domingo, 31 de outubro de 2010

Dia 37 – Sobre o desistir


Capítulo 6 – A procura da nossa turma: A sensação da integração como uma bênção

Conto: O patinho feio

A aparência indevida


“Como o patinho feio, o intruso aprende a evitar situações em que possa agir certo mas mesmo assim dar a impressão errada. O patinho, por exemplo, sabe nadar bem, mas não tem a aparência devida. Por outro lado, a mulher pode ter a aparência perfeita e não conseguir agir corretamente."

Isso acontece com razoável freqüência quando estamos procurando nossa verdadeira família e comunidade. Repetimos para nós mesmas que não vamos nos enturmar com pessoas que não tem afinidade conosco, com nossas idéias, com nossos princípios. Mas como a procura é difícil e longa no meio do caminho já estamos desesperadas, carentes e solitárias ‘Mas não existe ninguém bacana nesse mundo?’, nos perguntamos.

Não entendemos porque pessoas bacanas como nós ainda não encontraram seu verdadeiro grupo. E nessa solidão temos a brilhante idéia de nos juntarmos às pessoas que estão disponíveis e acessíveis para nós. Aí está o erro! Quando resolvemos fazer parte de um grupo que em nada tem em comum com nossa alma selvagem só existe duas saídas prováveis: ou você vai deixar de ser você mesma e agradar os outros até ser desmascarada, ou você vai ser você mesma e desagradar a todo o resto até ser expulsa.

E isso vale para qualquer tipo de interação! Estou falando da escolha de familiares, de amigos, de namorados, de ambiente de trabalho, de cidade para se morar. Qualquer decisão que a gente tome quando estamos dominadas pelos monstros da carência e da solidão, tendem a terminar com sentimentos de frustração e de não pertencimento.

“Na história, o patinho começa agir como um pateta, aquele que não consegue fazer nada certo... ele joga poeira na manteiga e cai no barril de farinha, mas não antes de mergulhar primeiro no latão de leite. Todas nós já passamos por isso. Não conseguimos fazer nada certo. Tentamos melhorar. Em vez disso, pioramos. Não era para o patinho ter entrado naquela casa. Mas isso acontece quando se está desesperado. Vai-se ao lugar errado em busca da coisa errada.”

Que atire a primeira pedra quem nunca fez besteira quando estava dominada pela carência! A minha carência é quase uma segunda personalidade, com vida própria e um pouco maníaca. Só anos depois eu consegui aprender a lição: quando essa minha personalidade carente que quer agradar à todos estiver me dominando, a melhor coisa a fazer é correr para casa, ficar quietinha e esperar o surto passar.

“Embora seja útil abrir canais até mesmo para aqueles grupos aos quais não pertencemos e seja importante tentar ser gentil, é também imperioso não nos esforçarmos demais, não acreditar demais que se agirmos corretamente, se conseguirmos conter todos os impulsos e contrações da criatura selvagem, poderemos realmente passar por damas educadas, recatadas, contidas e reprimidas. É esse tipo de atitude, aquele tipo de desejo do ego de integrar-se a todo custo, que destrói o vínculo com a Mulher Selvagem na psique. E então, em vez de uma mulher vital, temos uma mulher simpática, a quem foram arrancadas as garras. Temos, então, uma mulher bem-comportada, com boas intenções, nervosa, ofegante no anseio de ser boa. Não, é melhor, mais elegante e muito mais profundo ser o que somos e como somos, deixando que os outros também o sejam.”

Se você desistiu de tentar procurar o seu grupo é porque provavelmente já se machucou bastante no processo ou já quase se perdeu tentando ser algo que não é. Se for o seu caso, não desista: você andou batendo apenas nas portas erradas, ainda há tempo de bater na porta certa!


Lição do Dia: ficando de olho no monstro da carência.

Pendências:
Day off para dar atenção ao meu parceiro.

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sábado, 30 de outubro de 2010

Dia 36 – Você está escolhendo certo?

Capítulo 6 – A procura da nossa turma: A sensação da integração como uma bênção

Conto: O patinho feio

As más companhias


“O patinho feio vai de um lado a outro à procura de um lugar onde possa repousar. Apesar de não estar plenamente desenvolvido seu instinto para detectar exatamente onde ir, o instinto de vaguear até encontrar o que ele precisa está em perfeito funcionamento. No entanto, ocorre às vezes uma espécie de patologia na síndrome do patinho feio. Continuamos batendo nas portas erradas mesmo depois de más experiências. É difícil imaginar como se poderia esperar que uma pessoa soubesse quais portas são as certas se ela, para começar, nunca chegou a saber o que é uma porta certa. No entanto, as portas erradas são aquelas que fazem com que voltemos a nos sentir proscritos.”

Já escutaram a frase ‘ah, mas eu tenho um dedo podre para homem mesmo’? Pois é. Eu concordo! Embora não chamasse de dedo pobre, porque quem escolhe nossos parceiros somos nós mesmas. Eu diria ‘sim amiga, você escolhe o parceiro errado mesmo’. Tenho alguns casos de amigas próximas para ilustrar:

Amiga 1: começou com o professor da faculdade. Ele não sabia que ela existia. A paixão durou quase 1 ano. Depois veio a se apaixonar pelo terapeuta (sim, o psicólogo dela) que estava noivo de outra mulher. Ele casou, e ela ainda manteve a paixão platônica por mais 2 anos. Em seguida veio o cara com que ela transou pela primeira vez. Eles saíram umas 3 vezes, ele sumiu, e ela esperou por ele por mais 3 anos. Ainda procura pelo príncipe encantado.

Amiga 2: não tinha um tipo específico de cara, transava com qualquer ser com cromosso Y que atravessasse o seu caminho, e tinha orgulho disso. Uma década depois descobre que está carente e resolve arrumar um namorado: 2 caras muito mais novos do que ela, 2 homens gays, e um cafajeste. Finalmente achou um indivíduo digno está feliz da vida. Ok, ele mente um pouco e desaparece sem dar explicações por semanas. Mas puxa, ele pelo menos topou.

Amiga 3: era a amiga mais cotada para casar cedo. Tinha vários pretendentes e um padrão de qualidade inatingível.  Dispensou cada pretendente que apareceu sem nem se dar ao luxo de um primeiro encontro. Ficou sozinha e hoje só sai com caras que digam literalmente que não querem nada sério. Não acredita mais no amor.

Amiga 4: ela sempre preferiu os caras mais novos. Até aí é um gosto pessoal. Sempre dizia que seu lado maternal falava mais alto, e que ela gosta de cuidar dos namorados. Certo. Teve uns 8 namoros na vida, em todos foi ela quem terminou a relação, sempre alegando que o pobre coitado era pouco homem para ela. Sempre surgiam homens interessantes pelo meio do caminho, mas ela recusava, dizia que se sentia intimidade perto de um cara com a vida feita. Ela está entrando na menopausa e desesperada para ter filhos.

Lembrete: resolvi não comentar casos de homens agressivos, violentos, alcoólatras, usuários de drogas, suicidas e maníacos.

“Essa reação ao isolamento é a do tipo ‘procura do amor em todos os lugares errados’. Quando a mulher se volta para um comportamento repetitivamente compulsivo — reencenando um comportamento frustrante, que provoca a decadência em vez de uma vitalidade permanente — com o objetivo de abrandar seu isolamento, ela na realidade está causando mal ainda maior porque a ferida original não está sendo tratada e a cada incursão ela ganha novas feridas.”

“Essa atitude se assemelha à de pingar algum remedinho no nariz quando se tem um talho aberto no braço. Mulheres diferentes escolhem tipos diferentes de "remédio errado". Algumas optam pelo que é obviamente inadequado, como as más companhias, os excessos nos prazeres que são prejudiciais e destrutivos da alma, e tudo que primeiro a incentiva e a coloca lá no alto para depois atirá-la pelo chão.”

Todas as mulheres que citei são extremamente bonitas, inteligentíssimas, bem sucedidas, com grandes carreiras e famílias estruturadas. E então eu me pergunto: como elas agüentam mais dor? Porque todos nós chegamos num ponto que a dor é insuportável, e damos um basta para mudar a situação. Mas me lembro depois que essas mesmas mulheres são as tem o poder da negação encarnados em seus corpos. Elas negam tudo de ruim que acontece na vida delas.

