Capítulo 5 – A caçada: Quando o coração é um caçador solitário
Conto: A Mulher-esqueleto: Encarando a natureza de vida-morte-vida do amor
As primeiras fases do amor: O sono da confiança
“Nesse estágio do relacionamento, o amante volta ao estado de inocência, estado no qual ele ainda se amedronta com os elementos emocionais, no qual ele está cheio de desejos, esperanças, sonhos. A inocência é diferente da ingenuidade. No interior existe um antigo ditado: ‘A ignorância é não saber nada e ser atraído pelo bem. A inocência é saber tudo e ainda assim ser atraído pelo bem’.”
“Esse estado de sábia inocência é alcançado quando descartamos o cinismo e as atitudes defensivas e voltamos a mergulhar no estado de deslumbramento que vemos na maioria dos seres humanos que são muito jovens e em muitos que são bem velhos. É a prática de se olhar com os olhos de um espírito sábio e amoroso, em vez de olhar com os do cão açoitado, da criatura acuada, da boca acima do estômago, do ser humano ferido e irritado. A inocência é um estado que se renova quando dormimos. Infelizmente, são muitos os que a deixam de lado junto à colcha ao acordar. Seria melhor se sempre trouxéssemos conosco uma inocência alerta e a apertássemos junto ao corpo para sentir seu calor.”
Minha terapeuta sempre diz que nós somos um conjunto de cicatrizes de coisas que aconteceram no passado. É importante olharmos para trás com olhos críticos e tentarmos entender qual situação criou cada cicatriz em nossa alma. Mas isso não é suficiente. O passo mais importante é aceitarmos o que aconteceu e não levarmos essa dor adiante! Merda já aconteceu com todos nós, principalmente na vida amorosa. Mas levar toda a dor dessas cicatrizes para cada novo relacionamento só vai nos atrapalhar. Temos que lembrar como elas surgiram, temos que aceitar essas marcas no nosso corpo, e parar de cutucá-las para permitir que elas se curem.
A diferença entre uma criança e um velho sábio, é que uma criança não tem nenhuma cicatriz causada pela vida. Já um sábio conhece suas cicatrizes uma por uma, e sabe lidar e viver com elas. Elas são o acúmulo de experiências, de transformações, de aprendizados. Não podemos voltar a ser crianças, mas podemos buscar essa paz, essa sensação de que o trabalho foi bem feito, e de que o sofrimento faz parte da vida.
“Embora a princípio a volta a esse estado possa exigir que eliminemos anos de pontos de vista desgastados, décadas de meticulosa construção de amuradas desumanas, uma vez que voltemos a ele, nunca mais precisaremos indagar por ele, escavar a sua procura.”
Quando eu olho para a minha vida amorosa consigo identificar uma série de situações que me deixaram cicatrizes. Já fui rejeitada por não ser boa o suficiente, já fui enganada, já fui passada para trás, já deixei que tirassem partes de mim. Tudo isso me trouxe alguns bons mecanismos de defesa, que nada mais são do que muralhas que construímos ao nosso redor. De uns tempos para cá, qualquer coisinha afeta o meu ego. Tenho pavor de críticas ou de julgamentos, prova de que minha auto-estima não está completamente recuperada. De uns tempos para cá é só meu namorado me ligar mais de uma vez numa tarde que já tenho ataques de claustrofobia, com medo de que ele domine a minha vida e que eu deixe de viver pelos meus princípios. De uns tempos para cá desaprendi a ceder. Porque tenho medo que cada vez que eu ceder, aos pouquinhos, vou estar deixando de ser quem eu sou.
Todas essas cicatrizes ainda doem e me mantém em estado de alerta o tempo inteiro, achando que de algum lado podem vir me machucar de novo.
Meu namorado também tem as suas cicatrizes. Ele já foi largado por alguém que confiava num momento muito difícil da sua vida. Isso gerou uma atitude auto-protetora no estilo ‘ninguém é mais importante do que eu, e nada é mais importante na minha vida do que os meus planos’. Vez ou outra isso beira o egoísmo, mas eu entendo, isso vem da dor. E estou ao seu lado para mostrar que ele pode voltar a confiar nas pessoas. Sua última namorada era extremamente ciumenta e dominadora. Isso quer dizer que ele vive esperando que eu surte, dê um piti sem justificativa, cause, comece a berrar e saia quebrando as coisas na sala. Toda vez que ele vai me contar algo que ele acha que vai causar ciúmes, ele fala com uma voz bem mansa, como se estivesse falando com uma criança, chegando pertinho de mim e me abraçando. Quando ele vê que eu não dava escândalo, a reação foi oposta: ‘Você não sente nenhum ciúmes de mim???’. Hehehe. Ele aprendeu que ciúmes é dar valor, que ter ataques de fúria são provas de amor.
“Existe uma prudência que é verdadeira, quando o perigo está por perto, e uma prudência que não tem justificativa e que se origina de algum ferimento anterior. Esta última faz com que os homens ajam de modo irritadiço e desinteressado mesmo quando eles sentem que gostariam de demonstrar carinho e afeto. As pessoas que têm medo de ‘ser ludibriadas’ ou de entrar ‘num beco sem saída’ – ou que não param de vociferar seus direitos de querer ‘ser livre’ – são as que deixam o ouro escapar pelas mãos.”
Não seria justo eu pedir um homem na minha vida limpo de cicatrizes. Todos nós temos as nossas. Mas é importante que, aos poucos, a gente permita que essas cicatrizes se curem. Eu trabalho todos os dias tentando me melhorar. Meu parceiro deve fazer o mesmo. Se não faz, eu o ajudo. Se mesmo com minha ajuda ele não se permitir abandonar a dor das velhas feridas, eu tenho motivos para acreditar que ele seja masoquista. Brincadeira? A quantidade de gente que conheço por aí que adora sentir uma dor e cutucar a casquinha das próprias feridas é absurda!
“Ser inocente significa ser capaz de ver com nitidez qual é o problema e corrigi-lo. Essas são as poderosas imagens por trás da inocência. Ela é considerada não só uma atitude de evitar o dano aos outros ou ao próprio self, mas também a capacidade de curar e recuperar a si mesma (e aos outros). Pense nisso. Imagine as vantagens para todos os ciclos do amor.”
“Para que o amor viceje, o parceiro precisa confiar que o que vier a ser será de natureza transformadora. Ele deve permitir entrar naquele estado de sono que nos devolve a uma sábia inocência, que cria e recria, como seria de se esperar, as espirais mais profundas da experiência da vida-morte-vida.”
Pendências: estou com uma dificuldade infeliz de organizar as coisas que tenho que fazer em datas e horários. É impressionante que a organização que temos no nosso trabalho, nem sempre vem com a gente pra casa.
Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com
2 comentários:
achei-me aqui....rsrsrs
também tenho pavor de criticas e julgamentos...e um monte de cicatrizes e outras tantas feridas ainda abertas...
excelente...
beijocas
Loisane
te espero no meu cantinho
Olá Loisane,
A jornada com esse livro têm sido incrível exatamente porque nos obriga a termos consciência das nossas próprias limitações!
Por mais que doa, não chega a ser libertador?
Beijos,
Vero.
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