Capítulo 5 – A caçada: Quando o coração é um caçador solitário
Conto: A Mulher-esqueleto
Encarando a natureza de vida-morte-vida do amor
Depois que Clarissa nos ensinou a escolher nossos parceiros, chegou a hora de aprender sobre a natureza dos relacionamentos.
“Os lobos são bons nos relacionamentos. Qualquer um que os tenha observado sabe como são profundos seus vínculos. É freqüente que os parceiros sejam para toda a vida. Muito embora entrem em conflito, muito embora exista discórdia, os vínculos entre eles permitem que ultrapassem invernos rigorosos, primaveras abundantes, longas caminhadas, novas ninhadas, antigos predadores, danças tribais e cantos em coro. As necessidades dos seres humanos não diferem em nada.”
“Embora a vida instintiva dos lobos inclua a lealdade e vínculos permanentes de confiança e devoção, os seres humanos às vezes enfrentam dificuldades com essas questões. Se quiséssemos usar termos arquetípicos para descrever o que determina os fortes vínculos entre os lobos, poderíamos concluir que a integridade dos seus relacionamentos advém da sua submissão à antiga natureza da vida-morte-vida.”
Nesse ponto, tem algumas questões que eu queria comentar. Clarissa destaca algumas qualidades dos relacionamentos entre os lobos, fazendo um paralelo com as necessidades humanas. Eu não teria como concordar mais com ela! Vamos uma a uma.
Lealdade: essa é uma das características que para mim tem mais valor. O mundo atual está focado demais na questão fidelidade X infidelidade. Não que não seja uma discussão válida! A questão é que quando discutimos sobre lealdade, estamos falando de uma qualidade que deve estar presente em absolutamente qualquer tipo de relacionamento. Se você termina uma amizade de anos porque um amigo não foi leal a você, porque raios não vai terminar um relacionamento porque seu namorado agiu da mesma forma?
O que eu mais gosto nos filmes ambientados na Idade Média e no Renascimento é que a lealdade tem papel principal. Os súditos eram extremamente leais à seus senhores, os vassalos à seus suseranos, os cavaleiros à seus reis. Mas a lealdade não era apenas um sentimento reservado para relações onde uma pessoa tinha mais poder que a outra não. Entre iguais era tão importante quanto! Um grupo como Os Cavaleiros Da Távola Redonda não teria sido possível sem a lealdade que existia entre eles. O mesmo vale para os Três Mosqueteiros. Até dentro das atuais tribos e gangues modernas isso é fundamental. Como podemos não ser leais e não receber lealdade num relacionamento?
Confiança: existem pessoas que têm amigos do tipo “gosto, mas não confio”. Não entendo. Se eu não confio não permito que essa pessoa faça parte da minha matilha. Tenho uma confiança cega em todos os meus amigos, e sou do tipo que boto a mão no fogo pelo meu namorado. E a confiança não se resume a traição não! É também confiar que quando você vai precisar a pessoa vai estar lá. É confiar que ela não vai te deixar na mão. É confiar que seus sentimentos não serão relegados para segundo plano. É confiar que seus segredos estão bem guardados. É confiar que ela vai te apoiar na realização dos seus sonhos. É confiar, porque você sabe que seu parceiro é leal ao vínculo que vocês têm.
Devoção: eu gosto muito do sentido da palavra devoção nas religiões orientais. Para eles ser devoto é servir com dedicação íntima e afeto. Não servir no sentido de servir a necessidade de outra pessoa sem se importar com as suas, seja porque ela é mais poderosa, ou porque é a sua obrigação. Não, isso é escravidão. Servir para eles têm o sentido de “eu sirvo suas necessidades porque sua felicidade me faz feliz e porque eu escolhi livremente fazê-lo”. É como quando recebemos um amigo em casa e temos o maior prazer do mundo em fazer aquela bebida especial que sabemos que ele adora. Ser um bom anfitrião é servir, é se dedicar ao seu amigo querido. Agora, chegar em casa do trabalho, super cansada, e correr para a cozinha para fazer o jantar do seu marido enquanto ele vê TV, desculpa amiga, isso é escravidão e não dedicação.