‘Ele me traiu, mas era perfeito!’, ‘Ele não sente mais nada por mim, logo é um cafajeste’, ‘Tudo seria perfeito se aquela vadia não tivesse dado em cima dele’, ‘Eu tenho todos os homens que eu quero, porque preciso dele?’, ‘Ah, fulano? Nem me lembro mais dele’ ou ‘Aquele relacionamento que passei meses chorando? Como eu era uma boba, nem doeu tanto assim!’. Ou, escuto coisas piores: ‘Nenhum homem presta!’, ‘Todos os homens são infiéis!’, “Estou sendo punida pelo universo!’, ‘Minha vida amorosa é amaldiçoada!’.

Essas amigas repetem frases derivadas dessas há anos! Algumas que conheço há mais tempo, há décadas! Querida, a única coisa que eu vejo em comum entre todos os caras da sua vida é terem sido seus namorados! Logo, não existe nenhum problema com o cromossomo Y, o problema só pode estar em você.

Porque você escolhe os parceiros errados para se relacionar?

“Existem diversas soluções para essas más escolhas. Se a mulher conseguisse parar para examinar seu próprio coração, ela veria nele uma necessidade de que suas habilidades, seus dons e suas limitações fossem respeitosamente reconhecidos e aceitos. Portanto, para começar a cura, pare de se iludir com a idéia de que um pequeno paliativo irá consertar uma perna quebrada. Seja franco frente às suas feridas, e assim terá uma imagem correta do remédio necessário. Não jogue no vazio o que for mais fácil ou estiver mais disponível. Faça questão do medicamento adequado. Você o reconhecerá porque ele irá fortalecer sua vida, em vez de enfraquecê-la.”


Lição do Dia: voltando a pensar nas minhas amizades e identificando as frutas podres no meio do cesto.

Pendências: as tarefas ‘acordar mais cedo’ e ‘comer melhor’ foram concluídas com sucesso! Adiciono na minha lista as novas mudanças de hábito: ‘aprender a cozinhar’ e ‘cuidar da saúde’ (marcar o início dos tratamentos).

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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Dia 35 – Seu tipo de mãe

Capítulo 6 – A procura da nossa turma: A sensação da integração como uma bênção

Conto: O patinho feio

Tipos de mães

“Embora possamos interpretar a mãe na história como um símbolo da nossa própria mãe exterior, a maioria dos adultos tem agora uma mãe interior, como legado da sua mãe verdadeira. Trata-se de um aspecto da psique que atua e reage de um modo idêntico ao da experiência da infância de uma mulher com sua própria mãe. Além do mais, essa mãe interior compõe-se não só da experiência da mãe pessoal, mas também de outras figuras maternas das nossas vidas, bem como das imagens da mãe boa e da mãe perversa exibidas pela nossa cultura na época da nossa infância.”

“Na psicologia junguiana, esse emaranhado todo é chamado de complexo materno. Trata-se de um dos aspectos centrais da psique da mulher, e é importante reconhecer sua condição, reforçando certas características, corrigindo algumas, erradicando outras, e começando tudo de novo se necessário.”

Nesse conto da história, Clarissa analisa quais os tipos de mães que dão origem ao Patinho Feio. Para quem não se lembra da história vou fazer um breve resumo: o patinho feio, sendo muito diferente dos outros patos e animais da fazenda era constantemente mal tratado por toda a comunidade. No início a mãe protege seu filho, tentando fazê-lo se integrar com os outros. Cansada de se ver protegendo o Patinho Feio, a mãe pata acaba por sentir vergonha do próprio filhote e acaba por rejeitá-lo. É assim que o Patinho Feio sai da fazenda e começa a sua jornada.

Quando nos reconhecemos como um típico Patinho Feio à procura do seu lugar no mundo, temos que analisar qual foi o contexto que originou esse sentimento. Clarissa pede então que dentre os tipo de mães descritas a gente tente descobrir qual foi a mãe que tivemos e o que devemos fazer para nos livrar de complexo materno. Lembrando mais uma vez que, não importa a idade que você tenha, sempre levamos conosco uma mãe interna, que nos trata da mesma forma como éramos tratadas na infância.

A MÃE AMBIVALENTE: “A mãe curva-se aos desejos da comunidade em vez de se alinhar a favor do filho. A mulher que viva num ambiente semelhante irá tentar moldar a filha para que esta aja de modo "conveniente" no mundo objetivo. Uma direção é o seu próprio desejo de ser aceita pela comunidade. Outra é o instinto de auto-preservação. Uma terceira é o medo de que ela e o filhote venham a ser castigados, perseguidos ou mortos pela comunidade. Esse medo é uma reação normal a uma ameaça anormal de violência física ou psíquica. A quarta força é o amor instintivo da mãe pelo filho e a preservação desse filho.”

“Quando a mulher tem essa imagem da mãe ambivalente na sua própria psique, ela pode se descobrir cedendo com muita facilidade. Ela pode se descobrir com medo de firmar uma posição, de exigir respeito, de afirmar seu direito a fazê-lo, de aprender, de viver do seu próprio modo.”

A MÃE PROSTRADA: “Quando uma mãe desiste, isso significa que ela perdeu o sentido de si mesma. É mais provável que ela tenha sido isolada do Self selvagem e que tenha entrado em prostração, forçada por alguma ameaça real, de ordem psíquica ou física. Quando as pessoas caem prostradas, elas geralmente caem em um dentre três estados emocionais: o de confusão,  o de agitação (quando têm a impressão de que ninguém sente uma solidariedade adequada pela sua aflição) ou o de abismo (uma reencenação emocional de antigas feridas, muitas vezes frutos de uma injustiça inexplicada e não corrigida perpetrada contra elas ainda quando crianças).”

“Quando a mulher tem um constructo de mãe prostrada dentro da sua psique e/ou da sua cultura, ela é indecisa quanto ao seu valor. Ela pode considerar que as escolhas entre cumprir exigências exteriores e as exigências da alma são questões de vida ou morte. Ela pode se sentir como um pária atormentado que não se encaixa em nenhum lugar — o que é uma sensação relativamente normal para a pessoa "diferente" — mas o que não é normal é ficar sentada chorando, sem fazer nada. Devemos nos levantar e sair à procura do lugar a que pertençamos. Para quem é "diferente”, é sempre esse o próximo passo. E para uma mulher com uma internalização da mãe prostrada, esse passo é vital. Se a mulher tiver uma mãe prostrada, ela deve se recusar a se tornar outra mãe prostrada para si mesma.”

A MÃE CRIANÇA E A MÃE SEM MÃE: “Não há como escapar: a mãe precisa receber a atenção materna para dar atenção à sua própria prole. Embora a mulher tenha um vínculo físico e espiritual inalienável com seus rebentos, no mundo instintivo da Mulher Selvagem, ela simplesmente não se transforma de repente numa mãe temporal completa por si mesma. Na maioria dos países industrializados, hoje em dia, a jovem mãe choca, dá à luz e tenta beneficiar seus filhos completamente só. Trata-se de uma tragédia de enormes proporções.“

“Ela não é capaz de orientar e apoiar seus filhos mas, como as crianças da fazenda na história do patinho feio, que sentem uma alegria intensa por ter um animalzinho em casa mas não sabem cuidar direito dele, a mãe-criança acaba deixando o filho maltratado e em péssimas condições. Sem que o perceba, a mãe-criança tortura seu filho com diversas formas de atenção destrutiva e, em alguns casos, de falta de atenção.”

Minha mãe é uma clássica Mãe sem Mãe. Meus avós tinham um casamento infeliz e uma relação pautada na violência. Minha avó era faxineira e meu avô porteiro de um prédio. Tiveram 5 filhos e todos moravam juntos num cubículo. Minha mãe, a mais velha dos 5, foi responsável desde cedo por cuidar da casa, da comida, trocar fraldas e por educar os irmãos mais novos. Com 15 anos ela era a única figura materna que meus tios tinham. Dá para perceber que ela nunca teve ninguém que cuidasse dela, só quem gritasse, ninguém que desse carinho, só quem desse bronca, e que assumiu responsabilidades absurdas para alguém que ainda era uma criança.

Não é à toa que minha mãe tenha uma noção tão errada do que seja cuidar. Ela não acredita que cuidar é dar apoio, suporte, ajuda, carinho. Para ela cuidar é dar o que comer. Como seus pais nunca fizeram nada por ela, ela acha que se sacrificar diariamente pelos filhos é prova de amor. E que isso mais do que basta. Ela acha que deu o seu melhor, e de fato talvez tenha dado, mas eu e meu irmão nos sentimos até hoje totalmente largados no mundo.

Depois de identificar a mãe que deu origem ao seu complexo materno, Clarissa descreve qual é a mãe que criar para substituir a mãe que está dentro da nossa psique: a Mulher Selvagem.

