Capítulo 6 – A procura da nossa turma: A sensação da integração como uma bênção
Conto: O patinho feio
A descoberta daquilo a que pertencemos
“‘O patinho feio’ tem muitas versões, todas contendo o mesmo núcleo de significado; mas cada uma, cercada de diferentes enfeites e franjas que refletem o meio cultural da história bem como o talento poético de cada narrador.”
A história do patinho feio foi uma das primeiras histórias que li inteira sozinha, há décadas atrás, quando me alfabetizei. Mas, desde pequena, a história me parecia meio boba. Sempre achei que a moral dessa história fosse algo do tipo ‘você é especial’, mas peraí, todo mundo é especial! Então seria uma história de esperança para os rejeitados?
Fiquei perplexa quando li essa história na narrativa de Clarissa. Primeiro porque a versão que ela compartilha é bem mais longa e detalhada das versões que tive contato. Segundo, porque pela primeira vez entendi a interpretação do conto, e me emocionei!
A história do patinho feio não é uma história de vencer a luta contra a rejeição. Não. A história é sobre a busca pelo nosso verdadeiro grupo, pela nossa verdadeira família, pelo nosso verdadeiro lar.
Fiquei chocada quando a autora começa o capítulo dedicando o conto às mulheres que nunca se sentiram parte de sua família ou de sua cultura, porque eu sempre me senti assim. Se a história da cegonha fosse verdadeira, não teria nenhuma dúvida de que a cegonha que me levava me deixou na janela da família errada. Não estou aqui dizendo que família não é importante, ou que a minha seja do mal. Só estou dizendo que mesmo eles sendo importantes, nem sempre você consegue verificar qualquer afinidade entre você e seus parentes.
E comigo é assim. Quando completei 18 anos cortei voluntariamente as relações com a minha família paterna. Com 25 cortei as relações com a família materna. Hoje, olhando para minha mãe identifico nela uma genitora que amo, mas isso nunca vai nos fazer semelhantes. E essa absoluta falta de afinidade com as pessoas mais próximas a mim faz com que eu me sinta meio órfã, meio abandonada, meio sem ninguém no mundo.
Por isso, desde que me tornei adulta invisto grande parte do meu tempo em criar uma família para mim. Uma que não vai ser composta de pais, irmãos e avós, mas sim de grandes amigos dispostos a dividir uma vida ao meu lado. Como vi alguns anos mais tarde, isso é muito mais difícil do que parece. Primeiro porque às vezes nos aproximamos de pessoas que só se parecem conosco por causa de um determinado momento de vida. Segundo, porque hoje em dia as pessoas perderam a noção de uma amizade para a vida toda, com a lealdade e o carinho necessários para apoiar o outro nos momentos mais difíceis. Hoje é fácil ter amigos de ‘trabalho’, de ‘balada’, de momento. E não era bem isso que eu estava interessada...
Como ainda busco minha verdadeira família, a história do patinho feio se tornou uma das mais belas para mim. Vamos acompanhar ao longo dos próximos dias a história do patinho exilado que corre o mundo em busca do seu verdadeiro lugar.
“Os significados básicos que nos interessam são os seguintes: o patinho da história simboliza a natureza selvagem, que, quando forçada a enfrentar circunstâncias pouco propícias, luta instintivamente para continuar viva apesar de tudo. A natureza selvagem sabe instintivamente agüentar e resistir, às vezes com elegância, às vezes sem muito estilo, mas resistindo assim mesmo. Graças a Deus por esse aspecto. Para a mulher selvagem, a continuidade é uma das suas maiores forças.”
“O outro aspecto importante da história é o de que, quando a vibração específica da alma de um indivíduo, que tem tanto uma identidade instintiva quanto uma espiritual, é cercada de aceitação e reconhecimento psíquico, a pessoa sente a vida e a força como nunca sentiu antes. Descobrir com certeza qual é a sua verdadeira família psíquica proporciona ao indivíduo a vitalidade e a sensação de pertencer a um todo.”
“Certifique-se agora de perder menos tempo com aquilo que eles (seus pais) não lhe deram e de dedicar mais tempo à procura das pessoas com quem você se sinta bem. Pode ser que você não pertença absolutamente à sua família original. Você talvez combine com eles em termos genéticos, mas quanto ao temperamento você pode pertencer a um outro grupo. Ou quem sabe você não pertença à sua família apenas superficialmente enquanto sua alma escapa, corre pela estrada afora e satisfaz sua gula mordiscando petiscos espirituais em outras plagas?”
Lição do Dia: voltando a procurar o meu lugar no mundo.
Pendências: ajudando os comprimidos fazerem efeito com muito brócolis na veia.
Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com
4 comentários:
Verônica,
Me identifiquei tanto com esse capitulo.
Lembrei-me que ao final da história (Patinho feio), depois de passar todo o tipo de aflição e amargura, ele se depara com a beleza majestosa dos cisnes. Uma imagem que o seduz de forma tão arrebatadora que, apesar das numerosas rejeições que sofrera até então, decide tentar mais uma vez... em outro lar... Ao juntar-se ao grupo, e ser muito bem recepcionado, vê a própria imagem refletida na água e só então se dá conta da transformação por qual passou. Percebe que também é um cisne belo e gracioso.
"Voltando a procurar meu lugar no mundo."
Um beijo,
Verô,
Mais uma vez me identifiquei...
Acho que tô precisando procurar meu lugar no mundo...
=/
BjinhosS
Mayra, essa história é belíssima não?
Assim como o patinho, às vezes mal percebemos que no final de processos dolorosos nossa transformação é a maior benção!
Beijos,
Vero.
Daniii,
Acho esse conto uma lição de vida! Clarissa compartilha lições muito valiosas para quem, como eu, ainda está nessa busca!
Beijos,
Vero.
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