Capítulo 7 – O corpo jubiloso: A carne selvagem
Conto: La Mariposa, a Mulher-Borboleta
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A fala do corpo
“Destruir o vínculo instintivo da mulher com seu corpo natural subtrai-lhe a confiança. Faz com que ela insista em descobrir se é uma boa pessoa ou não, e baseia sua auto-estima na sua aparência em vez de na sua essência. Ela é pressionada a gastar sua energia preocupando-se com a quantidade de alimento que consome, com os números na balança ou na fita métrica. Essa destruição lhe dá uma idéia fixa e influencia tudo o que ela faz, planeja e prevê. No mundo instintivo, é inconcebível que uma mulher viva absorta desse jeito com sua aparência.”
Quando eu vejo essa geração inteira de mulheres viciadas em dietas, perdendo o tesão pela comida, chorando na frente do espelho e fugindo da balança, me pergunto o que exatamente está deixando essas mulheres neuróticas. Porque não compro a explicação de que é a ditadura da magreza que faz isso com elas. Seria um motivo muito pequeno perto de tamanho desequilíbrio. As mulheres estão cada vez mais angustiadas, mais nervosas, estressadas, raivosas, sentindo menos prazer. A quantidade de sentimentos negativos que as mulheres expressam quando se trata do próprio corpo as transformou em mulheres ansiosas e com baixa auto-estima. Seria apenas porque desejam ser mais magras, ter mais peito ou menos coxas? Não faz sentido.
Na verdade o corpo para as mulheres é muito mais do que apenas forma física e avaliação estética. O corpo para as mulheres é a representação de toda a sua natureza selvagem e de todo o seu potencial de se sentir íntegra, e conseqüentemente bela. O que a sociedade não percebe é que atacando as formas estéticas das mulheres estão atacando algo muito mais profundo e valioso: a representação do seu próprio self. E se você avalia o self de uma mulher como ‘não bom o suficiente’ ou ‘não belo o suficiente’ você vai estar atacando a essência dessa mulher. Uma pessoa que não se sente plena com o próprio corpo, não se sente plena com o próprio espírito.
Por isso, as mulheres andam surtadas quando se trata do próprio corpo. Porque elas projetam em sua forma física tudo o que é mais importante para elas: seus princípios, seus valores, seus ideais, sua capacidade, seu potencial. Você dizer para uma mulher que sua aparência não é boa o suficiente é dizer que ela, como mulher, não é boa o suficiente.
Já existem várias linhas profissionais de emagrecimento que pregam a remodelação da sua ‘fome’. Os médicos perceberam que muitas pessoas que não conseguem controlar o próprio peso não comem demais, mas comem errado. Quando elas se sentam para jantar elas não estão ali para saborear uma refeição deliciosa, nem para nutrir o corpo. Elas vão usar a comida como válvula de escape para engolir tudo o que estão sentindo: tristeza, angústia, aflição, ansiedade, mágoa, rejeição. E comer tristeza faz um mal danado para a sua alma e para a sua auto-estima. Essas novas linhas apresentam então um novo modelo de dieta: comer para nutrir e para o prazer. E para mais nada.
Assim como muitas pessoas com desordens psicológicas como a depressão, tem como primeiro sintoma o desleixo com a própria aparência. Elas param de se cuidar, elas param de comer direito, param de se exercitar, e o corpo é o primeiro que vai reclamar dessa falta de cuidados. Muitas pessoas anêmicas, com colesterol alto, gastrite, intestino preso e etc, na verdade estão com algum quadro psíquico que as fazem descontar no corpo as angústias pelas quais estão passando.
Isso me fez pensar que a origem de muitos desses sentimentos de angústia e ansiedade é uma ‘fome’ psicológica. Nós estamos o tempo inteiro com fome de algo e não sabemos do que. E descobrir do que temos fome e nos alimentar desse alimento específico é essencial para a cura de muitos dos nossos dilemas.