A MÃE FORTE, A PROLE FORTE: “Em vez de nos desapegarmos da mãe, estamos procurando uma mãe selvagem. Não vivemos e não podemos viver separadas dela. Nosso relacionamento com essa mãe da alma deve girar sempre, mudar, transformar-se; e ele é um paradoxo. Essa mãe é a escola na qual nascemos, a escola na qual aprendemos, a escola na qual ensinamos, tudo ao mesmo tempo e pelo resto das nossas vidas. Quer tenhamos filhos, quer não, quer cuidemos do jardim, das ciências, das tormentas da poética, sempre nos depararemos com a mãe selvagem em nosso caminho para qualquer lugar. E é assim que deve ser.”

“É esse o modelo psíquico e a esperança para aquelas que tiveram pouco ou nenhum cuidado materno, bem como para as que sofreram cuidados torturantes. Muito embora a mãe de certo modo esteja acabada, muito embora ela não tenha mais nada a oferecer, os rebentos irão sei desenvolver, crescer independentes, e ainda vicejar.”


Lição do Dia: buscando as orientações da Mulher Selvagem para me guiarem no caminho.

Pendências: Amanhã é dia de uma nova lista de mudança de hábitos!

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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Dia 34 – Você é diferente?

Capítulo 6 – A procura da nossa turma: A sensação da integração como uma bênção

Conto: O patinho feio

A rejeição à criança diferente

“As meninas que demonstram ter uma forte natureza instintiva muitas vezes passam por sofrimentos significativos no início da vida. Desde a época em que são bebês, são mantida presas, domesticadas, e ouvem dizer que são inconveniente ou teimosas. Suas naturezas selvagens revelam-se bem cedo. Elas são curiosas, habilidosas e possuem excentricidades leves de vários tipos, características estas que, se desenvolvidas, constituiriam a base para sua criatividade para o resto das suas vidas. Considerando-se que a vida criativa é o alimento e a água para a alma, esse desenvolvimento básico é de importância dolorosamente crítica.”

Já se perguntaram qual é a razão para ainda existir feminismo no mundo? Afinal, hoje as mulheres podem votar, trabalhar, usar calças e optar por não ter filhos. Eu respondo por quê: embora o mundo pareça nos dar livre arbítrio para escolher o que queremos, ainda nos julga caso a gente resolva não seguir o caminho tradicional.

Eu sinto na pele o machismo que ainda existe no mundo. Nos dizem como devemos nos vestir, que peso deveríamos ter, quais as carreiras mais combinam com a gente. Sempre tem um certo ar de ameaça caso a gente não siga as regras: faça tatuagem, mas você não vai conseguir o emprego que quer. Coma carboidrato, mas o príncipe encantado não vai se apaixonar por você. Trabalhe na noite, mas você não vai conseguir construir uma família. Seja educada, boazinha, feminina, delicada, ou vai acabar solteira. Gente, isso não é conselho, o nome disso é MALDIÇÃO!

Pessoas que fazem isso estão na verdade amaldiçoando a nossa vida caso a gente saia da linha. Desde que eu era pequena escuto as pessoas fazendo comentários aparentemente inocentes, mas que no fundo estão julgando meu comportamento e me dizendo como eu deveria me portar.

Cena 1: lembro de uma vez que sai de uma festa de formatura e fui direto para a ceia de natal da minha família. Chegando lá uma tia, que eu nunca consideraria um modelo de mulher, me puxou para o canto e disse: ‘Ah, você está tão bonita de saia! Nunca usa nenhum vestido! Gosto muito de ver você se arrumando assim!’.
Legenda: espero que você se sinta valorizada por estar vestida de ‘menina’ e que na esperança de continuar sendo notada, continue se fantasiando de boneca.

Cena 2: meus pais recebem amigos em casa. Eu adolescente vestindo meus costumeiros jeans, regata e all star. Uma amiga do meu pai olha para mim e diz como se eu não estivesse presente: ‘Ela está na fase de se vestir como menino ainda? Daqui a alguns anos ela vai perceber que os meninos vão preferi-la de salto alto!’.
Legenda: escute meu conselho garota, se você planeja ter um namorado na vida vai ter que aprender a se vestir como os homens gostam e não como você gosta.

Cena 3: com um namoradinho. Ele vira para mim tentando me elogiar: ‘Ah, você não usa maquiagem porque é uma gata, se fosse feia ia andar toda produzida por aí.’
Legenda: as mulheres que não nasceram com os atributos apreciados pelas revistas têm a obrigação moral de sentir vergonha pelos seus verdadeiros traços.

Cena 4: cheguei na casa da minha mãe depois de fazer a minha primeira tatuagem. Ela levanta minha blusa e diz: ‘Uf! Se você queria tanto se tatuar não entendo porque não fez uma borboletinha delicada em cores bebês!’
Legenda: se você fizer questão de sair do estereótipo, pelo menos faça algo que a torne mais delicada e fofa.

Cena 5: minha mãe pergunta porque terminei meu relacionamento, eu respondo que devido à nossa diferença de idade, ele já está na fase de querer ter filhos e eu ainda não. Ela com os olhos arregalados vira para mim e diz: ‘Por causa disso? Uma hora ou outra você vai ter filhos, porque não agora já que isso é tão importante para ele?’.
Legenda: filhos são o objetivo de qualquer mulher, assim como arrumar um bom homem que sonhe em constituir família. Se esse é o objetivo final, não vale a pena perder um homem por causa dos seus planos passageiros.

Cena 6: meu ex-sogro dizendo o que achou de mim para o filho, meu então namorado: ‘Está vendo? Não apanhou quando era pequena, olha só o que aconteceu com ela!’
Legenda: os pais são responsáveis por modelar o comportamento das filhas, nem que precisem usar a força para isso.

Cena 7: uma amigo me dando conselhos profissionais: ‘Vero, o problema é que você é autêntica demais!’
Legenda: se suas idéias e valores fugirem do comum, fique quietinha.

“Quando isso acontece, a menina começa a acreditar que as imagens negativas dela mesma, refletidas pela família e pela cultura em que vive, são não só totalmente verdadeiras mas também totalmente isentas de preconceito, de influência da opinião e de preferências pessoais. A menina começa a acreditar que ela é fraca, feia, inaceitável, e que isso continuará a ser verdade não importa o esforço que ela faça para reverter a situação.”

Porque precisamos que alguém de fora nos dê importância? Porque nos moldamos à opinião alheia para sermos notadas? Porque raios nós vamos procurar no mundo externo coisas que nos agreguem valor?
‘Ela é dona da própria empresa, mas não conseguiu casar, coitada!’
‘Ela ganha bastante dinheiro com a própria arte, mas não é uma tragédia que não tenha filhos?’
‘Ela é tão independente, é por isso que os homens não se aproximam dela!’
‘O marido dela não é tão legal, mas ela não vai encontrar coisa melhor!’
‘Como ela engordou! Ainda bem que já está casada!’
Se você é mulher e costuma fazer esse tipo de comentário depreciativo sobre outras mulheres, PARE AGORA! Você está contribuindo para domesticar toda a força selvagem que temos dentro de nós!

“Em muitas culturas, existe uma expectativa, quando nasce uma filha, de que ela é ou será um certo tipo de pessoa, que aja de um certo modo consagrado pelo tempo, que siga um certo conjunto de valores que, se não forem idênticos aos da família, pelo menos se baseiem nos valores da família, e que seja como for não abale os alicerces.”

“Quando a cultura define detalhadamente no que consiste o sucesso ou a perfeição desejável sob qualquer aspecto — na aparência, na altura, na força, na forma física, no poder aquisitivo, na economia, na masculinidade, na feminilidade, na atitude de bom filho, no bom comportamento, na crença religiosa — existem ditames correspondentes e tendência à avaliação na psique de todos os seus membros. Portanto, as questões da mulher selvagem rejeitada geralmente são duplas: a íntima e pessoal, a externa e cultural.”


Lição do Dia: rejeitando todos os comentários opressores que escutei durante a minha vida.

Pendências: hoje consegui acordar mais cedo do que o costume e organizar coisas pendentes. Que orgulho! : )

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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Dia 33 – Essa é minha família?

Capítulo 6 – A procura da nossa turma: A sensação da integração como uma bênção

Conto: O patinho feio

A descoberta daquilo a que pertencemos

“‘O patinho feio’ tem muitas versões, todas contendo o mesmo núcleo de significado; mas cada uma, cercada de diferentes enfeites e franjas que refletem o meio cultural da história bem como o talento poético de cada narrador.”

