segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Dia 64 – Quando perdemos uma oportunidade

Capítulo 9 – A volta ao lar: O retorno ao próprio Self

Conto: Pele de Foca, Pele da Alma
(Link para a história completa no menu à direita)

A perda do sentido da alma como iniciação

Nesse final de semana eu esperava a resposta de uma grande oportunidade profissional. E recebi a resposta negativa. Eu me preparei tanto, mas tanto para essa oportunidade, me envolvi, me dediquei, dei o meu máximo, e... resposta negativa! Eu tenho certeza que se não tivesse colocado todas as minhas expectativas nessa única resposta eu não teria ficado do jeito que eu fiquei. Mas sabe aquela sensação de que, quando nada na sua vida está funcionando, aquilo pode ser a única chance de sair do poço? Pois é... Não deveria ter pensado assim, mas eu pensei. E criei sonhos, e me vi os realizando, e de algum lugar de dentro de mim veio uma esperança imensa de que agora tudo entraria nos trilhos novamente.

Quando eu recebi a notícia a primeira coisa que fiz foi me permitir ficar triste. Bem tristezinha. Me dei um final de semana inteiro para ficar triste e pensar a respeito do que aconteceu. A segunda coisa que fiz foi tentar entender o ocorrido. Não tentar entender o ‘não’, porque ‘não’ é não, e se não podemos fazer nada para mudar, só nos resta aceitar. Mas o que eu fiz foi tentar entender o que esse ‘não’ vai representar para mim.

Como já dizia Carlos Drummond de Andrade: “A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.” E eu, como uma mulher que se comprometeu a ficar de olho no próprio self, não posso optar por sofrer. Então, vou dividir com vocês algumas coisas que pensei nesse final de semana.

Quando recebi a notícia senti diversas emoções misturadas: me senti derrotada, me senti uma fracassada, tive vergonha do meu desempenho, fiquei brava comigo mesma. Foi difícil, mas eu consegui entender que esses sentimentos vinham todos de dentro da minha própria cabecinha. Me isolei do mundo porque estava me sentindo pior que o fungo do cocô do cavalo do bandido.

Mas será que os outros estavam me vendo assim também? Uma vez uma amiga me disse que eu me destacava pela minha capacidade de começar a vida do zero, uma vez após a outra. Eu vivia levando tombos na vida, mas me levantava e continuava andando. Será que ela tem razão? Quando olho para o meu passado vejo que os meus erros foram muito mais numerosos que os meus acertos. Vi que recebi mais ‘não’ da vida do que ‘sim’. Vi que tive mais planos frustrados do que realizados. E aí penso: não é que aqui estou eu tentando novamente?

De fato, ter tido a coragem depois de tudo o que já me aconteceu de dar a minha cara à tapa novamente conta a meu favor, e não contra mim. Se eu conseguir entender que ter tentado já me torna forte e capaz, esses sentimentos de derrota não vão ter terreno fértil para crescer.

No post do ‘Dia 5 – Decapitando nossos sonhos’ eu escrevi sobre o maldito predador que existe dentro de nossas psiques, que decapita nossos projetos e sonhos. Esse predador interno é aquele que nos estimula a nos auto-boicotar, é aquele que nos faz desistir de tudo o que acreditamos, é o sistema de ‘proteção’ mal comportado da nossa psique, que tenta nos impedir de nos ariscar.

Nesse exato momento o meu predador interno está gritando a plenos pulmões frases do tipo: você não é capaz! Não vai conseguir arrumar a sua vida! O que vão pensar de você? Não deveria nem ter tentado! Porque achou que conseguiria? Porque você não desiste? Você não é tão boa como acredita! Desista!!

Agora, porque raios eu estou permitindo que ele grite comigo, e ficando triste com as coisas que ele me joga na cara é a grande questão. Se esse predador interno faz parte da minha própria psique, como é que eu não consigo controlá-lo? Descobri que ele se alimenta dos meus próprios sentimentos. Enquanto eu achar que sou uma fracassada, eu vou acreditar fielmente nisso! Enquanto eu concordar que não sou capaz, vou continuar vivendo como se eu não fosse. Então, rápida lição do final de semana: eu não posso concordar com nenhuma dessas afirmações e não posso permitir que a minha própria psique tente me convencer delas.

E a frase que eu mais repeti foi a lamentação ‘Porque estou passando por isso novamente?’. Pára tudo, como assim passar por isso? Às vezes fico tão frustrada comigo mesma! Vero, você realmente acha que receber um ‘não’ é uma catástrofe? Então querida, reveja o seu conceito de catástrofe! Você tem um emprego, que pode não ser o melhor do mundo, mas é o que sustenta a sua vida, paga suas dívidas e te dá prazer. Você tem amigos e um namorado que te amam e te apóiam incondicionalmente, torcendo por você em cada desafio. Você pode estar super apertada de grana, mas não passa nenhuma dificuldade. Tá reclamando do quê?

Se passar por isso eu me refiro ao sofrimento vindo da frustração, então está na hora de decidir simplesmente não sofrer. Eu decidi: não vou sofrer por causa disso! E ponto. Antes de me tornar uma heroína preciso ser uma guerreira, e uma guerreia é aquela que enfrenta as lutas e batalhas da vida. Portanto preciso parar de achar que estou lutando contra o mundo mau e que as coisas são mais difíceis para mim do que para os outros. Como já dizia Clarissa, um lobo não reclama quando é atacado ‘Ah não, de novo não!’, ele simplesmente reage e continua com a sua vida.

“Ao trabalhar com histórias de "cativeiro" e de "roubos de tesouros" bem como com a minha experiência de análise de muitos homens e mulheres, cheguei à conclusão de que ocorre no processo de individuação de praticamente todo mundo pelo menos um caso de roubo significativo. Algumas pessoas o caracterizam como o roubo da sua "grande oportunidade" na vida. Os apaixonados o definem como o roubo da alma, uma apropriação do espírito da pessoa, um enfraquecimento do sentido de identidade. Outros descrevem o fato como uma distração, uma ruptura, uma interferência ou interrupção de algo que lhes era vital: sua arte, seu amor, seu sonho, sua esperança, sua crença na bondade, seu desenvolvimento, sua honra, seus esforços.”

“A maior parte do tempo, esse roubo crucial se abate sobre a pessoa vindo de onde ela não espera. Ele cai sobre as mulheres pelos mesmos motivos que ocorrem nessa história do povo inuit: em virtude da ingenuidade, da percepção falha quanto às motivações dos outros, da inexperiência em projetar o que poderia acontecer no futuro, da falta de atenção a todas as pistas do ambiente e em virtude de o destino estar sempre entretecendo lições em sua trama.”

“Seria um erro atribuir esses estados apenas à juventude. Eles podem ocorrer em qualquer um, independente da idade, da filiação étnica, do grau de instrução ou mesmo das boas intenções. Está claro que o fato de ser roubado evolui definitivamente para uma misteriosa oportunidade de iniciação arquetípica para aqueles que se vêem enredados na situação... o que se aplica a quase todo mundo.”


Lição do Dia: persistência.

Pendências: parando de lamentar e começando a pensar num Plano B.

Leia o conto Pele de Foca, Pele da Alma completo:  http://querocorrercomoslobos.blogspot.com/p/pele-de-foca-pele-da-alma.html   

Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com

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