“Diferente dos seres humanos, os lobos não consideram que os altos e baixos da vida, quer de energia, de poder, de alimento, de oportunidade, sejam espantosos ou punitivos. Os picos e os vales simplesmente existem, e os lobos passeiam por eles com a máxima eficácia e facilidade possível. A natureza instintiva tem a capacidade miraculosa de sobreviver a cada dádiva positiva, a cada conseqüência negativa, e ainda manter o relacionamento com o self e com o outro.”
“A Mulher-esqueleto é uma história de caça a respeito do amor. Nas histórias do norte, o amor não é um encontro romântico entre dois amantes. As histórias das regiões próximas ao pólo descrevem o amor como a união entre dois seres cuja força reunida permite a um deles, ou a ambos, a entrada em comunicação com o mundo da alma e a participação no destino como uma dança com a vida e a morte.”
Eu sempre acreditei que os maiores problemas gerados pelo amor moderno está na falta da compreensão e aceitação da vida e da morte nos relacionamentos. E eu acredito nisso exatamente porque tenho uma enorme dificuldade com essa aceitação.
Perguntei para muitos casais que estão juntos há bastante tempo como eles conseguiram superar as décadas de rotina. Muitos me responderam que simplesmente não existe uma rotina, existem várias rotinas que se intercalam em ciclos. Existe uma teoria bem aceita que fala que um relacionamento deve ser formado pela tríade:
- Amizade e Companheirismo
- Amor Romântico e Sexual
- Comprometimento
É necessário que existam esses três elementos para criar um relacionamento saudável. Mas nem sempre os três estarão no seu máximo. No início é o amor romântico/sexual que faz com que os casais fiquem unidos. Depois de anos é a amizade e o companheirismo. Podem vir épocas onde é apenas o comprometimento e a dedicação. Aceitar quando um desses ciclos está terminando e entender que um novo ciclo começa é o verdadeiro talento que o casal deve ter para fazer o relacionamento vingar.
No mundo moderno nós achamos que se o amor romântico enfraquece, a relação automaticamente vai pro brejo. Já terminei vários relacionamentos lindos por que dizia ‘Bom, a paixão terminou, porque eu deveria continuar com ele?’
Só agora, anos mais tarde, eu estou aprendendo que a natureza dos relacionamentos é cíclica e não uma reta. A fase da paixão ardente acabou? Vamos para a próxima fase! A amizade anda meio enfraquecida? Vamos esquentar o sexo! O comprometimento está abalado? Vamos lembrar como somos bons amigos. E isso não é um trabalho nos primeiros meses ou anos não, isso é uma dedicação que se deve ter durante TODA a relação. Cuidar dessa tríade enquanto ela durar, e aceitar os ciclos de fertilidade e de aridez.
“Existem, porém, exigências para esse tipo de união. A fim de criar esse amor duradouro, convida-se mais um parceiro para a união. Esse terceiro é a Mulher-esqueleto. Ela também é chamada de A Morte e, nesse sentido, ela é a natureza da vida-morte-vida num de seus muitos disfarces. Nessa sua apresentação, A Morte não é um mal, mas uma divindade.”
“Num relacionamento, ela desempenha o papel do oráculo que sabe quando chegou à hora de um ciclo começar e terminar. Nessa qualidade, ela é o aspecto selvático do relacionamento, aquele do qual os homens têm mais pavor... e às vezes as mulheres, pois, quando se perdeu a fé na transformação, os ciclos naturais de progresso e de desgaste também são temidos.”
Conclusão: se já não achamos confortável a nossa própria transformação, se não achamos natural a transformação do parceiro, se não encaramos bem os ciclos de começo e fim da nossa vida profissional e financeira, os picos de progresso e desgaste das nossas amizades, como é que esperamos conseguir lidar tranquilamente com os relacionamentos? Não dá, né?
“Para que se crie um amor duradouro, a Mulher-esqueleto precisa ser aceita no relacionamento e abraçada pelos dois amantes.”
Pendências: conseguindo acordar um pouquinho mais cedo todos os dias.
Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com
2 comentários:
Oi Verônica,
Parabéns pelo seu Blog!
Desejo sucesso em seu livro e em suas descobertas!
Bjs!
Fatima
Olá Fátima!
Obrigada pela visita! Qualquer sugestão, sinta-se em casa: eueoslobos@gmail.com
Beijos,
Vero.
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