A história do patinho feio foi uma das primeiras histórias que li inteira sozinha, há décadas atrás, quando me alfabetizei. Mas, desde pequena, a história me parecia meio boba. Sempre achei que a moral dessa história fosse algo do tipo ‘você é especial’, mas peraí, todo mundo é especial! Então seria uma história de esperança para os rejeitados?

Fiquei perplexa quando li essa história na narrativa de Clarissa. Primeiro porque a versão que ela compartilha é bem mais longa e detalhada das versões que tive contato. Segundo, porque pela primeira vez entendi a interpretação do conto, e me emocionei!

A história do patinho feio não é uma história de vencer a luta contra a rejeição. Não. A história é sobre a busca pelo nosso verdadeiro grupo, pela nossa verdadeira família, pelo nosso verdadeiro lar.

Fiquei chocada quando a autora começa o capítulo dedicando o conto às mulheres que nunca se sentiram parte de sua família ou de sua cultura, porque eu sempre me senti assim. Se a história da cegonha fosse verdadeira, não teria nenhuma dúvida de que a cegonha que me levava me deixou na janela da família errada. Não estou aqui dizendo que família não é importante, ou que a minha seja do mal. Só estou dizendo que mesmo eles sendo importantes, nem sempre você consegue verificar qualquer afinidade entre você e seus parentes.

E comigo é assim. Quando completei 18 anos cortei voluntariamente as relações com a minha família paterna. Com 25 cortei as relações com a família materna. Hoje, olhando para minha mãe identifico nela uma genitora que amo, mas isso nunca vai nos fazer semelhantes. E essa absoluta falta de afinidade com as pessoas mais próximas a mim faz com que eu me sinta meio órfã, meio abandonada, meio sem ninguém no mundo.

Por isso, desde que me tornei adulta invisto grande parte do meu tempo em criar uma família para mim. Uma que não vai ser composta de pais, irmãos e avós, mas sim de grandes amigos dispostos a dividir uma vida ao meu lado. Como vi alguns anos mais tarde, isso é muito mais difícil do que parece. Primeiro porque às vezes nos aproximamos de pessoas que só se parecem conosco por causa de um determinado momento de vida. Segundo, porque hoje em dia as pessoas perderam a noção de uma amizade para a vida toda, com a lealdade e o carinho necessários para apoiar o outro nos momentos mais difíceis. Hoje é fácil ter amigos de ‘trabalho’, de ‘balada’, de momento. E não era bem isso que eu estava interessada...

Como ainda busco minha verdadeira família, a história do patinho feio se tornou uma das mais belas para mim. Vamos acompanhar ao longo dos próximos dias a história do patinho exilado que corre o mundo em busca do seu verdadeiro lugar.

“Os significados básicos que nos interessam são os seguintes: o patinho da história simboliza a natureza selvagem, que, quando forçada a enfrentar circunstâncias pouco propícias, luta instintivamente para continuar viva apesar de tudo. A natureza selvagem sabe instintivamente agüentar e resistir, às vezes com elegância, às vezes sem muito estilo, mas resistindo assim mesmo. Graças a Deus por esse aspecto. Para a mulher selvagem, a continuidade é uma das suas maiores forças.”

“O outro aspecto importante da história é o de que, quando a vibração específica da alma de um indivíduo, que tem tanto uma identidade instintiva quanto uma espiritual, é cercada de aceitação e reconhecimento psíquico, a pessoa sente a vida e a força como nunca sentiu antes. Descobrir com certeza qual é a sua verdadeira família psíquica proporciona ao indivíduo a vitalidade e a sensação de pertencer a um todo.”

“Certifique-se agora de perder menos tempo com aquilo que eles (seus pais) não lhe deram e de dedicar mais tempo à procura das pessoas com quem você se sinta bem. Pode ser que você não pertença absolutamente à sua família original. Você talvez combine com eles em termos genéticos, mas quanto ao temperamento você pode pertencer a um outro grupo. Ou quem sabe você não pertença à sua família apenas superficialmente enquanto sua alma escapa, corre pela estrada afora e satisfaz sua gula mordiscando petiscos espirituais em outras plagas?”

Lição do Dia: voltando a procurar o meu lugar no mundo.

Pendências: ajudando os comprimidos fazerem efeito com muito brócolis na veia.

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Dia 32 – E a história termina

Capítulo 5 – A caçada: Quando o coração é um caçador solitário

Conto: A Mulher-esqueleto: Encarando a natureza de vida-morte-vida do amor

As fases posteriores do amor: A dança do corpo e da alma

“Às vezes aquele que está fugindo da natureza da vida-morte-vida insiste em pensar que o amor é apenas uma dádiva. No entanto, o amor em sua plenitude é uma série de mortes e de renascimentos. Deixamos uma fase, um aspecto do amor, e entramos em outra. A paixão morre e volta. A dor é espantada para longe e vem à tona mais adiante. Amar significa abraçar e ao mesmo tempo suportar inúmeros finais e inúmeros recomeços — todos no mesmo relacionamento.”

Diversas vezes durante o meu estudo sobre a história da Mulher-esqueleto, fiz analogias com outros setores da nossa vida. De fato, Clarissa nos ensina com essa história mais do que a natureza dos relacionamentos amorosos: ela ensina a atitude que devemos ter diante de tudo o que nos cerca.

Normalmente quem tem dificuldade de aceitar a Morte na vida amorosa enfrenta o mesmo problema com o restante. O mundo de hoje está muito focado nos resultados concretos do amor e do trabalho, nos parceiros e no dinheiro. A ansiedade que sentimos é gerada pela pressão que a cultura exerce para termos resultados fabulosos em pouquíssimo tempo. Ando lendo bastante sobre a cultura do ‘slow life’, que prega a diminuição da velocidade em nossas atividades para que consigamos perceber a vida com os sentidos e não com o cérebro.

Já vi de perto pessoas tomando decisões muito erradas porque estavam focando nos resultados e não no processo. Focando apenas no final das coisas essas pessoas perdiam o próprio sentido de fazê-las. Já vi jovens com currículos acadêmicos impressionáveis, mas que nunca haviam parado para pensar se realmente aquele trabalho era sua vocação. Já vi mulheres namorando, noivando e casando numa velocidade recorde, sem parar para pensar o que de fato sentiam pelo parceiro.

Toda essa busca desenfreada por resultados também nos deixou com uma sensação absurda de vazio. Atingimos determinada meta esperando sentir uma satisfação plena e, quando vemos, ainda não estamos realizados. Partimos para a próxima meta e o sentimento de insatisfação permanece. Cada vez que a vida se transforma numa reta descendente, milhares de pessoas correm para a terapia, para os remédios, para as drogas, para o shopping, para a geladeira. Porque o mundo onde somos cobrados a realizar milhares de coisas não nos ensina a lidar com a frustração, com a queda de energia, com a queda de libido, com a solidão, com o tédio.

Tédio: a doença da moda. Já reparam como facilmente ficamos entediados? É só terminarmos nossas atividades diárias e nos inunda um sentimento de tédio que nos faz parar na frente de uma TV ligada, como zumbis, até o sono chegar. Fui numa homeopata incrível nesse final de semana que me disse que muitas pessoas doentes que chegam no seu consultório, estão com doenças totalmente psicológicas. Claro, você vai fazer o exame e está lá: gastrite, intestino preso, colesterol alto. Mas nada, e eu digo NADA, há de errado com o organismo daquela pessoa. A cabeça dela está estressada, logo o corpo fica estressado também.

O pior é que vamos jogar toda essa ansiedade em cima dos nossos relacionamentos. Nossa vida vira um esquema de trabalhar e se relacionar, e mais nada. Acabamos esperando que no nosso relacionamento vamos ter paz, vamos nos sentir plenas e realizadas. E estamos com tanta pressa de sentir tudo isso, que não nos permitimos curtir cada fase do amor. Não esperamos que o amor seja construído, não, amamos que nem compramos: amo e pronto!

Muitas vezes meus amigos me pedem conselhos amorosos porque eles acham que o número de experiências que tive me confere uma certa credibilidade. O que eu sempre pergunto para eles é ‘O que além de trabalhar e pensar no parceiro vocês fazem?’. A grande maioria não faz mais nada. Não é à toa que os relacionamentos viram o centro de suas vidas: eles jogam toda a sua energia para a relação. Quando a relação termina ou esfria, o mundo inteiro deles cai. Porque eles não tinham nenhuma base sólida para se sustentar e esperavam que o parceiro fosse trazer a tão esperada felicidade todo o sempre.

Eu vivo os lembrando de que se tive vários relacionamentos, e de vários tipos, isso me faz uma especialista em finais e despedidas. E uma verdade que nunca muda é: a minha vida continua, com ou sem o cara que amo ao meu lado. Posso estar machucada, dolorida, ferida, destruída, mas a minha vida continua, querendo eu ou não.

