ela voltou para a sala, pegou a sua bolsa e... corra lola corra! Não olhou mais para trás.

“Às vezes, elas tentavam se adequar a qualquer padrão que estivesse na moda, sem perceber até bem mais tarde o que realmente queriam, como precisavam viver. E então, a fim de ter uma vida própria, elas passavam pelas dolorosas amputações de abandonar suas famílias, os casamentos que pelo juramento deveriam ser até a morte, os empregos que deveriam ser trampolins para algo mais neutralizante embora mais bem remunerado. Deixaram sonhos espalhados pela estrada inteira.”

Para as mulheres que ainda esperam pelo seu momento corra lola corra, um aviso: a história não caba aí! Após a minha libertação eu simplesmente olhei ao meu redor e percebi que não sabia por onde eu devia começar. Concordam comigo que, se eu soubesse o que fazer para ter a vida que eu queria eu já teria feito bem antes? Cadê a receita de bolo para a realização de sonhos? Não tem. Então, cai em prostração. Eu havia apenas sobrevivido à minha libertação, mas não tinha a menor idéia do que ia fazer com ela.

“É difícil passar anos a fio na companhia de quem não pode nos ajudar a florescer. Ser capaz de dizer que sobrevivemos é um feito. Para muitas, o poder está na própria palavra. No entanto, chega uma hora no processo de formação da identidade em que a ameaça, ou o trauma, já faz parte do passado. É então que se passa ao próximo estágio da sobrevivência, à cura e ao desenvolvimento futuro.”

“Se permanecermos no estágio de sobreviventes sem avançar para o desenvolvimento, estaremos nos limitando, reduzindo nossa energia para nós mesmas e nosso poder no mundo a menos da metade. Uma mulher pode sentir tanto orgulho de ter sobrevivido que esse sentimento prejudique seu desenvolvimento criativo futuro. Às vezes, as pessoas têm medo de prosseguir além do status de sobrevivente, pois é exatamente isso o que ele é — um status, um marco de distinção, uma realização "pura e simples, pode apostar, pode acreditar".

Então, por causa dessas voltas da vida e desse meu processo de me desenvolver após ter sobrevivido, que estou aqui escrevendo para vocês. É o momento em que eu volto para dentro de mim e procuro me conhecer como a palma da minha mão. É a hora de me sentir bela e plena, e de colocar meus talentos individuais em prática. É a hora de começar a vicejar, de colocar o brilho da minha alma dentro dos meus olhos, e encarar o mundo com esse novo olhar.

“Continuar a ser a criança sobrevivente depois da hora para tal representa um excesso de identificação com um arquétipo danificado. Perceber o dano, e mesmo assim registrá-lo na memória, permite que se passe ao desenvolvimento futuro. Vicejar é o nosso destino na terra. Vicejar, não apenas sobreviver, é o nosso direito inato na qualidade de mulheres.”

“Não se encolha nem recue se for chamada de ovelha negra, de indisciplinada, de loba solitária. Quem tem a visão lenta diz que o rebelde é uma praga para a sociedade. No entanto, ficou provado com o passar dos séculos que ser diferente significa estar no limite, significa ser praticamente garantido que essa pessoa vá fazer uma contribuição original, uma contribuição útil e espantosa à sua cultura. Ao procurar conselhos, jamais dê ouvidos aos tímidos de coração. Seja gentil com eles, cumule-os de bênçãos, tente incentivá-los, mas nunca siga seus conselhos.”


Lição do Dia: lembrando que não preciso mais sobreviver, agora a ordem é me desenvolver!

Pendências: como eu não vou conseguir pagar de forma alguma o que o dentista está me pedindo para arrumar a porqueira que eu fiz na minha boca, hoje fiz um convênio dentário para mim. A mensalidade é baratinha, difícil vai ser esperar a carência acabar!


Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com

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