sábado, 23 de outubro de 2010

Dia 30 – Homens que choram

Capítulo 5 – A caçada: Quando o coração é um caçador solitário

Conto: A Mulher-esqueleto: Encarando a natureza de vida-morte-vida do amor

As primeiras fases do amor: A doação da lágrima

“Quando se chegou até esse ponto no relacionamento com a natureza da vida-morte-vida, a lágrima vertida é a lágrima da paixão e da compaixão combinadas, por si mesmo e pelo outro. É a lagrima mais difícil de ser derramada, especialmente para os homens e certos tipos de mulheres ‘calejadas pela vida urbana’.”

“Tão certo quanto o fato de a Mulher-esqueleto vir à tona, agora essa lágrima, esse sentimento no homem, também chega à superfície. Ela é uma aula de amor a si mesmo e ao outro. Despido, agora, de todos os espinhos, anzóis e facas do mundo diurno, o homem atrai a Mulher-esqueleto para deitar-se ao seu lado, para beber e se nutrir com seu sentimento mais profundo. Nessa sua nova forma, ele é capaz de saciar a sede do outro.”

Quando li essa parte da história, quem teve vontade de chorar fui eu! Hehe! Primeiro porque me lembrei de todas as amigas mulheres que se envolveram com homens que não conseguiam chegar até essa última etapa das primeiras fases do amor: a doação da lágrima. Muitas delas fizeram tudo o que era necessário, se doaram, cederam, apertaram suas mãos, deram apoio, mas nada dessa lágrima vir. O que também me deu vontade de chorar foi ver que muitas mulheres empacam nesse mesmo problema. Muitas tentam viver vestindo a roupa do personagem da mulher ideal e esquecem que elas devem dar à seu parceiro a lágrima de suas próprias feridas.

“A lágrima de quem sonha surge quando aquele que virá a ser um amante se permite sentir seus próprios ferimentos e curá-los, quando ele se permite ver a auto-destruição provocada pela perda da sua fé na bondade do self, quando ele se sente isolado do ciclo protetor e revitalizante da natureza da vida-morte-vida. É então que ele chora, por sentir solidão, uma imensa saudade daquele local psíquico, daquele saber primitivo. É assim que o homem se cura, e que aumenta sua capacidade de compreensão. Ele assume a função de criar seu próprio remédio; ele assume a tarefa de alimentar o ‘outro extinto’. Com suas lágrimas, ele começa a criar.”

Em relação ao homem bloqueado tenho muita pena que talvez nunca na vida eles sejam capazes de se entregar ao verdadeiro amor. Às mulheres que estão com eles, fico triste porque muitas vezes só descobrem esse bloqueio no parceiro anos depois. Fiquei triste por mim, por perceber agora que eu sou uma dessas mulheres ‘calejadas pela vida urbana’, e que não foi em todos os relacionamentos que eu consegui verter essa lágrima.

“Talvez não exista nada que uma mulher deseje mais de um homem do que a atitude de ele desmanchar suas projeções e encarar seu próprio ferimento. Quando o homem enfrenta seu ferimento, a lágrima surge naturalmente, e suas lealdades internas e externas se tornam mais fortes e definidas. Ele se transforma no seu próprio curandeiro. Não se sentirá mais solitário à procura do Self profundo. Ele não mais procura a mulher para ser seu analgésico.”

Essa expressão ‘analgésico’ chega a ser cretina! Como alguém pode usar outra pessoa como remédio para dor? Eu contei aqui para vocês outro dia que um ex-namorado meu começou a sair comigo porque estava arrasado com o seu divórcio. Ele dizia que estava tudo bem, vivia como se estivesse tudo bem, mas depois de apenas algumas semanas eu comecei a perceber que não, não estava tudo bem. Ele levava a vida sem esperança, vivia um dia após o outro, era como uma folhinha no vento esperando para ser levada. Ele havia perdido a esperança na vida, havia desistido dos seus sonhos, do amor até. E ele queria ficar comigo porque dizia que eu trazia uma sensação gostosa de alívio.