Só vamos conseguir construir um relacionamento como deve ser se tivermos calma, paciência e pararmos de projetar nossos sonhos de sucesso em cima deles. Quando nutrirmos nossa vida com nossas paixões individuais, quando investirmos toda a nossa energia na nossa própria felicidade, dando tempo ao tempo, vivenciando cada fase do amor, aceitando cada ciclo da paixão, cada pico, cada queda.

Essa é a verdadeira receita para aceitar a vida-morte-vida em nossas vidas. Essa é a receita para construirmos relacionamentos duradouros e gratificantes.

“A energia, o sentimento, a intimidade, a solidão, o desejo, o tédio, todos aumentam e diminuem em ciclos relativamente comprimidos. Nosso desejo de proximidade, e de separação, alterna ciclos de crescimento e de declínio. A natureza da vida-morte-vida não só nos ensina a acompanhar esses ciclos na dança, mas nos mostra que a solução para o mal-estar está sempre no contrário. Portanto, novas atividades são a cura para o tédio; a intimidade é a cura para a solidão; a solidão é a cura para a sensação de falta de espaço.”

“Sem o conhecimento dessa dança, a pessoa tem a tendência, durante vários períodos de águas paradas, a traduzir a necessidade de atividade nova e pessoal em gastos excessivos, em exposição a riscos, em escolhas irresponsáveis, na procura de um novo parceiro. Esse é o jeito do tolo ou do pateta. É a solução dos que não sabem.”

Então, se um cara vai de fato entrar na nossa vida, não podemos projetar nele uma felicidade de conto de fadas. Temos que olhar para ele como o que ele é: um parceiro. E aceitar a transformação que ele vai gerar em nós, mesmo que ele saia de cena logo depois.

“É assim que o relacionamento amoroso deveria funcionar, com cada parceiro transformando o outro. A força e poder de cada um são desembaraçados, compartilhados. Ele lhe dá seu tambor do coração. Ela lhe transmite o conhecimento dos ritmos e emoções mais complicados que se possa imaginar. Quem sabe o que os dois irão caçar juntos?”


Lição do Dia: slow life.

Pendências: tomando meu comprimido de ferro, um por dia, vamos lá!

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domingo, 24 de outubro de 2010

Dia 31 – A entrega do coração

Capítulo 5 – A caçada: Quando o coração é um caçador solitário

Conto: A Mulher-esqueleto: Encarando a natureza de vida-morte-vida do amor

As fases posteriores do amor: O coração como tambor e o canto para criar a vida

Depois das 5 primeiras fases do amor, Clarissa começa a nos contar sobre as fases posteriores ao amor. A primeira delas é ‘O coração como tambor e o canto para criar vida’.

“O centro fisiológico e psicológico é o coração. Nos Tantras do hinduísmo, que são instruções dos deuses aos seres humanos, o coração é o Anãhata chakra, o centro nervoso que abrange o sentimento por outro ser humano, o sentimento por si mesmo, pela terra e por Deus. É o coração que nos permite amar como ama uma criança: totalmente, sem reservas e sem qualquer capa de sarcasmo, depreciação ou protecionismo.”

“Quando um homem entrega seu coração por inteiro, ele se torna uma força espantosa — ele se toma uma inspiração, papel que no passado era reservado apenas às mulheres. Quando a Mulher-esqueleto dorme com ele, ele se torna fértil. Ele é investido com poderes femininos num meio masculino. Ele passa a levar as sementes da nova vida e das mortes necessárias. Ele inspira novos trabalhos a si mesmo, mas também àqueles que estão por perto.”

No começo desse ano li o livro ‘Amor Líquido - Sobre A Fragilidade Dos Laços Humanos’ de Zygmunt Bauman. Esse livro fala do amor na nossa sociedade moderna, e como as mudanças de valores e a velocidade das telecomunicações interferiram no nosso modelo de relacionamento amoroso. Uma parte do livro que gostei bastante era a que dizia que a maior parte dos homens modernos tem modelos de relacionamentos ultrapassados. Assim como seus avôs eles ainda acham que devem exercer a função de homem trabalhador, e que apenas prover a família e dar segurança para as esposas vai tornar o relacionamento bem sucedido.

Mas na modernidade esses valores perderam bastante de sua importância e hoje são fatores secundários. Hoje em dia estamos isolados no meio da multidão, dependendo de formas de comunicação fria, num mundo onde a emoção é usada como arma para o consumismo. No meio dessa mudança, as mulheres estão à procura de parceiros que desenvolvam intimidade e que sejam companheiros. Já vi, com muito pesar, casamentos de décadas terminarem porque as esposas estavam insatisfeitas com a doação emocional do parceiro. E eles ainda achavam que já estavam fazendo o seu melhor: ‘Mas eu te dou tudo, uma casa confortável, uma vida financeira próspera, presentes, viagens, filhos, uma vida sexual satisfatória, o que mais você quer?’.

Pois eu digo agora o que eu, e provavelmente muitas mulheres, procuram num parceiro moderno: eu quero um cara que compartilhe os seus pensamentos, sentimentos e desejos comigo. Eu quero um cara que procure me ajudar a alcançar um bem-estar espiritual, e não material. Eu quero um cara que me ajude a trabalhar meus defeitos, e a investir nas minhas qualidades. Eu quero um cara que me apóie mesmo quando discordar da decisão que vou tomar. Eu quero apoio emocional para meus sonhos, para meus projetos, para a minha criatividade. Eu quero compreensão. Compreensão não no sentido de ‘eu entendo o que você sente’, mas no sentido de ‘quando você está triste eu fico triste, e quando está feliz, fico feliz também’.

“Com o passar dos anos, percebi isso nos outros e vivenciei em mim mesma. É uma ocasião profunda quando criamos alguma coisa de valor através da crença que o parceiro tem em nós, através do sentimento sincero que ele tem pelo nosso trabalho, nosso projeto, nosso tema. É um fenômeno surpreendente. E não se limita necessariamente aos relacionamentos amorosos; ele pode ocorrer com qualquer um que nos entregue o coração intensamente.”

O que eu quero de um homem? Que me entregue seu coração intensamente! Que seja um pouco mulher no corpo de um homem. Eu vivo brincando com meus amigos que gosto de caras que tenham uma certa porcentagem gay. O que quero dizer é que me atraio por caras que conseguem ter sentimentos que normalmente são femininos: o compartilhar, o cuidar, o doar, o dar, sem pedir absolutamente nada em troca.

“Portanto, a canção entoada e o uso do coração como tambor são atos místicos para despertar camadas da psique não muito usadas ou vistas. A respiração ou pneuma que paira sobre nós abre certas fendas, faz surgir certas faculdades que de outro modo seriam inacessíveis. Não sabemos dizer para cada pessoa o que será invocado pelo canto, despertado pelo tambor, porque eles atuam sobre frestas estranhas e raras no ser humano que participa. No entanto, podemos ter certeza de que seja o que for que acontecer terá uma irresistível força numinosa.”


Lição do Dia: feliz de encontrar a mulher dentro do meu parceiro.

Pendências: pois então, descobri que estou com anemia. Se vocês, assim como eu, não andam cuidando da alimentação: cuidado! Os problemas podem ser bem mais sérios do que apenas cabelo sem vida e unhas frágeis.

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sábado, 23 de outubro de 2010

Dia 30 – Homens que choram

Capítulo 5 – A caçada: Quando o coração é um caçador solitário

Conto: A Mulher-esqueleto: Encarando a natureza de vida-morte-vida do amor

As primeiras fases do amor: A doação da lágrima

“Quando se chegou até esse ponto no relacionamento com a natureza da vida-morte-vida, a lágrima vertida é a lágrima da paixão e da compaixão combinadas, por si mesmo e pelo outro. É a lagrima mais difícil de ser derramada, especialmente para os homens e certos tipos de mulheres ‘calejadas pela vida urbana’.”

“Tão certo quanto o fato de a Mulher-esqueleto vir à tona, agora essa lágrima, esse sentimento no homem, também chega à superfície. Ela é uma aula de amor a si mesmo e ao outro. Despido, agora, de todos os espinhos, anzóis e facas do mundo diurno, o homem atrai a Mulher-esqueleto para deitar-se ao seu lado, para beber e se nutrir com seu sentimento mais profundo. Nessa sua nova forma, ele é capaz de saciar a sede do outro.”