“Faz total sentido manter-se saudável e forte, cuidar do corpo da melhor forma possível. No entanto, devo admitir que muitas mulheres têm uma "faminta" dentro de si. Em vez de "famintas" por ter um certo tamanho, formato ou altura; em vez de "famintas" por se adequar ao estereótipo, as mulheres têm fome de consideração básica por parte da cultura que as cerca. A mulher "faminta" ali dentro anseia por ser tratada com respeito, anseia por ser aceita, e no mínimo anseia por ser vista sem preconceitos. Se realmente existe uma mulher "gritando para sair", ela está pedindo aos gritos que terminem as projeções desrespeitosas que os outros lançam sobre seu corpo, seu rosto, sua idade.”
Então eu lhes pergunto: vocês têm fome de que? De aceitação? De cuidados? De carinho? De apoio?
Cuidar do próprio corpo é cuidar do próprio self. Se aceitar como mulher começa com a aceitação do seu corpo. E se você se sente rejeitada e subavaliada, está na hora de decidir começara cuidar de você mesma. Porque não dá para esperar que o mundo ou os homens comecem a adorar o seu corpo, se você mesma não consegue adorá-lo. O primeiro passo para cuidar do próprio corpo é exatamente isso: dar à ele o cuidado, a aceitação e o carinho que não encontramos no mundo exterior. Como vamos cuidar do nosso corpo?
Uma vez assisti uma palestra de uma psicóloga que dizia que nós não damos mais carinho para o nossos corpo, nós simplesmente o alimentamos, lavamos e vestimos. E isso não é cuidar, isso é prover. Nosso corpo também precisa de carinho. Ela dizia que uma das primeiras coisas a fazer é criar rituais no nosso dia-a-dia de cuidados. Precisamos separar um tempo para nos dar carinho. Não podemos apenas lavar o corpo, mas sim dar banho nele, como se faz com um bebê. Entrar no banho relaxada, escolher com cuidado o sabonete que vamos usar, o aroma que queremos, nos massagear com delicadeza e calma, nos fazer carinho. Na palestra ela ensinava que podemos pegar cada um dos nossos momentos de higiene e estética e transformar em rituais de adoração do próprio corpo.
Adorar o próprio corpo quando tomamos banho, acariciá-lo quando passamos um creme hidratante, sem pressa, sem ansiedade. Cuidar de nós mesmas. Em vez de nos olharmos no espelho e pensarmos ‘meu deus, porque sou assim?’, precisamos nos olhar e dizer ’eu vou cuidar desse corpo. Ele sou eu. Cuidando dele eu estou cuidando de mim!’.
Cuidando do nosso corpo estaremos cuidando do nosso self. Aceitando o nosso corpo estaremos aceitando nosso espírito. Adorando nossas formas vamos estar aos poucos, caminhando para a construção de uma auto-estima forma e indestrutível. E não vamos mais ter fome, porque estaremos nos alimentando com o alimento certo que precisamos.
“Uma mulher não pode tornar a cultura mais consciente apenas com a ordem de que se transforme. Ela pode, no entanto, mudar sua própria atitude para consigo mesma, fazendo com que projeções desvalorizadoras simplesmente ricocheteiem. Isso ela consegue ao resgatar seu corpo. Ao não renunciar à alegria do seu corpo natural, ao não "comprar" a ilusão popular de que a felicidade só é concedida àqueles de uma certa configuração ou idade, ao não esperar nem se abster de nada e ao reassumir sua vida verdadeira a plenos pulmões, ela consegue interromper o processo. Essa dinâmica do amor-próprio e da aceitação de si mesma são o que dá início à mudança de atitudes na cultura.”
Lição do Dia: prometendo nunca mais me olhar no espelho e falar ’eu não gosto do meu corpo’, porque entendi que falar isso é dizer que eu não gosto de mim.
Pendências: pensando nos rituais que eu vou criar para cuidar de mim.
Leia o conto La Mariposa, a Mulher-Borboleta completo: http://querocorrercomoslobos.blogspot.com/p/la-mariposa-mulher-borboleta.html
Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com
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