No começo isso até me vangloriou. Puxa, ninguém nunca havia visto em mim uma espécie de salvação! Depois isso começou a me deixar um pouco angustiada: sou merecedora de tudo isso? Mais tarde, comecei a ficar irritada: ‘Oi, olha, a Vero tá aqui, eu sou uma pessoa única, não quero ser alívio de ninguém, quero que você me ame pelo que eu sou e não pelo que eu te ofereço!’. Eu gostava muito dele, entendia a sua dor, queria que ele melhorasse! E aos poucos ele começou a abrir o seu coração. Um dia acordou no meio da noite e me contou o pesadelo, depois começou a me contar a história do seu casamento, das brigas, das discussões, de como terminou. Contou-me de sua depressão, da perda de peso, dos remédios.

Algumas semanas depois, ele já conseguia falar sobre esse assunto rotineiramente. E eu sentia um peso saindo dos ombros dele, sentia que ele estava genuinamente mais feliz, mais saudável, mais confiante. Começou a fazer planos, voltou a ter sonhos, nossa, era um outro homem! Até que um dia ele me contou de uma cena que o acompanhava todos os dias, todos os momentos, até durante o sono: a tentativa de suicídio da ex-esposa.

Nessa hora eu percebi que não ia vir dele a vontade de se curar. Ele não permitia que ninguém, nem seu terapeuta, tocassem esse momento da vida dele. Ele não permitia que esse assunto fosse trabalhado. Não era a hora. Eu acredito que as pessoas sempre dão o que elas têm para dar. E ele me deu o que ele tinha. Mais do que isso não tinha como. Como as pessoas podem dar mais do que elas têm? Infelizmente, para mim não foi o suficiente.

Todas as vezes que me lembro dele torço para que ele tenha encontrado uma nova mulher e que, ao seu lado, finalmente consiga verter a lágrima para a sua própria cura!

“Quando o homem verte a lágrima, é que ele se deparou com a própria dor; e ele a reconhece ao tocá-la. Ele percebe como sua vida foi vivida de forma protegida em virtude do ferimento. Percebe tudo o que perdeu na vida devido ao ferimento. Vê como cerceou seu amor à vida, a si mesmo e ao outro.”


Lição do Dia: lembrando do passado e aceitando que às vezes não é a hora.

Pendências: hoje fiz uma consulta com uma homeopata. Gente finíssima! Sentia falta desse tipo de médico que, além de pedir exames, te pergunta com o que você sonha e como anda a sua vontade de comer doce...

Escreva para a Vero: eueoslobos@gmail.com

4 comentários:

De tudo um pouco disse...

a boca fala daquilo que o coração está cheio não é?

Beijocas


Loisane

Carla Farinazzi disse...

Vero,

Penso que essa lágrima tem a ver com o perdoar-se, sabe? Reconhecer as nossas feridas, entendê-las, aceitá-las e finalmente perdoá-las, para que possamos seguir em frente, livres.
"A lágrima de quem sonha surge quando aquele que virá a ser um amante se permite sentir seus próprios ferimentos e curá-los"
A própria ideia da lágrima é uma ideia de libertação, de se soltar das masmorras passadas, de entendê-las... Quem nunca sentiu alívio depois de um chorar em que se derrama todas as mágoas e feridas? Aquele chorar com a alma, como se não restasse mais nada. E, ao término, damo-nos com a alma lavada. Livre. Perdoada.

Beijos

Carla

Verônica disse...

Concordo Carla!

Quando alguma coisa ruim acontece com a gente sempre tendemos a culpar alguém ou nós mesmos.

A questão é que é muito mais fácil perdoar os outros. Agora, como podemos perdoar a nós mesmas?

Trabalho difícil esse, mas necessário...

Beijos,

Vero.

Verônica disse...

Pois é Loisane, e eu acredito que falar das coisas que sentimos é o primeiro passo para a cura, concorda?

Não é à toda que as terapias sempre começam com um verdadeiro desabafo...

Beijos,

Vero.