Quando li essa parte da história, quem teve vontade de chorar fui eu! Hehe! Primeiro porque me lembrei de todas as amigas mulheres que se envolveram com homens que não conseguiam chegar até essa última etapa das primeiras fases do amor: a doação da lágrima. Muitas delas fizeram tudo o que era necessário, se doaram, cederam, apertaram suas mãos, deram apoio, mas nada dessa lágrima vir. O que também me deu vontade de chorar foi ver que muitas mulheres empacam nesse mesmo problema. Muitas tentam viver vestindo a roupa do personagem da mulher ideal e esquecem que elas devem dar à seu parceiro a lágrima de suas próprias feridas.

“A lágrima de quem sonha surge quando aquele que virá a ser um amante se permite sentir seus próprios ferimentos e curá-los, quando ele se permite ver a auto-destruição provocada pela perda da sua fé na bondade do self, quando ele se sente isolado do ciclo protetor e revitalizante da natureza da vida-morte-vida. É então que ele chora, por sentir solidão, uma imensa saudade daquele local psíquico, daquele saber primitivo. É assim que o homem se cura, e que aumenta sua capacidade de compreensão. Ele assume a função de criar seu próprio remédio; ele assume a tarefa de alimentar o ‘outro extinto’. Com suas lágrimas, ele começa a criar.”

Em relação ao homem bloqueado tenho muita pena que talvez nunca na vida eles sejam capazes de se entregar ao verdadeiro amor. Às mulheres que estão com eles, fico triste porque muitas vezes só descobrem esse bloqueio no parceiro anos depois. Fiquei triste por mim, por perceber agora que eu sou uma dessas mulheres ‘calejadas pela vida urbana’, e que não foi em todos os relacionamentos que eu consegui verter essa lágrima.

“Talvez não exista nada que uma mulher deseje mais de um homem do que a atitude de ele desmanchar suas projeções e encarar seu próprio ferimento. Quando o homem enfrenta seu ferimento, a lágrima surge naturalmente, e suas lealdades internas e externas se tornam mais fortes e definidas. Ele se transforma no seu próprio curandeiro. Não se sentirá mais solitário à procura do Self profundo. Ele não mais procura a mulher para ser seu analgésico.”

Essa expressão ‘analgésico’ chega a ser cretina! Como alguém pode usar outra pessoa como remédio para dor? Eu contei aqui para vocês outro dia que um ex-namorado meu começou a sair comigo porque estava arrasado com o seu divórcio. Ele dizia que estava tudo bem, vivia como se estivesse tudo bem, mas depois de apenas algumas semanas eu comecei a perceber que não, não estava tudo bem. Ele levava a vida sem esperança, vivia um dia após o outro, era como uma folhinha no vento esperando para ser levada. Ele havia perdido a esperança na vida, havia desistido dos seus sonhos, do amor até. E ele queria ficar comigo porque dizia que eu trazia uma sensação gostosa de alívio.

No começo isso até me vangloriou. Puxa, ninguém nunca havia visto em mim uma espécie de salvação! Depois isso começou a me deixar um pouco angustiada: sou merecedora de tudo isso? Mais tarde, comecei a ficar irritada: ‘Oi, olha, a Vero tá aqui, eu sou uma pessoa única, não quero ser alívio de ninguém, quero que você me ame pelo que eu sou e não pelo que eu te ofereço!’. Eu gostava muito dele, entendia a sua dor, queria que ele melhorasse! E aos poucos ele começou a abrir o seu coração. Um dia acordou no meio da noite e me contou o pesadelo, depois começou a me contar a história do seu casamento, das brigas, das discussões, de como terminou. Contou-me de sua depressão, da perda de peso, dos remédios.

Algumas semanas depois, ele já conseguia falar sobre esse assunto rotineiramente. E eu sentia um peso saindo dos ombros dele, sentia que ele estava genuinamente mais feliz, mais saudável, mais confiante. Começou a fazer planos, voltou a ter sonhos, nossa, era um outro homem! Até que um dia ele me contou de uma cena que o acompanhava todos os dias, todos os momentos, até durante o sono: a tentativa de suicídio da ex-esposa.

Nessa hora eu percebi que não ia vir dele a vontade de se curar. Ele não permitia que ninguém, nem seu terapeuta, tocassem esse momento da vida dele. Ele não permitia que esse assunto fosse trabalhado. Não era a hora. Eu acredito que as pessoas sempre dão o que elas têm para dar. E ele me deu o que ele tinha. Mais do que isso não tinha como. Como as pessoas podem dar mais do que elas têm? Infelizmente, para mim não foi o suficiente.

Todas as vezes que me lembro dele torço para que ele tenha encontrado uma nova mulher e que, ao seu lado, finalmente consiga verter a lágrima para a sua própria cura!

“Quando o homem verte a lágrima, é que ele se deparou com a própria dor; e ele a reconhece ao tocá-la. Ele percebe como sua vida foi vivida de forma protegida em virtude do ferimento. Percebe tudo o que perdeu na vida devido ao ferimento. Vê como cerceou seu amor à vida, a si mesmo e ao outro.”


Lição do Dia: lembrando do passado e aceitando que às vezes não é a hora.

Pendências: hoje fiz uma consulta com uma homeopata. Gente finíssima! Sentia falta desse tipo de médico que, além de pedir exames, te pergunta com o que você sonha e como anda a sua vontade de comer doce...

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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Dia 29 – Você cutuca as suas feridas?

Capítulo 5 – A caçada: Quando o coração é um caçador solitário

Conto: A Mulher-esqueleto: Encarando a natureza de vida-morte-vida do amor

As primeiras fases do amor: O sono da confiança

“Nesse estágio do relacionamento, o amante volta ao estado de inocência, estado no qual ele ainda se amedronta com os elementos emocionais, no qual ele está cheio de desejos, esperanças, sonhos. A inocência é diferente da ingenuidade. No interior existe um antigo ditado: ‘A ignorância é não saber nada e ser atraído pelo bem. A inocência é saber tudo e ainda assim ser atraído pelo bem’.”

“Esse estado de sábia inocência é alcançado quando descartamos o cinismo e as atitudes defensivas e voltamos a mergulhar no estado de deslumbramento que vemos na maioria dos seres humanos que são muito jovens e em muitos que são bem velhos. É a prática de se olhar com os olhos de um espírito sábio e amoroso, em vez de olhar com os do cão açoitado, da criatura acuada, da boca acima do estômago, do ser humano ferido e irritado. A inocência é um estado que se renova quando dormimos. Infelizmente, são muitos os que a deixam de lado junto à colcha ao acordar. Seria melhor se sempre trouxéssemos conosco uma inocência alerta e a apertássemos junto ao corpo para sentir seu calor.”

Minha terapeuta sempre diz que nós somos um conjunto de cicatrizes de coisas que aconteceram no passado. É importante olharmos para trás com olhos críticos e tentarmos entender qual situação criou cada cicatriz em nossa alma. Mas isso não é suficiente. O passo mais importante é aceitarmos o que aconteceu e não levarmos essa dor adiante! Merda já aconteceu com todos nós, principalmente na vida amorosa. Mas levar toda a dor dessas cicatrizes para cada novo relacionamento só vai nos atrapalhar. Temos que lembrar como elas surgiram, temos que aceitar essas marcas no nosso corpo, e parar de cutucá-las para permitir que elas se curem.

A diferença entre uma criança e um velho sábio, é que uma criança não tem nenhuma cicatriz causada pela vida. Já um sábio conhece suas cicatrizes uma por uma, e sabe lidar e viver com elas. Elas são o acúmulo de experiências, de transformações, de aprendizados. Não podemos voltar a ser crianças, mas podemos buscar essa paz, essa sensação de que o trabalho foi bem feito, e de que o sofrimento faz parte da vida.

“Embora a princípio a volta a esse estado possa exigir que eliminemos anos de pontos de vista desgastados, décadas de meticulosa construção de amuradas desumanas, uma vez que voltemos a ele, nunca mais precisaremos indagar por ele, escavar a sua procura.”

Quando eu olho para a minha vida amorosa consigo identificar uma série de situações que me deixaram cicatrizes. Já fui rejeitada por não ser boa o suficiente, já fui enganada, já fui passada para trás, já deixei que tirassem partes de mim. Tudo isso me trouxe alguns bons mecanismos de defesa, que nada mais são do que muralhas que construímos ao nosso redor. De uns tempos para cá, qualquer coisinha afeta o meu ego. Tenho pavor de críticas ou de julgamentos, prova de que minha auto-estima não está completamente recuperada. De uns tempos para cá é só meu namorado me ligar mais de uma vez numa tarde que já tenho ataques de claustrofobia, com medo de que ele domine a minha vida e que eu deixe de viver pelos meus princípios. De uns tempos para cá desaprendi a ceder. Porque tenho medo que cada vez que eu ceder, aos pouquinhos, vou estar deixando de ser quem eu sou.

Todas essas cicatrizes ainda doem e me mantém em estado de alerta o tempo inteiro, achando que de algum lado podem vir me machucar de novo.

Meu namorado também tem as suas cicatrizes. Ele já foi largado por alguém que confiava num momento muito difícil da sua vida. Isso gerou uma atitude auto-protetora no estilo ‘ninguém é mais importante do que eu, e nada é mais importante na minha vida do que os meus planos’. Vez ou outra isso beira o egoísmo, mas eu entendo, isso vem da dor. E estou ao seu lado para mostrar que ele pode voltar a confiar nas pessoas. Sua última namorada era extremamente ciumenta e dominadora. Isso quer dizer que ele vive esperando que eu surte, dê um piti sem justificativa, cause, comece a berrar e saia quebrando as coisas na sala. Toda vez que ele vai me contar algo que ele acha que vai causar ciúmes, ele fala com uma voz bem mansa, como se estivesse falando com uma criança, chegando pertinho de mim e me abraçando. Quando ele vê que eu não dava escândalo, a reação foi oposta: ‘Você não sente nenhum ciúmes de mim???’. Hehehe. Ele aprendeu que ciúmes é dar valor, que ter ataques de fúria são provas de amor.

“Existe uma prudência que é verdadeira, quando o perigo está por perto, e uma prudência que não tem justificativa e que se origina de algum ferimento anterior. Esta última faz com que os homens ajam de modo irritadiço e desinteressado mesmo quando eles sentem que gostariam de demonstrar carinho e afeto. As pessoas que têm medo de ‘ser ludibriadas’ ou de entrar ‘num beco sem saída’ – ou que não param de vociferar seus direitos de querer ‘ser livre’ – são as que deixam o ouro escapar pelas mãos.”

Não seria justo eu pedir um homem na minha vida limpo de cicatrizes. Todos nós temos as nossas. Mas é importante que, aos poucos, a gente permita que essas cicatrizes se curem. Eu trabalho todos os dias tentando me melhorar. Meu parceiro deve fazer o mesmo. Se não faz, eu o ajudo. Se mesmo com minha ajuda ele não se permitir abandonar a dor das velhas feridas, eu tenho motivos para acreditar que ele seja masoquista. Brincadeira? A quantidade de gente que conheço por aí que adora sentir uma dor e cutucar a casquinha das próprias feridas é absurda!

“Ser inocente significa ser capaz de ver com nitidez qual é o problema e corrigi-lo. Essas são as poderosas imagens por trás da inocência. Ela é considerada não só uma atitude de evitar o dano aos outros ou ao próprio self, mas também a capacidade de curar e recuperar a si mesma (e aos outros). Pense nisso. Imagine as vantagens para todos os ciclos do amor.”

“Para que o amor viceje, o parceiro precisa confiar que o que vier a ser será de natureza transformadora. Ele deve permitir entrar naquele estado de sono que nos devolve a uma sábia inocência, que cria e recria, como seria de se esperar, as espirais mais profundas da experiência da vida-morte-vida.”


Lição do Dia: parando de cutucar algumas velhas feridas.

Pendências: estou com uma dificuldade infeliz de organizar as coisas que tenho que fazer em datas e horários. É impressionante que a organização que temos no nosso trabalho, nem sempre vem com a gente pra casa.

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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Dia 28 – Ego X Alma no Amor

Capítulo 5 – A caçada: Quando o coração é um caçador solitário

Conto: A Mulher-esqueleto: Encarando a natureza de vida-morte-vida do amor

As primeiras fases do amor: Desembaraçando o esqueleto

Eu queria pedir desculpas por não ter postado ontem. Não foi por falta de vontade. Diversas vezes comecei o texto e quando estava prestes a publicar, relia e sentia que ainda não estava bom. O grande problema de não ser uma psicóloga é que é difícil para mim conseguir ser neutra o tempo inteiro. Ainda mais com o conto da Mulher-esqueleto, que fala sobre a natureza dos relacionamentos. Eu consigo apenas escrever sobre a minha própria experiência. E nem sempre isso é bom.

Por isso, para o post de hoje eu resolvi pegar emprestado um texto do psicólogo Ailton Amélio do blog http://ailtonamelio.blog.uol.com.br/ que fala sobre as diferentes formas de amar. Isso é importante porque, embora a Clarissa escreva sobre naturezas que existem em todos os relacionamentos, eles começam diferentemente para cada um de nós. Temos que respeitar como cada um ama e por quais características se apaixona. E dentro dessa variedade, estudar e refletir sobre os pontos importantes que relacionamentos em geral têm em comum.

É como o termo ‘bem-sucedido’, que é extremamente relativo. Para algumas mulheres ser bem sucedida significa alcançar um certo cargo, ganhar tal quantia, se relacionar com determinado perfil de homem. Para outras significa viver de acordo com os seus princípios e passar pelo maior número de experiências transformadoras possíveis. Sinceramente, como você vê o sucesso na sua vida é uma decisão pessoal e eu não tenho como julgar o que vai te fazer feliz.

Então, segundo o psicólogo Ailton, temos os seguintes tipos de amor:

“ESTILOS DE AMOR

Estilos Primários:

Estórgico: O amor nasce a partir de uma amizade. Quem tem este tipo de amor não se apaixona à primeira vista. Antes de apaixonar-se deve sentir confiança no parceiro, sentir que compartilha com ele pontos de vista e que está entrosado com ele.

Eros: Dá muita importância para a aparência física do parceiro: geralmente sabe descrever o tipo físico que o agrada. Também é importante sentir atração sexual e sentir certo fascínio pelo parceiro assim que o conhece.

Mania: A fantasia sobre o parceiro pode ser mais importante que a realidade. É vulnerável àqueles parceiros que usam o “tratamento quente frio”: em certos momentos mostram interesse, em outros momentos mostram indiferença (são mais sensíveis ao elemento “insegurança”, apontado por Stendhal como um dos requisitos do apaixonamento).

Estilos Secundários:

Pragma: Sabe citar uma série de características que o parceiro deve possuir, ou seja, usam uma espécie de “lista de compras” na hora de escolher o parceiro. Como é mais racional, raramente “entra de cabeça em um relacionamento” ou deixa-se seduzir por parceiros que não preencham os seus requisitos.

Ludos: É exigente para se envolverem amorosamente. Pode se envolver com vários parceiros simultaneamente. Gosta mais da conquista do que da permanência em um relacionamento.

Ágape: Poder ajudar é um caminho freqüentemente trilhado por quem tem este tipo de amor. Pode se envolver com alguém que está sentindo-se desamparado porque está saindo de outro relacionamento.”

Eu, por exemplo, tenho o estilo Estórgico como primário. Não é à toa que meus relacionamentos começam de amizades e que continuo amiga dos meus ex-namorados. Meu estilo secundário é o Ágape: meu lado maternal sempre acaba inundando o meu relacionamento.

É fácil, quando temos determinado estilo de amar, julgar um estilo diferente do nosso. Cada um sabe o ego que tem e pelo que ele se atrai. Muitas vezes nos sentimos atraídas pelo parceiro pelos desejos do nosso ego: status social, segurança, conforto, luxo, aparências, poder se sentir importante, desafiado, etc. Mas, para entrarmos de cabeça num relacionamento, devemos deixar o ego um pouco de lado, e entrar com os desejos e percepções da alma.

“Três aspectos diferenciam a vida a partir da alma, da vida a partir do ego apenas. Eles são a capacidade de pressentir novos caminhos e de aprendê-los, a tenacidade necessária para atravessar uma fase difícil e a paciência para aprender o amor profundo com o tempo. (...) Portanto, não é a partir do ego inconstante que amamos o outro, mas sim, do fundo da alma selvagem.”

Esse trecho do livro nos mostra a etapa de “Desembaraçar a Mulher-esqueleto”. Essa é uma etapa importantíssima na construção de um relacionamento amoroso. É a etapa seguinte após enfrentarmos o medo de ficar, e decidirmos entrar na relação. É quando sentamos do lado da mulher-esqueleto e começamos a desembaraçar os ossos. É quando aceitamos a força da vida-morte-vida e vamos aprender como ela funciona.

Quais são os ciclos de morte e vida no meu relacionamento? Quais são as fases de escassez e da abundância? Quais são as partes não-belas de nós mesmas que devemos mostrar, e do parceiro que vamos começar a amar? Aonde a Mulher Selvagem entra em contato com o Homem Selvagem?

“Uma pessoa que tenha desembaraçado a Mulher-esqueleto conhece a paciência, sabe esperar melhor. Ela não se choca com a escassez, nem tem medo dela. Não é dominada pela fruição. Suas necessidades de obter, de “conseguir agora mesmo”, são transformadas num talento mais refinado que procura todas as facetas do relacionamento, que observa como funcionam em conjunto os ciclos do relacionamento. Ela não tem medo de se relacionar com a beleza da ferocidade, com a beleza do desconhecido, com a beleza do não-belo. E ao aprender e praticar tudo isso, essa pessoa se torna o perfeito parceiro selvagem.”

Clarissa nos ensina como podemos fazer isso. É simples: basta deixarmos o ego de lado, por um instante que seja, e nos fazermos as seguintes perguntas:

“Ao que eu preciso dar mais morte hoje, para gerar mais vida? O que eu sei que precisa morrer, mas hesito em permitir que isso ocorra? O que precisa morrer em mim para que eu possa amar? Qual é a não-beleza que eu temo? Que utilidade pode ter para mim hoje o poder do não-belo? O que deveria morrer hoje? O que deveria viver? Qual vida tenho medo de dar à luz? Se não for agora, quando?”


Lição do Dia: questionando minha alma sobre as Mortes e as Vidas.

Pendências: organizando minha tabela financeira.

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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Dia 27 – Pare de correr do amor!

Capítulo 5 – A caçada: Quando o coração é um caçador solitário

Conto: A Mulher-esqueleto: Encarando a natureza de vida-morte-vida do amor

As primeiras fases do amor: A perseguição e a tentativa de se ocultar

“É nesse estágio que se desenvolve mais o pensamento tortuoso a respeito dos motivos pelos quais o amor não pode, não deve e não vai dar ‘certo’ para qualquer das partes interessadas. É nesse estágio que as pessoas se enfurnam na toca. Trata-se de um esforço para se tornar invisível. Invisível ao parceiro? Não. Invisível à Mulher-esqueleto. É esse o objetivo real de toda essa correria à procura de um lugar para se esconder. No entanto, como estamos vendo, não há nenhum lugar onde possamos nos esconder.”

“A fase do correr e se esconder é o período no qual os amantes tentam racionalizar seu medo dos ciclos de amor da vida-morte-vida. Eles dizem ‘Posso me dar melhor com outra pessoa’, ‘Não quero renunciar a meu ________ (preencha a lacuna)’, ‘Não quero mudar minha vida’, ‘Não quero encarar minhas feridas, nem as de ninguém mais’, ‘Ainda mão estou pronto’ ou ainda ‘Não quero ser transformado sem primeiro saber nos ínfimos detalhes como vou ficar/me sentir depois’.

Meu deus! E como fazemos isso não é? Esse trecho do livro me incomodou horrores! Porque eu tenho feito isso. Não em todos os relacionamentos, mas em alguns, principalmente os que não vingaram: eu simplesmente saí correndo! Foi mais do que uma insegurança, foi um medo paralisante de enfrentar o que estava chegando. Já usei algumas das desculpas citadas acima. Putz, que vergonha!

Outro dia escutei de um amigo a expressão “namorado tipo primeiro emprego”, vocês já escutaram essa? É o namorado que você mantém, assim como o primeiro emprego, até arrumar alguma coisa melhor. Fiquei horrorizada quando escutei isso, e dei broncas escandalosas no meu amigo. Mas, lendo agora a Clarissa, me veio uma vergonha própria, porque mesmo não chegando a verbalizar já senti algo do tipo “Esse serve para agora!”.

Nós idealizamos uma situação perfeita para encontrarmos o nosso parceiro ideal: quando eu estiver formada, quando eu estiver ganhando melhor, quando eu perder peso, quando eu refazer meu guarda-roupa, quando eu tiver mais dinheiro, mais tempo, mais loira... Meu deus! Achamos que enquanto não estivermos prontas não vamos atrair o tipo “certo” de parceiro, ou que existem maiores chances de dar errado. E, vamos lá, nós sabemos que isso não é verdade.

Primeiro: o fato de estarmos “prontas” não seleciona ninguém! Se seu parceiro ideal vai se atrair por você só se você tiver mais dinheiro, menos peso ou mais peito, eu acho sinceramente que é você quem está interessada no tipo errado de homem. Um parceiro ideal é aquele da história de Manwee, que quer a Mulher selvagem por inteira, e não apenas a parte externa e civilizada dela. E você tendo essa Mulher Selvagem dentro de você tem as mesmas chances de cruzar com esse cara hoje, amanhã ou depois.

Segundo: muitas mulheres têm a mania insuportável de sempre imaginar um casamento desde o primeiro encontro. Um relacionamento não é um papel assinado, nem a benção de um padre e nem filhos. Um casamento é a união de duas almas que querem conhecer profundamente uma à outra e se transformar nesse processo. Entenda: um relacionamento dar certo não tem nada a ver com véu e grinalda. Um relacionamento que deu certo é aquele onde essas duas almas se encontraram, se entenderam, aprenderam e se transformaram. Se ele acabou, é porque o ciclo com aquele parceiro teve fim. Você aprendeu o que tinha que aprender e está pronta pra próxima.

Terceiro: a idéia de parceiro ideal é mais do que ultrapassada. Você só vai saber com quem está lidando e o que pode aprender com ele no processo. Após o encantamento inicial! Primeiro encontro não é entrevista de emprego.

Quarto: se você tem dificuldade em se abrir, saiba logo de cara que relacionamento é isso mesmo, é se mostrar inteira e sem reservas, desde o seu sonho mais bonito até o seu defeito mais imundo. Ter medo de se mostrar com seus defeitos e fragilidades é dizer que ele não vai te amar se enxergar tudo isso. Errado! Ele SÓ vai te amar, depois de enxergar tudo isso. E saiba que seu lado também vai haver essa cobrança.

“É uma fase em que os pensamentos ficam todos confusos, quando se quer procurar um abrigo a todo custo e quando o coração bate, não tanto por amar ou por se sentir amado, quanto por um terror humilhante. Ser encurralado pela Morte! Ai! O horror de enfrentar a força da vida-morte-vida pessoalmente! Ai, ai!”

“Há quem cometa o erro de pensar que está fugindo do relacionamento com o parceiro. Não está, não. Não está fugindo do amor ou das pressões do relacionamento. Está tentando correr mais rápido do que a misteriosa força da vida-morte-vida. A psicologia diagnostica essa situação como ‘medo de intimidade, medo de envolvimento’. No entanto, esses são apenas os sintomas. A questão mais profunda é de descrença e desconfiança. Aqueles que fogem sempre temem viver de fato de acordo com os ciclos da natureza selvagem.”

Quinto: como diz a própria Clarissa, quem tem medo é o ego e não a alma. A alma já se encantou pelo parceiro. O ego vai eternamente achar que não está pronto, que sempre vai poder melhorar isso e aquilo outro. Ainda bem então que os verdadeiros encantamentos vêm da alma, e não do ego.

“Todos os ‘ainda não estou pronto’, todos os ‘preciso de tempo’ são compreensíveis por um curto período. A verdade é que não existe a sensação de se estar ‘completamente pronto’ ou de ser aquela a ‘hora certa’. Como acontece em qualquer mergulho no inconsciente, chega uma hora em que simplesmente estamos torcemos que dê certo, apertamos o nariz e saltamos no abismo. Se não fosse assim, não teríamos precisado criar as palavras herói, heroína e coragem.”

“Ser quisermos amar, não há como evitar esse aprendizado. O trabalho de abraçá-la é uma tarefa. Sem uma tarefa desafiadora, não pode haver transformação. Sem uma tarefa, não há uma satisfação verdadeira. Amar os prazeres é fácil. Já amar de verdade exige um herói que consiga controlar seu próprio medo.”

Conselho final: se você acha que é menos do que seu parceiro, vamos ler bastante Clarissa e restaurar nossa auto-estima! Se você percebeu agora que anda saindo correndo cada vez que cruza com o amor: fortaleça-se para o próximo! Já se você está num relacionamento “tipo primeiro emprego” como do meu amigo, veja bem o que é que sua alma quer. Se sua alma quiser se envolver com ele, simplesmente tome coragem e pule no abismo. Se não quiser, deixe-o ir procurar alguém que queira.


Lição do Dia: afastando esses pensamentos torturantes que são reflexos do meu medo. Anos depois eles ainda insistem, impressionante!

Pendências: finalmente conseguir mudar de convênio médico sem ter que cumprir uma nova carência. Viva a nova lei dos convênios!

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